quinta-feira, 25 de abril de 2013

Fora Lacerda - O movimento na rua e a importância das redes sociais



Em janeiro de 2010, contra o decreto da prefeitura (18.623) que suspendeu a autorização para a realização de eventos na Praça da Estação, surgia a Praia da Estação.

No blog do movimento encontra-se a seguinte descrição: 'A Praia é um movimento horizontal, sem lideranças, auto-organizado e sem porta-voz. É constituída por cada um dos banhistas que se junta a ela e por isso pode ser constituída um dia por 20 pessoas, e em outro, por 500. Nela cabem de movimentos políticos a blocos de carnaval. Lá encontram-se cadeiras de praia, guarda-sol, caixas de isopor e até farofa. O banho é garantido pelas fontes da praça e por um caminhão pipa contratado com a grana de uma vaquinha que rola na hora, entre os próprios banhistas.'

Pois foi na Praia da Estação que o Movimento Lacerda (MFL) começou a tomar forma. Em meados de 2011, o prefeito Márcio Lacerda, eleito em 2008, havia nomeado seu filho Thiago Lacerda para gestor do Comitê da Copa. O ato deu origem a um evento fictício no Facebook, 'o Impeachment do Márcio Lacerda', evento que contava com um número expressivo de confirmações. Victor Guimarães, Cris Lima e Carol Wojtyla resolveram convocar uma edição da Praia cujo tema seria a 'Prévia do Impeachment'.



O evento aconteceu em 2 de julho de 2011 e reuniu cerca de 40 pessoas, entre nomes envolvidos com a política e produção cultural da capital mineira, pessoas ligadas ao Comitê dos Atingidos Pela Copa e o pessoal das Brigadas Populares e da ocupação urbana Dandara.

O intuito inicial era discutir a nomeação do Thiago Lacerda, mas o debate entre os presentes trouxe novas informações sobre a administração da Prefeitura. O grupo ali reunido deu origem ao movimento Fora Lacerda. A partir de então foi criado um grupo de e-mails e a partir deste foram convocadas novas reuniões, tanto na Praia, quanto no Parque Municipal, Viaduto Santa Tereza, etc.

'A gente já nasceu dentro do Facebook. Como não temos espaço na mídia tradicional, nenhum jornalista quer publicar sobre o Fora Lacerda, nascemos num ambiente que ir pras mídias sociais era óbvio. Mas o principal ponto a se ressaltar é que não foi só uma brincadeira de Facebook, um ativismo de sofá. As insatisfações com a administração vêm desde que o prefeito assumiu. O movimento agrega os diversos pólos de insatisfações, de lutas que já existiam na cidade contra a prefeitura', explica Victor Guimarães.

Victor considera os eventos de rua fundamentais. Ele cita a Marcha Fora Lacerda, que ocorreu em 24 de setembro de 2011, como o grande marco do movimento. Na marcha reuniram-se mais de 2 mil pessoas, oriundas de vários lugares, classes, sindicatos, movimentos sociais, moradores de rua, etc. 'Foi a confirmação de que se tratava realmente de um desejo da cidade. O movimento acontece nas redes sociais, no e-mail, nas reuniões, na rua. Mas a rua é onde a gente tem energia pra continuar', conta.

O MFL conta com site, blog, Twitter e três páginas no Facebook: um perfil, uma comunidade e um grupo fechado. Neste trabalho, nos ateremos à análise da utilização do Facebook como ferramenta de mobilização social pelo movimento, iniciando a análise das estratégias utilizadas a partir do próximo relatório.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Produção Cultural - Coletivo Calcariu


Como previamente dito em nossa proposta, nosso trabalho está sendo desenvolvido em cima de visitas periódicas a empresas de produção cultural de Belo Horizonte e região. Estreitando um pouco mais o escopo do projeto, resolvemos focar em uma comparação em termos de rotina de produção e divisão de funções, entre um coletivo pequeno e duas produtoras gigantes da área. Nessa primeira quinzena, nos dedicamos a fazer os primeiros contatos com grandes empresas e tivemos a oportunidade de participar de um evento produzido por um Coletivo de Lagoa Santa-MG, e conhecer um pouco mais sobre a produção colaborativa.








Alguns integrantes do Coletivo Calcariu



Quanto às empresas maiores, conseguimos um ótimo contato com a produtora “Nó de Rosa”. No entanto, como estamos bem próximos a um grande evento que eles irão realizar na próxima semana, nos pediram para agendar a visita para após o dia 4 de maio. Quanto à outra produtora grande, a Malab, passamos a quinzena em busca de conseguir um contato concreto que pudesse facilitar a nossa conversa com eles. Finalmente, conseguimos uma resposta e estamos terminando de nos organizar para, então, agendar uma visita.

Já para a próxima semana, teremos um encontro com um profissional da área, hoje empregado da Casa da Música.


Produção colaborativa – Coletivo Calcariu 

Sobre o Coletivo: Foi criado por jovens artistas de Lagoa Santa – MG com o propósito de agitar a cena cultural da cidade. Com um orçamento baixo, logo nos primeiros meses de existência o Coletivo conseguiu realizar um festival de pequeno porte, na praça central de Lagoa Santa, marcando presença e mostrando a que veio. Em 2013, com mais de dois anos de estrada, o grupo vem crescendo cada vez mais e conseguindo produzir eventos estruturados para grandes públicos.





Divisão de tarefas:

O Coletivo Calcariu conta com dez membros fixos e recebe a ajuda de outros tantos amigos e artistas da cidade nos momentos de grande demanda. Nenhum membro é assalariado, todos fazem pela vontade de mudar a cultura local. Não existe hierarquia dentro do grupo, cada um é tão chefe ou tão colega quanto o outro. Tanto para eventos pequenos, como as Quintas Culturais (shows de artistas independentes em um bar da cidade), quanto para os de maior porte, como o Festival Mamute, todos fazem um pouco de tudo. A divisão das tarefas é dada em reuniões, e todos são responsáveis por parte da produção, da divulgação e do recolhimento de patrocínio.

