terça-feira, 14 de maio de 2013

RELATÓRIO #2 – A produção do "Bastidores"


Na quinta-feira (09/05) fizemos uma visita à radio Itatiaia. Tivemos a oportunidade de assistir ao vivo o programa Bastidores de dentro do estúdio. Antes do início da transmissão, fomos recebidos pelo Sr. Carlos Sevidanes, produtor do programa Bastidores, com quem tivemos uma breve conversa. Em poucos minutos, Sevidanes nos relatou alguns pontos sobre a rotina do programa. Alguns pontos chaves da conversa serviram para esclarecer algumas dúvidas, como por exemplo a composição da pauta. Como todo programa jornalístico, o que será apresentado durante o programa é planejado antes. Planejam matéria e convidados, porém diferente de muitas atrações midiáticas, não há nada escrito nem plenamente definido. E esse planejamento não impede que o programa mude totalmente de direção, possibilitando reconfigurações se algo extraordinário ocorrer. A equipe do programa ,apresentador, comentarista e produção se reúnem meia hora antes do início do programa, para definir os rumos da edição do dia.
Grupo no estúdio do programa com o comentarista Cadu Doné (primeiro à esquerda) e  o apresentador João Vitor Xavier (centro)
Claro que a conversa não foi assim tão fácil , com ele (Sevidanes) já respondendo tudo que queríamos saber de cara, mas isso acabou sendo muito bom para o andamento de nosso trabalho, pois antes de termos respondidas algumas de nossas questões, recebemos algumas dicas jornalísticas do tipo: "jornalista esportivo não têm time”, além de ouvirmos alguns comentários em torno de ética e proatividade na profissão e afins. Um que chamou nossa atenção foi o caso em que Sevidanes, presente no treino do Villa Nova em véspera de decisão do Mineiro de 97, presenciou uma briga entre jogadores. O técnico do Villa o implorou para que ele não noticiasse, mas Sevidanes afirmou que havia visto aquilo e que seu dever era dar a notícia.

No decorrer da conversa, Sevidanes fez questão de deixar claro o que já havíamos comentado no post anterior. Ele disse que “o formato do programa é diferente do outros programas”. Comentou também que o programa Bastidores (20hr) que acontece depois do programa Turma do Bate Bola (18hr), funciona muitas vezes  como uma continuação da notícia ,tratando um mesmo tema anteriormente noticiado de forma mais detalhada.

Já no estúdio com o programa no ar, conseguimos presenciar os esforços da produção em apurar um fato muito importante para o futebol mineiro. Paulo Schettino, ex-presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF) havia acabado de ser deposto do cargo, um fato que ocorreu nos bastidores do esporte e têm grande influência nos acontecimentos do campeonato mineiro, que teria seu primeiro jogo da final em menos de 3 dias.

Sevidanes e a equipe de produção tentavam de diversas maneiras o contato com o Schettino a fim de colocar a palavra do presidente da FMF ao vivo no programa. O objetivo era dar palavra as duas partes, o presidente deposto e o responsável por essa deposição. Porém isso não foi possível, e o programa prosseguiu e tomou outro rumo, após ter noticiado esse fato e entrevistar o advogado responsável pela deposição de Schettino.

Após nossas impressões in loco e a conversa com o produtor do programa foi possível concluir então que a produção do Bastidores é importante mas que é para quem está acostumado com o "hard news". Esse programa que presenciamos é o exemplo claro disso pois um fato ocorrido 2 horas antes do início do programa teve grande importância em seu noticiário pois se tratava de algo relevante. Isso significa que o Bastidores tenta delimitar uma linha a se seguir antes do programa, porém se algo relevante acontecer a prioridade é a notícia.


Relatório #2 – As origens do Ah! Cidade



 Seguindo o cronograma estabelecido para esse projeto de pesquisa, o segundo relatório trataria das primeiras conversas com a equipe idealizadora do portal. Conseguimos, de fato, entrar em contato com essas pessoas (o que resultou em algumas informações), mas não ocorreu ainda nenhum encontro efetivo.
Conversamos com Fabrício Santos, coordenador e editor de conteúdo do Ah! Cidade – e um dos quatro membros da sociedade que mantêm vivo* o portal – com quem estamos tendo dificuldade em agendar uma conversa ao vivo. Já o idealizador do Ah! Cidade, Daniel Florêncio, vive há alguns anos em Londres e ainda não nos respondeu os e-mails.

Daniel é jornalista, graduado pela UFMG, e há alguns anos vive em Londres, onde faz filmes e trabalha com audiovisual. Em 2008, produziu o documentário “Gagged in Brazil”, que denuncia as relações entre Aécio Neves, TV Globo e Estado de Minas. O vídeo, produzido para a Current TV, foi censurado no Brasil e garantiu ao diretor pesadas críticas do então governador mineiro.