Para a montagem da estrutura e parte técnica dos shows, o grupo conta com a ajuda da prefeitura municipal e de um dos parceiros do Coletivo que faz a montagem de palco, iluminação e som cobrando um valor simbólico.

O evento:

Antes do evento

No evento Lagoa Interativa, pudemos observar o ritmo de produção do grupo. Todos trabalham sem parar para conseguir apresentar um resultado legal, e como não são de todo profissionais, acabam enfrentando alguns problemas. No entanto, não houve nenhuma ocorrência grave e o evento foi considerado bem sucedido. Para o registro e cobertura, o Coletivo convidou alguns voluntários que colaboraram fotografando e postando nas redes sociais em tempo real o que acontecia ao longo do evento.

O Lagoa Interativa contou com uma exposição de lendas da cidade reescritas por crianças e adolescentes, prática de esportes radicais, como slackline e skate, uma mesa de discussão sobre a relação do cidadão com a lagoa e três apresentações. Os shows ficaram por conta do grupo de rap Crime Verbal, da banda Absinto Muito e do Favela Groove.


Considerações: 



A observação e participação em um evento organizado por um Coletivo foi de grande valia para nosso trabalho. Pudemos ver como se dá a produção dentro de uma lógica colaborativa, onde todo o trabalho é divido igualmente entre os membros, e onde se pode contar com ajuda por todos os lados, de pessoas interessadas realmente em contribuir por uma cena cultural mais interessante na cidade. Foi bacana também observar os contratempos, ver que eles existem tanto em grandes quanto em pequenos eventos e como se pode contorná-los sem muitos recursos financeiros.



MGTV PERFIL #1

por Adélia Oliveira, Cristiane Duarte, Marlon Henrique Souza, Melissa Neves e Victor Lambertucci
            

      Acompanhar as mudanças no perfil do público e, mais que isso, entender as preferências, necessidades e o que chama a atenção do expectador são desafios para qualquer meio de comunicação.  Na televisão, investir na interação com o telespectador, modernizar o cenário do programa, polir ou informalizar a linguagem dos apresentadores, falar de política ou amenidades são preocupações constantes. O MGTV se mostra como campo fértil para essa discussão.

     O MGTV é um telejornal local da Rede Globo de televisão, exibido em duas edições diárias, de segunda a sábado. A primeira edição vai ao ar a partir das 12 horas. O seu objetivo como produto jornalístico é repercutir as notícias de Minas Gerais, levando aos telespectadores as principais informações do estado. O programa faz parte do grupo classificado pela emissora como “Praça TV”, na definição do site da TV Globo: é o “Telejornal focado nas principais notícias locais e no jornalismo comunitário.”. Com a mesma proposta, outros telejornais locais como o SPTV, o RJTV e o NETV (Nordeste TV) atendem os demais estados e regiões do país.

Clique para ampliar

    Dois aspectos ressaltam a relevância desse produto na discussão proposta. O primeiro é o fato de o MGTV ser um jornal local, por isso a relação com a comunidade é mais estreita, de forma que um buraco obstruindo a via de acesso a um dos bairros da cidade tem valor notícia, ou seja, é um fato relevante para ser noticiado. Esse vínculo foi o ponto de partida, por exemplo, do “Você no MGTV”, e da novidade “Parceiros do MGTV”, quadros com a participação direta do público, tema que será apresentado e analisado no próximo post. O segundo ponto são os recentes ajustes feitos na linha editorial do telejornal, que passou dar mais espaço para notícias de amenidades, como receitas, moda, decoração, etc.


    Assistimos edições do MGTV 1ª edição (horário do almoço) da década passada a título de comparação (vídeos no fim do post). É claro que o espelho (conteúdo) de cada edição varia de acordo com uma série de fatores, mas a característica de um “jornal de hora do almoço” com a presença fiel – dentre outras – de reportagens amenas, como a casa invadida por micos em Belo Horizonte (edição de 2006), e entrevistas de estúdio sobre estresse, alimentação, ou ressaca (edição de 2001) são marcas desde os programas da última década aos atuais. Isso não quer dizer que o jornal deixa de lado a prestação de serviço ou as informações factuais e de maior peso, mas se preocupa em balancear os temas, pensando no horário de exibição, e claro, no perfil do telespectador.



 No próximo post, a apresentação e análise dos quadros de participação direta do público nos ajudarão a perceber a aproximação do MGTV com o telespectador. A seguir, estão os vídeos de algumas das edições citadas.


EDIÇÃO DE 2001



EDIÇÃO DE 2006



RELATÓRIO #1 – O programa "Bastidores" da Rádio Itatiaia

Nesse percurso do Projetos B1 o grupo decidiu por pesquisar um dos programas de esportes da Rádio Itatiaia, o Bastidores. Antes de analisarmos pessoalmente como se dá a produção desse programa decidimos por usar esse relatório como forma de contextualizar nosso assunto em questão e deixar nossas primeiras impressões depois de escutar mais de uma vez esse produto da Itatiaia.




Apresentado por João Vitor Xavier, o Bastidores vai ao ar as 20h de segunda à sexta e tem uma proposta bastante diferente de outros programas de esportes da rádio. Para traçar um panorama podemos comparar o Bastidores com a Turma do Bate-Bola.

A reflexão e um tempo maior para comentários, falas e opiniões é algo recorrente no Bastidores, enquanto que na Turma do Bate-Bola existe uma espécie de fórmula na qual o programa se encaixa. Essa fórmula seria o noticiário de cada um dos 3 clubes de BH, depois um bloco rápido para as notícias esportivas no Brasil e no mundo. Essa é uma fórmula digamos que recorrente nos programas esportivos da rádio e o Bastidores pode ser considerado uma exceção a essa regra.

O programa carrega esse nome justamente por ir além dos noticiários realizados pelos outros programas, uma vez que, além de dar a notícia do dia-a-dia dos clubes, é um espaço para que atletas, dirigentes e outros personagens (médicos, por exemplo) dos bastidores do mundo do esporte, exponham de forma dinâmica cada lado dos fatos. Assim também, demonstra interesse de transmitir informações das mais diversas dentro do universo esportivo, contextualizando as notícias mais recentes do esporte profissional, com dicas e alertas aos atletas amadores como, por exemplo, noticiar o índice de problemas graves relacionados ao uso de anabolizantes na cidade, entre outras dicas relacionadas à boa prática de esportes.

Outra característica observada no Bastidores, é a grande quantidade de inserções ao vivo no programa, o que possibilita acompanhar a cobertura de eventos esportivos que estão acontecendo durante a transmissão. Nessa primeira fase da pesquisa, foi possível acompanhar vários jogos da superliga de vôlei através dos links ao vivo durante a programação, com comentários e informações, não chegando a ser uma transmissão do jogo, mas sim pequenas inserções que apresentavam um panorama do evento. Outro fato nesse aspecto do programa, e que acontece de forma rotineira, é algo do tipo: está ocorrendo uma partida de futebol e no momento do gol de alguma equipe o apresentador interrompe um assunto para dizer "Olha gente, o Palmeiras acaba de sofrer um gol na Libertadores, o placar agora está Palmeiras 0x1 Tigre da Argentina".

Isso evidencia que os apresentadores têm uma grande liberdade para direcionar o que será falado em determinado momento, e que eles fazem o programa ‘ligados’ em muitos outros eventos esportivos que estão acontecendo naquele horário.

Nem todos os integrantes do grupo eram familiarizados com o produto estudado, e acreditamos que esse distanciamento foi produtivo para as discussões e para a construção da visão geral do programa apresentada acima. A partir desse conhecimento prévio adquirido é que pretendemos guiar a visita que faremos a radio.

TPM e Nova: As diferentes abordagens das revistas femininas



Histórico




A primeira publicação periódica voltada para o público feminino adulto datada em 1827 foi a revista Espelho Diamantino, editada no Rio de Janeiro. Em seu conteúdo, a revista abordava temas variados como literatura, política, arte e moda. Apesar do público-alvo feminino, a revista era escrita e editada por homens e circulou por apenas um ano. A próxima revista a surgir foi Espelho das Brasileiras (1831), e apresentava a mesma abordagem voltada para donas de casa. O Jornal das Senhoras (1852), que contava com mulheres na redação e foi a primeira publicação a exibir artigos de cunho feminista, o que veio a incomodar e causar indignação em muitos homens, considerando o papel submisso da mulher na época. Seguindo a linha de publicações feministas, a revista O Sexo Feminino foi a primeira a atingir um público mais amplo, chegando à marca de 800 assinaturas, em um período em que menos de 14% da população feminina era alfabetizada. As publicações passaram a apresentar uma visão crítica sobre o ócio feminino e a dominação masculina através do casamento. Através de artigos em revistas, muitas mulheres se manifestavam a favor do divórcio e protestavam por um maior espaço feminino no mercado de trabalho. 



Dadas as mudanças sociais e econômicas enfrentadas pelo Brasil, incluindo a urbanização do país após a década de 50, a alfabetização da população e o crescimento da classe média, a modernização ocorreu também na imprensa, que passou a contar com tiragens maiores e maior variedade de temas e abordagens, saindo do eixo "mulher-esposa-mãe". Foi nesta época que surgiram na Editora Abril revistas como a Capricho e Manequim, que estão em circulação até os dias de hoje. Atualmente, existem mais de trinta diferentes publicações voltadas ao público feminino com as mais diversas abordagens: algumas se restringem a temas como moda e culinária e outras são ainda mais segmentadas, voltando o seu público a noivas ou a mulheres que exercem a costura como hobby ou profissão. Dentre as várias revistas voltadas ao público feminino disponíveis no mercado brasileiro, o estudo se limita a duas destas publicações com o intuito de traçar paralelos entre as semelhanças e diferenças nas abordagens das revistas NOVA e TPM. 



Suprindo uma demanda do mercado, a editora Abril lançou em 1973 a revista NOVA. A publicação faz parte da rede Cosmopolitan, que tem quarenta e sete edições ao redor do mundo, em vinte  e três idiomas. A Cosmopolitan foi inventada em 1962, quando Helen Gurley Brown, que tinha escrito um livro chamado “Sex and the Single Girl” - o sexo e a solteira -, propôs o modelo de revista para um editor. Foi a primeira revista a tratar a mulher como indivíduo, abordando suas preocupações e interesses. Na época do lançamento da Nova, a editora fez uma pesquisa que identificou uma maior aceitação de nomes em português, o que levou à escolha do “NOVA”. A revista também foi pioneira por aqui, e foi a primeira no Brasil a abordar temas polêmicos como sexo, relacionamentos e vida profissional. 

De acordo com o site da editora Abril, atualmente a proposta da revista gira em torno da ideia de incentivar e orientar a mulher na busca pela independência profissional e pessoal. As publicações são mensais, e a tiragem é de 228.430 exemplares. Metade das leitoras estão entre os 25 e 44 anos, e 49% estão na classe B. Além disso, 67% dos leitores se concentram na região sudeste do Brasil.  O sexo continua sendo um assunto recorrente na revista. Em 2012, todas as capas trouxeram a temática sexual em destaque, com chamadas como "feliz sexo novo", "sexo lacrado" e "o sexo vai ser bom?". 

Alguns dos temas abordados pela revista são: Amor e sexo; beleza e saúde; moda e estilo; vida e trabalho. Uma das colunas é chamada "Como lidar, Felipe?" na qual o repórter Felipe van Deursen dá a opinião masculina sobre questões femininas. Na sessão "Consulta Íntima", uma ginecologista tira dúvidas das leitoras. Outras sessões dão dicas de moda, como a "Peça-Chave". Quando comparamos a estrutura e os assuntos da Nova/Cosmopolitan entre a década de 1970 e a atual, pouco mudou, mas certamente, o contexto social não é o mesmo. Portanto, atualmente Nova não tem mais o caráter libertário que tinha no passado e chega a reproduzir padrões de submissão ao homem.