Esse vídeo reportagem muito tem a ver com a proposta do Ah! Cidade, quando visto como ferramenta de conscientização política e de real liberdade de imprensa. De acordo com Fabrício, o portal nasceu com uma proposta editorial um pouco mais aventureira e desimpedida para os padrões do jornalismo em BH e MG. Busca-se maior liberdade, apartidarismo e realismo nas pautas trabalhadas no veículo.
A associação teve início quando Daniel uniu-se a um amigo, João Streit, que é dono de uma agência de mídia em BH e que seria o braço comercial e tecnológico do site. Para planejar o conteúdo e gerir a dinâmica de colaborações do portal, foram chamados mais dois jornalistas: Henrique Milen (que vive hoje em Parati – RJ) e o Fabrício, coordenadores e editores de conteúdo.
“Nós quatro nos tornamos um espécie de sociedade para tocar o projeto, que na nossa visão tinha potencial para se viabilizar comercialmente com uma proposta editorial um pouco mais ousada e criativa para os padrões do jornalismo em BH e MG”, comenta F. Santos.


* De acordo com as declarações recolhidas, o Ah! Cidade ainda não é tratado como um veículo morto. É verdade sim que não é atualizado desde 2012, mas de acordo com Fabrício, os idealizadores ainda não desistiram da idéia. Com certeza, a distância de Daniel é um dos fatores agravantes para a calmaria.

MGTV Perfil: serviço X autopromoção #2

por Adélia Oliveira, Cristiane Duarte, Marlon Henrique Souza, Melissa Neves e Victor Lambertucci


    O MGTV promove a marca de um jornal próximo da comunidade. Dois quadros do telejornal foram criados justamente com esse propósito. O “Você no MGTV”, no ar desde 2009, abre espaço para que os próprios cidadãos se tornem repórteres e mostrem os problemas de sua região, enviando vídeos gravados por eles mesmos ao programa, fazendo alguma reclamação, reivindicação ou sugestão. Depois de selecionados, os vídeos são exibidos na televisão e a produção do programa cuida de entrar em contato com os responsáveis pelo serviço ou problema noticiado pelos cidadãos e dar um feedback aos telespectadores. No mesmo caminho, o projeto “Parceiro do MGTV”, apresentado ao público em dezembro de 2012, tem como objetivo fomentar a maior participação de telespectadores provenientes da regiõe metropolitana de Belo Horizonte, como Betim e Contagem, além de três aglomerados da capital: Santa Lúcia, Serra e Pedreira Padre Lopes. A diferença é que os interessados participaram de uma seleção e terão a assistência do canal para produzir conteúdo. Este último ainda não está no ar.

    A ideia segundo os idealizadores do  “Parceiro do MGTV”, que já está em prática em outros estados como Rio de Janeiro (RJTV) e São Paulo (SPTV), é que os novos colaboradores sejam responsáveis por trazer à tona não só problemas, mas histórias dessas regiões de BH e região que geralmente têm pouca voz dentro dos jornais locais. Ao mesmo tempo em que se percebe a prestação de serviço e a responsabilidade social cultivados pela empresa, é possível constatar a autopromoção do jornal, uma vez que existe uma grande exaltação em torno do fato de que o programa mineiro é pioneiro nesse tipo de quadro, no qual as matérias são elaboradas por pessoas que vivem nos locais que representam e conhecem as questões que precisam ser abordadas. Além de se destinar muito espaço durante as edições para a divulgação do quadro, feita em peso antes mesmo dele ser colocado em prática.


   O texto do jornalista Maílson Ramos (disponível em http://migre.me/eycqr), intitulado “Jornalismo ou publicidade” fomenta essa discussão, na medida em que a análise de Maílson trata da autopromoção na TV Globo de forma bastante incisiva. A reportagem postada no Observatório da Imprensa (UNICAMP) não mede as palavras e afirma que já não é possível distinguir jornalismo e publicidade nos telejornais da emissora, exemplificando sua afirmação com o episódio da mudança de apresentadora no Jornal Nacional, assunto que ganhou um bloco inteiro da edição do dia. A crítica incide no fato, ressaltado pelo autor, de que o principal canal aberto do país estaria pecando ao privilegiar a autopromoção em vez de abrir espaço para a prestação de serviço e para notícias que realmente importam. Outro exemplo pontuado por Maílson Ramos é o tempo destinado à divulgação dos prêmios conquistados pela Rede Globo, que têm lugar garantido no espelho dos telejornais da emissora.
    No produto jornalístico em questão (MGTV), a situação não é diferente. A autopromoção também aparece frequentemente nas edições do programa, utilizado para divulgar projetos - como os citados anteriormente -, realizações e parcerias da TV Globo Minas. Quem assiste ou já acompanhou o jornal vai se lembrar facilmente da frase “Esse projeto é uma parceria da Rede Globo com...” ou “Essa é uma realização da TV Globo Minas!”. Dizer que a fronteira entre o discurso jornalístico e o publicitário se confundem a ponto de comprometer a credibilidade e coesão do jornalismo na Globo pode ser um pouco exagerado, mas que a autopromoção é frequente e por vezes se sobrepõe à veiculação de fatos mais relevantes é irrefutável.