Em 1986 a Revista Trip fazia sua estreia no mercado editorial brasileiro, e apesar do conteúdo da revista ser essencialmente masculino, muitas mulheres se interessavam pelas matérias veiculadas pela publicação. Em maio de 2000 foi publicada a primeira edição da Trip para Mulheres, que surgia como uma "proposta inovadora"  frente as demais revistas voltadas ao público feminino. Esta proposta diferenciada não constitui em abandonar assuntos abordados em tantas outras revistas femininas, como moda e sexo, mas de tentar construir matérias livres de tabus sem grandes receios de adentrar em polêmicas como o aborto, legalização de drogas e relacionamentos abertos. 

"[…] enquanto as outras revistas propõem um modelo padrão, o qual pode ser seguido por um número ilmitado de mulheres que desejam obter algum tipo de sucesso, a TPM estimula as leitoras a terem valores bem parecidos com os encorajados pelas outras revistas, mas sugere que elas ajam à sua maneira, ressaltando o seu estilo, a sua personalidade." (HOLLEMBACH, 2003)

 A ruputura com o formato tradicional - tanto jornalístico tanto da imprensa feminina - acontece na TPM a partir de textos pessoais, diferentes da objetividade narrativa tão almejada pelo jornalismo tradicional, e que em vários momentos, não buscam a parcialidade. Em diversos artigos da TPM - destacando aqui a matéria Descrimine Já, que defende a legalização do aborto no Brasil e foi vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo em 2005 -, as repórteres expõem seus posicionamentos a respeito de diversos assuntos. 

Com a atual redação composta apenas por mulheres - exceto pelo editor Paulo Lima -, além de matérias de beleza e decoração, a revista sempre publica perfis e ensaios com personagens - encaixa-se aqui tanto anônimos quanto famosos - e se destaca por tratar o convidado como amigo, aproximando-o da repórter e também da leitora. Há um apelo grande de humanização dos convidados. As "páginas vermelhas", que remete às famosas "páginas amarelas" da Revista VEJA,  são reservadas entrevistas com personalidades importantes e polêmicas que geralmente possuem relação com a reportagem de capa. Um aspecto interessante da TPM é a publicação online e na íntegra de todas as matérias veiculadas na edição física no mesmo dia em que a revista impressa chega às bancas. 

Produção de revistas - Encontro e Viver Brasil









Na segunda semana de abril entramos em contato com as revistas Viver Brasil e Encontro, com o objetivo de agendar uma visita às respectivas redações. Ao contrário do que esperávamos, ambas marcaram o encontro para a semana seguinte, alegando que estariam com mais tempo disponível, e que nas próximas semanas não poderiam nos conceder muita atenção, fato que nos fez antecipar a programação que havíamos planejado para o projeto.


Visita à revista Viver Brasil: fomos, no dia 17/04/2013, na revista Viver Brasil com escritório situado no shopping Serena Mall, na saída para Nova Lima. O local é de difícil acesso, assim como o escritório da revista Encontro, e só conseguimos chegar a tempo, porque fomos de carro.

Fomos recebidos pela Maria Eugenia, chefe de redação, que nos abordou sobre o que queríamos saber. Após explicar o que é o Projeto BI e qual a nossa intenção, ela nos apresentou a redação, uma sala grande, bem clean, com aproximadamente 10 pessoas em seus computadores. O escritório transmite uma ostentação incômoda com suas paredes brancas e paredes de corredor cheias de obras de arte. Apesar da beleza do lugar, ele parecia engessado.


Depois dessa primeira impressão, fomos levados na sala de edição gráfica, uma sala bem pequena onde os três profissionais que cuidam da parte gráfica ficam. Nesse momento, fomos informados como funciona a diagramação da revista, quais são os elementos gráficos principais e também tivemos acesso às diversas edições da revista, incluindo as especiais. A equipe de arte foi muito solícita e tirou todas as nossa dúvidas.


Por fim, Maria Eugenia nos levou a uma das salas de reunião e pudemos conversar sobre como a revista funciona, ou seja, como são as reuniões de pauta, a periodicidade delas, como é o desenvolvimento das matérias a partir da elaboração da pauta, entre outras questões


Visita à revista Encontro: fomos, no dia 16/04/203, na revista Encontro, situada (teoricamente) na rua Haiti, 176, 3ºandar, no bairro Sion. Após muita confusão relativa ao endereço, Neide Magalhães, uma das duas editoras-chefes, nos recebeu no horário combinado. De cara, ela perguntou sobre nosso curso, o período que cursávamos e o interese na revista (o que desejávamos saber e com quem queríamos conversar).


Após falarmos para Neide o que pretendíamos com nosso projeto, ela começou a apresentar a revista. Durante uns cinco minutos ela não nos deu muitas brechas para perguntas e disse que estava esperando uma sala de reuniões vagar para que pudéssemos conversar mais à vontade. Quando tivemos a disponibilidade de usar a sala, ficamos aproximadamente cinquenta minutos nela, fazendo perguntas e ouvindo o que a editora tinha a dizer. Logo depois, ficamos mais 15 minutos em conversa com Edmundo Serra, Editor de arte e principal responsável pelo atual projeto gráfico da revista. Edmundo nos disse como a revista pensa a sua identidade e quais elementos são elencados graficamente (cores, tipografia, infografia, etc).


As visitas a ambas revistas tiveram semelhanças. A dificuldade de acesso é comum às duas, uma vez que o escritório da Encontro localiza-se numa rua de números fora de ordem e o da Viver Brasil é em Nova Lima. Com relação ao contato com as revistas, não houve muita dificuldade, uma vez que fomos atendidos muito solicitamente pelo telefone nos dois casos.
No geral, a experiência das visitas foi proveitosa e esclarecedora. Foi interessante conhecer as redações e ver como todos os elementos de redação e arte se juntam para formar um veículo real, que nos é distribuído.

Para o próximo relatório, buscaremos desenvolver nossas percepções acerca do projeto editorial de ambas e tentar uma análise crítica comparativa.




Impressões

Nathália Alcântara: Ao chegar lá (Viver Brasil) senti aquela vergonha inicial, aquela falta de jeito. Eu e o grupo tivemos uma ótima conversa com a equipe de arte, vimos edições antigas, inclusive edições especiais como a Fashion (revista de moda), e conhecemos um pouco mais do processo criativo. Definitivamente foi a melhor parte da visita, descontraida. A sala da redação mesmo era bem mais “sem graça”. Pessoalmente achei o ritmo de produção muito mais tranquilo do que eu imaginava: os repórteres tem cerca de 15 dias para fazer sua matéria, e se ela cair durante o processo outra está na “gaveta”. Imaginei que teria mais interesse em trabalhar nesse tipo de empresa, mas talvez pelo perfil da revista (mais light, muito focada em Minas Gerais e com pouquíssimas hard News) meu interesse não foi muito grande.


Ana Luiza Pio: Minha primeira impressão da revista (Encontro) foi de que ela parece ser fechada e muito sensível com relação à sua história e conexão com o dono da Viver Brasil. A editora diz que a publicação se define bem quanto à linha editorial, mas as matérias abordadas abrangem tamanha diversidade de assuntos que é difícil reconhecer a forma com que foram agrupadas.

Já o escritório da Viver Brasil não me pareceu nem um pouco prático ou acomodante. Não tive a impressão de haver naquele espaço maleabilidade alguma, seja decorativa ou de escrita. De periodicidade quinzenal, confere menor prazo à redação, aí se diferenciando da Encontro. Em compensação, o volume de matérias é menor e parece ser mais bem definido, apesar da afirmação da Encontro de que sua linha editorial definidíssima a diferencia da concorrência.


Apesar da percepção do processo produtivo, tenho que dizer que nenhuma das revistas me pareceu uma oportunidade profissional atrativa. O estilo de jornalismo desenvolvido por elas é algo muito menos próximo da prática que imagino pra mim, pautada na produção de boas matérias de assuntos realmente relevantes. Ou talvez o que tenha me desinteressado seja o estilo “coluna social” que ambas as revistas desenvolvem


Pedro Lucchesi: Gostei da experiência de visitar a redação das revista e escutar como que quem faz a revista no dia a dia da redação pensa sobre seu produto e trabalho. Conhecer a sede física das redações, a meu ver foi também entender um pouco mais sobre as publicações. Quando a editora-chefe da Encontro diz que o diferencial da revista é ter um projeto editorial bem definido, fiquei confuso, afinal quando li a revista, a única coisa que entendi é que ela não é factual e que Minas Gerais e, especialmente Belo Horizonte, são a oitava maravilha do mundo.

A chefe de redação da Viver Brasil disse que sua revista se diferencia da Encontro, por ter um pouco mais de conteúdo factual, o que é permitido, entre outros fatores, por ser distribuída quinzenalmente. Essa foi uma questão que realmente diferencia as revistas, mas esse conteúdo factual da Viver Brasil, é pensado, a meu ver, principalmente para o que o público da revista quer ler, ao invés de escutar as diferentes vozes que permeiam um assunto.

Críticas a parte, fomos muito bem recebidos e não ficamos sem resposta para nossas perguntas.

















O futebol nos bares #1

por Eduarda Rodrigues
José Henrique Pires
Leonardo Vieria
Lucas Afonso Sepulveda




Dia 14 de Abril, às 16h
Jogo de Altético Mineiro x Caldense [M]
no Bar e Boi, da Avenida Fleming [PAMPULHA]

Estavam presentes José Henrique, Lucas Afonso Sepulveda e Eduarda Rodrigues.

Eram três televisões dispersas no bar cheio, porém não lotado. O BAR E BOI não aparentou ser frequentado por um público que deseja ver os jogos, embora haja um telão no local. Conforme foi dando o horário do jogo (16h), o lugar esvaziou consideravelmente. Poucos estavam vestidos com uniformes do Atlético, mas nem mesmo esses demonstravam muito interesse na transmissão da partida, assim como os clientes que chegaram e saíram durante a exibição do jogo.

Pôde-se observar que em apenas três das cerca de vinte mesas haviam clientes interessados no jogo. O restante da clientela, que somavam uns dez, não mantinham muita atenção na partida, raramente olhando para o televisor. Eles não demonstraram nenhuma reação mais explícita ao jogo, principalmente durante o gol do Atlético, quando se ouviu poucas palmas de mesas próximas ao monitor.

Havia uma placa no estabelecimento que sinalizava que ali eram transmitidos os jogos da Libertadores, além de um telão do lado de fora. O bar, portanto, não é uma referência para o Campeonato Mineiro.


Dia 16 de Abril, às 19h30
Jogo de Cruzeiro x Nacional de Nova Serrana [M]
na Churrascaria e Pizzaria da Praça, na Praça Raul Soares [CENTRO]

Estavam presentes Eduarda Rodrigues, José Henrique e Leonardo Vieira.

O jogo foi em um dia da semana totalmente atípico: terça-feira. Em um horário também bastante incomum: às 19h30, justamente no período de maior tráfego, dificultando nosso deslocamento para a região central. A churrascaria fica localizada em um ponto de concentração homossexual belo-horizontino e o bar é conhecido por seu público diversificado.

Consideramos a possibilidade de que os torcedores nos bares pudesse estar em número reduzido no dia, já que a partida acontecia no Mineirão e alguma parte dos frequentadores pode ter optado por assistir ao jogo no próprio estádio.

Quando o grupo todo finalmente se reuniu, o jogo já havia começado a cerca de vinte minutos, tempo suficiente para o Cruzeiro abrir o placar e marcar três vezes. O número de telespectadores não passava de trinta, a maioria bem mais interessado na cerveja ou nos petiscos, uma vez que o time mineiro estava ganhando com uma boa diferença.