(Clique para ampliar)

    É clara a busca pela fidelização de novos telespectadores num jornal diário, uma vez que existe a demonstração de uma preocupação com o tratamento do maior número de regiões possível. Muitas, que até então não tinham nenhum tipo de destaque, a partir de agora passam não só a ter foco em discussões, mas ganham também o poder de manifestação de seus interesses, que serão tratados a partir de pontos de vista internos. Esse novo aspecto que quadros como o “Parceiros do MGTV” é sim uma forma de estreitar o contato com o telespectador, mas também uma maneira de aumentar a abrangência do programa na capital mineira. E, indo um pouco mais além, se pensarmos na estrutura e nos recursos necessários para isso, colocar uma câmera e um microfone na mão dos cidadãos é mais fácil que dispor de novas equipes de reportagem e enviá-las periodicamente para as comunidades, o que aliás correria o risco de produzir uma visão afastada do cotidiano daquela região.
    É válido afirmar novamente que a aproximação com a comunidade por parte do telejornal local analisado é uma intenção explícita. E dar a voz aos cidadãos é claramente uma forma de fazê-la. Os projetos são interessantes e vem tendo a adesão da população, mas, por trás do discurso, percebem-se duas estratégias tangentes: a de literalmente tapar alguns buracos na área de abrangência do MGTV, que não consegue cobrir toda a extensão cidade diariamente; e, obviamente, a de conquistar o público que participa, ou seja, uma estratégia de publicidade. É preciso salientar aqui que não há nada de errado em uma empresa que se aproveita dos seus feitos para ganhar a “clientela”, aliás, o slogan da padaria do bairro é afirmar que o melhor pão da região é vendido ali, e claro que, para o pipoqueiro da esquina, a melhor pipoca é a vendida por ele. A intenção aqui é ampliar o olhar para projetos que além de estarem vinculados à responsabilidade social e prestação de serviço, são produtos de uma empresa que precisa vender seu peixe, e o  faz.


    Ficam alguns de nossos questionamentos em aberto: Como é feita a seleção do que vai ao ar, há realmente um equilíbrio na contemplação de regiões? Há áreas que são deixadas de lado? Os problemas abordados nos quadros são solucionados, ou melhor, a utilidade pública desses quadros é efetiva?

   Como parâmetro para elaboração de interpretações sobre o tema tratado nesse post, um mapeamento feito pelo grupo dos locais de MG contemplados no quadro Você no MGTV no ano de 2013. Navegando pelos mapas, é possível perceber as regiões que estiveram na tela do quadro “Você no MGTV” de Janeiro a Março de 2013. 


Clique no link e veja os mapas referentes a cada mês:






História do movimento, mobilização e internet - O movimento na rua (e a importância das redes sociais). 
“Somos muitos, estamos juntos e queremos uma BH mais humana e integrada”. Com esse enunciado surge o Movimento Fora Lacerda (MLF) com o intuito de organizar pessoas, partidos políticos e outros movimentos sociais contra o prefeito Márcio Lacerda (PSB) eleito em Belo Horizonte no ano de 2008.
O movimento comporta diversos partidos político, mas assume um caráter suprapartidário – acima de partidos ou mesmo independente dos partidos que o compõe. Segundo o manifesto de origem do MFL, a independência do grupo “é uma forma de demonstrar como a sociedade civil organizada pode influenciar e alterar os cursos políticos de uma cidade marcada por uma administração elitista, excludente e aversa à participação popular”. Ainda em seu manifesto, o movimento é definido como antineoliberal por defender uma administração “humanista, inclusiva e com a participação popular”. 
Desde sua criação até os dias atuais, o MLF aposta na internet e nas redes sociais como forma de mobilização da população belorizontina. Assim, o movimento se vale desses meios para divulgar outros movimentos sociais organizados na cidade e incentiva que os cidadãos ocupem os espaços públicos da cidade. Para entender melhor a apropriação da internet e das redes sociais por parte do movimento, serão analisados as duas principais ferramentas utilizadas por eles: o Blog do MLF (WWW.foralacerda.com) e sua página no facebook (http://www.facebook.com/#!/Mov.ForaLacerda).  Abaixo estam explicitadas nossas descobertas durante a análise dos materiais recolhidos.
O Blog
As postagens no blog tem datas e formatos irregulares que muitas vezes não deixam claro o posicionamento de quem posta, mas com conhecimento prévio do movimento não há problemas em identificar qual a mensagem passada.
  Para melhor entender como o movimento utiliza de seu blog como uma ferramenta de mobilização social, recortamos as três últimas postagens no blog. As postagens estão enumeradas da seguinte maneira: a última postagem é a número 1, a penúltima é a número 2 e a antepenúltima número 3.
1)      Com o enunciado “As férias acabaram”, o movimento postou uma arte em forma de cartaz para dizer à população que o grupo estava desarticulado no período das férias até o início do ano, mas que voltará a movimentar a cidade.
2)      Uma página do jornal Estado de Minas escaneada tráz uma notícia para os belorizontinos: o prefeito anuncia que as obras do BRT muito anunciadas pela prefeitura, não serão entregues no fim de 2013 como estava previsto. Além disso, a postagem divulga também a segunda parte da notícia, que mostra como o atraso nas obras também pode ser uma preocupação da BHTrans – empresa que gerencia o transporte em BH.
3)      De forma exaltativa, há uma divulgação de um grande ato realizado na cidade no dia 8 de março – dia internacional de luta das mulheres.
As três últimas postagem ilustram o objetivo do grupo ao postar no blog. Através dessa ferramenta, o movimento leva sua política para as pessoas, incentivando a ocupação dos espaços públicos, com a divulgação do ato no dia 8, por exemplo, mostrando a população como o prefeito engana e não está comprometido com os interesses públicos, como ilustra a notícia sobre o atraso nas obras do BRT. É possível perceber também na postagem 2, a expressão da concepção antineoliberal quando é divulgada a preocupação da BHTrans sobre as obras, na medida que essa empresa monopoliza o transporte que deveria ser público em Belo Hozitonte. Essa é uma das postagens no blog que não deixa o posicionamento político do grupo de maneira explicita, uma vez que não há texto, apenas a notícia do Estado de Minas. 
Além de informar e transmitir sua política, o movimento também divulga suas atividades no intuito de mobilizar a população, como pode ser percebido na postagem do “fim das férias” que indica a rearticulação do MLF.
Analisando essas três postagens e outras, surge a maior descoberta dessa análise. É possível perceber que as postagens no blog são basicamente por via de notas que tem um caráter de divulgação. Em relação ao facebook (como veremos adiante), essa ferramenta é mais informativa e explicativa, mas as postagens no blog não são aprofundadas, o que indica que o blog tem a função de divulgar informações e atividades apenas.
O facebook
O facebook tem uma vida mais ativa em relação ao blog, com mais postagens em menos tempo, além de propiciar maior interação do e com o público, através dos comentários, compartilhamentos etc. A partir dessa perspectiva, é possível perceber que existe mais interação do publico entre si, ou seja, pessoas que curtem a página entre elas mesmas, do que uma interação com a página, já que há poucas respostas a comentários por parte da própria página do facebook.
 Também para facilitar a análise dessa ferramenta, o facebook foi analisado a partir de suas três últimas postagens, que estão enumeradas da mesma maneira.
1) Compartilhamento de uma matéria do Estado de Minas sobre a dengue, onde esclarece que a prefeitura pouco está fazendo para combater o surto dessa doença nos últimos meses. Ao compartilhar a matéria o movimento faz um comentário: “A PBH colaborando com o mosquito, mas o cidadão...”
2) Compartilhamento da divulgação da comemoração do aniversário de 4 anos da ocupação Dandara organizada pelas Brigadas Populares em Belo Horizonte.
3) Compartilhamento da divulgação de uma audiência pública a ser realizada na Câmara Municipal de BH para discutir a situação da arborização da avenida Bernardo Monteiro.
Primeiramente, é relevante comentar que todas as postagens no facebook estão datadas de 10 de Abril, isso evidência como a dinâmica da página no facebook é rápida, justamente porque é uma ferramenta que possibilita muitos compartilhamentos, comentários etc. Além disso, todas as postagens foram compartilhadas de alguma página ou um link, o que indica que a pessoa que posta não precisa ter o trabalho de escrever sobre, ou mesmo que o texto seja aprovado em reunião ou listas de e-mail, como geralmente acontece nos movimentos sociais.
Para além de analisar as postagens como mais dinâmicas e livres, é possível compreender a política do movimento expressa nas mesmas, quando critica a prefeitura na postagem 1, por exemplo, e faz um comentário que ironiza o fato da prefeitura ser negligente com o problema da Dengue e o cidadão que está sendo afetado por esse problema é culpabilizado (vale lembrar que muitas vezes o movimento utiliza da ironia e do humor para criticar o prefeito). Já as postagens 2 e 3 fazem parte da política consciente do MLF de divulgar outros movimentos, as situações das ocupações urbanas das cidades e a participação política do cidadão através das vias institucionais também.
O facebook é utilizado pelo grupo como uma ferramenta de divulgação dos eventos e informações políticas que interessam a cidade. O movimento aposta que essa divulgação é fundamental para incentivar a participação política da população e a ocupação dos espaços públicos de BH. Mas, pelo fato do facebook ser uma ferramenta geralmente usada para esse fim e pelo contato que já tínhamos com a página do MFL, a análise foi uma experiência importante, mas a conclusão não foi uma descoberta como o blog. 