Dois grandes televisores transmitiam a partida pelo canal pago Premiere FC. O jogo se encerrou de maneira calma e sem muita alteração dos torcedores presentes, que comemoravam de maneira bem discreta o resultado que manteve o Cruzeiro líder do Campeonato Mineiro. Os garçons, inclusive, pareciam conhecer algum dos frequentadores que estavam ali e se sentiam a vontade para comentar o resultado do jogo.


Dia 16 de Abril, às 19h30
Jogo de Cruzeiro x Nacional de Nova Serrana [M]
no Rococó Lanchonete, da Avenida Getúlio Vargas [SAVASSI]

Lucas Afonso Sepulveda estava presente.

Das quinze mesas que haviam na calçada do Rococó, no máximo seis ou sete estavam ocupadas, e nunca por mais que duas pessoas. Eu sento e peço o cardápio. A televisão é grande e está virada para os clientes, de um jeito que todos conseguem assistir ao jogo sem ninguém ficar na frente de ninguém. A transmissão é do canal Premiere FC, em alta definição, mas isso não parece ser muito relevante pras sete pessoas que decidiram ficar sentadas ali e consumirem, pelo menos, uma cerveja.

Três homens estão na minha frente, cada um em sua própria mesa, todos próximos um ao outro. Um deles se identifica como o dono do bar. Eles discutem em voz alta sobre o futuro do Campeonato Mineiro, momentaneamente interrompendo a conversa para ver se o Cruzeiro vai ou não vai fazer o gol. Um casal idoso assiste ao jogo silenciosamente a minha direita, enquanto um homem, com roupa do trabalho, assiste ao jogo a minha esquerda, também sem participar da conversa ali.

Do início ao fim do segundo tempo, o trio deve ter consumido de cinco a sete garrafas de Brahmas. Essa média de uma garrafa e meia por pessoa a cada tempo de jogo parece ser válida para as outras pessoas sentadas no bar. Fora a clientela, uns cinco indivíduos pararam pelo bar e permaneceram em pé para assistir ao jogo. Dois deles decidem sentar nas mesas mais distantes da TV, sem consumir nenhuma bebida, mas o dono do bar parece não dar importância. Já os garçons dividem sua atenção entre a partida e os pedidos.

Em comparação aos outros bares da Savassi que estão transmitindo o jogo do Cruzeiro, o Rococó está praticamente vazio. No entanto, a conversa dos três homens possibilita os demais clientes a ter uma experiência expandida da transmissão do jogo de futebol na tela. Os que estão sozinhos na mesa, os passageiros e os casais sentados ali estão recebendo não só o conteúdo transmitido no monitor, mas a análise, a opinião e o discurso daqueles três desconhecidos que acabaram como comentaristas de futebol de bar.

RELATÓRIO #1 - Primeiras impressões de "Ah! Cidade"



O formato do site Ah!Cidade é bastante atual e sua navegação é intuitiva. Os posts exibidos na página inicial são os considerados destaques, e estão organizados cronologicamente por data de postagem, ou seja, o mais novo no topo. Outras postagens estão divididas entre onze categorias (tirinhas, arte, coluna de domingo, crítica, crônica, cultura, editorial, ideias, lugares, política e sociedade).



Uma coluna na parte direita da página indica outras informações, como as últimas matérias, as mais lidas, uma opção para a visualização randômica de postagens, os últimos comentários enviados, e alguns links úteis, como rss (ou feed), e páginas do site no twitter, orkut e facebook.
Na abertura de um texto, percebemos uma pequena mudança na página. Agora, existe também uma coluna na esquerda, que informa as tags da postagem, os posts relacionados, e links para compartilhamento em diversas redes sociais.
Os últimos comentários do site foram enviados no post de 8 de julho de 2012, intitulado “Como Aécio Neves lançou Patrus à prefeitura”. O texto, de caráter político, instiga a discussão, que é realizada em seus três comentários. A partir dessa análise, percebemos que as postagens na categoria Política têm o maior número de comentários. Esses comentários, assim como os textos, sempre indicam apoio a movimentos como Fora Lacerda e Praia da Estação, o que pode levar, em uma próxima análise, ao contexto em que os autores e visitantes do site vivem.




Ao nosso ver, os autores dos textos publicados no site parecem determinados a desvendar partes da cidade que são, às vezes, pouco divulgadas, e expô-las ao público. Com o conhecimento de seu público, eles sabem como falar o que precisam. Por sua vez, os visitantes parecem interessados nos assuntos pontuados pelos autores, e principalmente abertos à discussão.


A seguir, o teaser do portal:

segunda-feira, 22 de abril de 2013

RELATÓRIO #1– Títulos do Portal R7 – Destaques e Mais Lidas



            De acordo com Jorge Pedro Sousa na obra “Elementos de Jornalismo Impresso”, o exercício do jornalismo deve atender a uma gama de exigências pragmáticas e objetivas: “Exige elevados conhecimentos e uma boa cultura geral. Exige atenção à actualidade, domínio dos assuntos e discernimento para distinguir o essencial do acessório. (...)Exige capacidade de obtenção de informação credível, em documentos, junto de fontes de informação, na Internet.” (p. 36). Publicados em 2001, os elementos exibidos por Sousa apontam para um distanciamento entre o formato da apuração e estruturação do conteúdo e enquadramentos do texto vinculado à mídia impressa com aquele existente no universo online.

            Nesse sentido, ao analisarmos a dinâmica e a estruturação do objeto da nossa pesquisa - comparações entre os “Destaques” e as matérias “Mais lidas” do Portal R7 – constatamos que os principais valores notícias e critérios de noticiabilidade empregados pelo portal não correspondem às exigências salientadas por Sousa. Embasadas em torno dos critérios da imprevisibilidade e da negatividade, a linha editorial do Portal sustenta-se, principalmente, na abordagem do espetáculo, do grotesco e da esfera privada de celebridades.  Esses elementos são formatados em notas e breves notícias nas quais há preferência pelo uso da imagem e por hiperlinks, cuja construção de sentido distancia-se da necessidade de se explorar elementos da atualidade com cautela e prezando-se pela apuração cautelosa proposta pelo Manual de Sousa. Utilizando-se de títulos nos quais há o desejo de se atrair o leitor rapidamente pelo campo da sensação e do inusitado, o portal apresenta, ainda, algumas disjunções entre o assunto apresentado na chamada e aquele realmente trabalho pelo texto da matéria.

            Um dos episódios graves dessa diferença pode ser exemplificado com um dos “Destaques” apontados pelo portal no dia 19 de abril (sexta-feira) às 10h da manhã: “Menino com distrofia muscular realiza sonho de brincar fora da cadeira de rodas. Veja as imagens”. Situado no subsetor “Saúde” do portal, o título era acompanhado do índice “Comovente” e abria o seguinte texto: “O fotógrafo MatejPelijhan conseguiu transformar em realidade os sonhos de Luka, um garotinho de 12 anos que sofre de distrofia muscular- uma doença degenerativa irreversível que enfraquece os músculos e priva o menino de correr, pular e andar”. Ao se analisar os termos “realiza sonho” e “conseguiu transformar em realidade os sonhos de Luka” – referentes, respectivamente, ao título e ao texto da matéria -, é possível pensar em alguma ação promovida pelo fotógrafo em prol da recuperação da saúde e da força física do garoto em prol da recuperação do domínio dos seus membros e a consequente possibilidade de realização de movimentos e atividades físicas. Não obstante, ao se observar as imagens – veja abaixo -, percebe-se que o fotógrafo realizou um ensaio fotográfico cujos ângulos promoveram a simulação de situações nas quais o garoto aparentava estar participando de brincadeiras e situações nas quais é necessária a presença de músculos e membros saudáveis. Dessa maneira, ao optar pelo emprego do valor notícia principal de “dramatização”, o portal exerceu o trabalho jornalístico de forma superficial e apelando para a comoção do leitor. 



Outro exemplo no qual o título pode levar à outa interpretação que não aquela explicitada no texto da matéria, é esse encontrado também no campo de “Destaques” na tarde do dia 18 de abril (quinta-feira), às 15h35: “Acusada de abusar de aluna de sete anos, professora diz que não gosta de negras”. A afirmação de que a professora não gosta de negras e a relação com o abuso de uma aluna pode levar o leitor a interpretar que ao ser acusada de racismo, em um abuso moral, a professora se provou culpada com sua declaração. Ao passo em que a matéria expõe: “A professora de uma escola de Humble, no Texas, Estados Unidos, fez uma forte declaração para se defender de uma acusação de abuso sexual de uma aluna. Esther Irene Stokes, de 61 anos, disse que não poderia ter tocado as partes íntimas de uma garota de sete anos cuja mãe alega ter sido abusada na classe porque não gosta de alunos negros”. Foi feita a escolha de privilegiar o valor-notícia de “polêmica”, ao trazer um escândalo no subsetor “Educação” do site. Ainda podemos perceber que em nenhum momento a chamada faz alusão ao fato ter ocorrido nos Estados Unidos. O leitor pode se atrair à notícia pensando que esse é mais um dos inúmeros casos recentes de abusos (seja sexual ou moral, e por parte de professores ou alunos) em instituições de ensino brasileiras.

            No campo das “Mais lidas”, encontraram-se algumas construções cujos títulos sugeriram algumas relações causais inexistentes. Na manhã de 14 de abril (domingo), por exemplo, a redação do título da notícia “Fora do jogo do São Paulo, Ganso detona operadora de TV”, sugere algum nexo existente entre a ausência do jogador Ganso do jogo do time São Paulo e a contenda com a empresa prestadora de serviços. Contudo, o texto da matéria focou-se menos na situação ocupada pelo jogador durante a disputa futebolística que a verberação contrária à empresa telefônica verbalizada via Twitter. Destaca-se, por exemplo, o seguinte excerto da matéria: “Poupado do jogo contra o XV de Piracicaba neste sábado (13), pelo Paulistão, para estar 100 % no duelo contra o Atlético–MG, pela Libertadores, o meia Paulo Henrique Ganso tentou assistir os seus companheiros no conforto do lar, pela TV, mas não conseguiu. Uma falha na transmissão da operadora NET impediu Ganso de torcer pelo Tricolor do Murumbi, e o meia detonou a empresa através das redes sociais. ‘Obrigado a Net por me deixar sem assistir ao jogo do São Paulo. 1h no telefone e só escuto um momento por favor e desligam a chamada”. Assim, conquanto tenham trabalhado com o valor de notícia “personalização” e privilegiado a abordagem de um episódio da esfera privada do jogador Ganso, o portal R7 utilizou-se de um elemento de sua vida pública e profissional – a atuação no time São Paulo – como elemento principal para atrair os leitores para a notícia. Nesse sentido, considerando-se o dia, a hora e o setor em que a notícia foi publicada – domingo pela manhã, futebol – é possível pensar que grande parte dos leitores tenha lido o texto buscando informações sobre o jogador e o seu time, e não para apreender aspectos de sua vida pessoal.

 


            No dia 20 de abril (sábado), às 11h da manhã, há outra matéria da seção de Esportes entre as “Mais lidas”. Seu título é “Apressado, Verdão desembarca sob pedido de ‘atropelamento’ a Tijuana”. A presença das palavras “apressado” e “atropelamento” na mesma frase pode levar à interpretação de que o Verdão esteve envolvido em alguma situação no trânsito, ou até mesmo em uma pista de pouso, já que a palavra “desembarca” indica um cenário aéreo. O texto da matéria aponta que “A passagem do Palmeiras pelo aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na noite desta sexta-feira foi rápida, mas suficiente para ouvir dos poucos torcedores presentes um pedido que demonstra até confiança no time para a sequência na Libertadores. Logo depois de conceder entrevistas, Gilson Kleina ouviu um grito de um palmeirense, que pediu: ‘Vamos atropelar esse Tijuana, hein, Kleina!’. O técnico prosseguiu tranquilamente entre seguranças sua caminhada até o ônibus, ciente de sua missão nas oitavas de final no principal torneio das Américas.” Para compreender o real significado proposto no título, era preciso que o leitor soubesse que “Verdão” era referência ao time do Palmeiras, que “Tijuana” era um time adversário que o Palmeiras enfrentaria em algum torneio e que “atropelar” é um jargão futebolístico que indica “vencer, passando por cima do adversário”. A matéria ainda discorre sobre a relação do técnico do Palmeiras com os torcedores e sobre uma confusão ocorrida em um desembarque anterior da delegação palmeirense. O “atropelamento” foi uma forma encontrada pelo redator para costurar os dois assuntos, mas não é esse o foco da notícia. Ainda assim, essa informação é privilegiada na chamada, reforçando o valor-notícia de entretenimento e curiosidade. 




 

Durante a análise dos títulos e textos das matérias do R7, percebemos que as sessões “Fotos” e “Moda e Beleza” eram aquelas em que as disjunções entre os conteúdos daqueles e desses eram mais tênues. Nesse sentido, na noite do dia 16 de abril (terça-feira), destacou-se a matéria “Você nem imaginava, mas elas têm o corpão sarado! Veja as famosas que escondem belas curvas”. Pertencente à sessão “Fotos” - parte integrante do conteúdo de entretenimento do portal -, a notícia ocupava, simultaneamente, o campo dos “Destaques” e das “Mais lidas”. O texto trazia fotos de diversas celebridades, como Adriana Esteves e Patrícia Poeta, acompanhadas de legendas cujo conteúdo apresenta estritamente comentários acerca da forma física dessas famosas. Destaca-se, por exemplo, uma foto de Adriana Esteves, cujo texto “Aos 43 anos, Adriana Esteves está magrinha e como tudo no lugar. Olha só a barriga chapada dela” corresponde à proposta levantada pelo título. Marcada principalmente pelos valores-notíciada visualidade e da personalização, esse tipo de construção é recorrente no Portal R7 e foi empregada, de forma semelhante, em uma das notícias “Mais lidas” do dia 14 de abril (domingo), pela amanhã.  Pertencente à sessão “Moda e Beleza”, a notícia “Isis Valverde radicaliza e exibe cabelo curtíssimo” empregou como recurso o uso de algumas imagens do novo visual da atriz global e apresentou somente uma informação não explícita no título: “A atriz também mudou a cor das madeixas”. Em ambos os casos, é possível afirmar que o emprego de imagens que comprovam aquilo expresso pelo portal atua como instrumentos verossímeis que arrefecem alterações no título e no conteúdo das matérias.




            Não obstante, o uso da exploração imagética pelo portal R7 resultou, também, na redação de noticias superficiais marcadaspor uma apuração rasa e carentes de problematização. No dia 19 de abril (sexta-feira), pela manhã, a notícia “Entenda por que as famosas mudam de comportamento após pousarem nuas”, era um dos “Destaques” apresentados pelo portal e construiu-se com alto grau de disjunção em relação ao título. Nesse sentido, o conteúdo da matéria era formado por algumas fotos de celebridades na época que participaram dos ensaios para revistas masculinas e fotos de momentos posteriores. Marcado pelos valores-notícias principais da “visualidade” e “personalização”, o texto estruturou-se, muitas vezes, em comentários a respeito da aparência das celebridades e não, necessariamente, sobre o seu comportamento. No caso de Bárbara Evans, por exemplo, a notícia discorre: “Bárbara Evans foi lançada à fama após pousar nua, mas mudou seu corpo completamente depois do ensaio. A psicóloga Marisa explica que muitos sentimentos negativos podem surgir após uma grande exposição acompanhada de críticas”. Assim, não há abordagem sobre aspectos temperamentais que poderia ter sido alterados como consequência do ensaio para a mídia – temor de exibição pública, desenvolvimento de distúrbios alimentares, indícios de depressão, entre outros-, apenas aspectos da mudança da aparência dessas mulheres.


            Na tarde do dia 19 de abril (sexta-feira), às 17, a matéria “Galã vai ganhar indenização de R$ 160 mil” ocupava o primeiro lugar no campo de “Mais Lidas”. É comum observarmos a utilização de descrições como “galã”, “pivô da separação”, “musa”, entre outras, para substituir o nome de alguma celebridade. Nesse caso, a personalidade em questão era Fábio Assunção, que receberia a indenização por conta da invasão de uma fotógrafa em seu casamento. É possível identificar quem é o galã por conta do recurso imagético empregado, uma foto do ator. Mas em uma seção de celebridades, poderia se imaginar que seria válido utilizar o nome da personalidade diretamente no título, já que se trata de alguém conhecido. A opção de utilizar descrições genéricas pode ser explicada pelo fato do redator tentar atiçar a curiosidade do leitor para saber a qual “galã”, “musa”, “herdeira”, o título remete. A matéria em si condiz com o título escolhido, e traz apenas informações sobre a indenização, sem levar a nenhum outro assunto, tendo como principal valor-notícia o “entretenimento”.

 
Às 8h20 da manhã do dia 22 de abril (segunda-feira), o campo de “Destaques” trazia mais uma notícia da editoria de Entretenimento com foco em celebridades. Seu título é “Cantor Zezé de Camargo fala sobre ter desafinado ao vivo na televisão”. Esse é um dos casos no qual a chamada mais condiz com o texto da matéria, visto que ela discorre sobre como o cantor reagiu às críticas por ter desafinado em uma apresentação ao vivo. Nesse caso, o cantor já é discriminado na chamada, atraindo especificamente os leitores que querem saber mais sobre a vida dele ou sobre aquela situação específica, e não leitores curiosos para saber qual foi o cantor que desafinou ao vivo. Apesar de observarmos com frequência em diversos veículos o uso de sensacionalismo em chamadas envolvendo celebridades, nessa seção do R7, as matérias que se propunham a explorar um fato pontual e específico foram aquelas que apresentaram títulos mais claros e fieis ao conteúdo presente no texto.

Por Laís Ferreira e Amanda Almeida