TPM e Nova: As diferentes abordagens das revistas femininas #2



Luísa Teixeira, Nina Rocha e Thaiane Bueno




As revistas Nova e TPM destoam-se logo nas capas do mês de Março. Enquanto a capa da TPM é construída em tons claros e pastéis, a Nova é bem mais vibrante, predominando a cor vermelha tanto no plano de fundo da fotografia quanto na roupa usada pela modelo. Quanto as personagens escolhidas para serem o foco principal das capas, temos duas mulheres que nos últimos meses estão evidenciadas pela mídia, ainda que sejam focos diferentes. Quem figura a capa da revista Nova é a atriz global Giovana Antonelli, que passa por um bom momento de sua carreira interpretando a personagem Heloísa na atual novela "Salve Jorge". A TPM apresenta a atriz, cantora e roterista Clarice Falcão, popular na Internet por participar do canal humorístico no Youtube "Porta dos Fundos" e pelos vídeos onde canta músicas de sua autoria. Além de possuírem perfis diferentes, a diferença entre as atrizes - e, consequentemente  também as capas-, ficam transpostas no figuro utilizado para as fotos. Giovana Antonelli ressalta a imagem de "mulherão", bem produzida e maquiada com decote e pernas à mostra, e apesar de todo o seu destaque na capa, a chamada para a sua entrevista é a mais discreta de todas.


A foto de Clarice Falcão é mais descontraída e natural e dialoga com o assunto da edição - como foi abordado no último relatório, as edições da TPM são temáticas: a principal matéria da revista é "Pra que trabalhar que nem homem?" e Clarice na foto está segurando uma caneca de bigode. É interessante também observar o papel masculino na construção das capas. A TPM evoca o "homem" apenas em duas situações: para ressaltar as conquistas da mulher no mercado de trabalho e na chamada para o ensaio sensual de Shogun, lutador do UFC. Já na Revista NOVA opinião masculina aparenta ser bem mais relevante:, "Amor à prova de crise para ler com ele", "Sim, ele está afim de você" e "Makes que os homens amam". A maquiagem e o cuidado com a beleza é abordada na TPM apenas com a chamada Hora extra? Aprenda a disfarçar as olheiras, enquanto na NOVA ainda há o enunciado "Cabelão já". Além das personagens centrais, ainda na capa, a TPM anuncia outras figuras presentes na revista, como a advogada Marina Belisário, a repórter Nina Lemos e a ministra do trabalho Delaíde Antunes. A Nova aborda também dicas para que sua leitora fique magra e uma pequisa sobre preferências sexuais. Além das chamadas temáticas e o já citados ensaio com Shogun e dica de maquiagem, a TPM também traz uma chamada referente à moda.  


Comparação Editorial

Outro aspecto das revistas escolhido para ser abordado é o editorial. A TPM traz o título "Faça amor, não faça hora extra", enquanto a Nova diz "Você em seu melhor papel". A primeira começa com a chamada "Você não precisa trabalhar que nem homem: para que se conformar com tão pouco?". Em seguida, expões uma série de dados comparando o trabalho dos dois. Nas tarefas domésticas, elas ficam com 26,6 horas semanais, enquanto eles ficam com 10,5. Elas recebem 30% a menos para ocupar cargos equivalentes aos dos homens e apenas 20% dos cargos de chefias são ocupados por mulheres.

No fim, uma justificativa simples é apontada: elas não colocam a carreira como prioridade absoluta na vida. " As malucas teimam em perder tempo com filhos, família, amigos, saúde, lazer e outros detalhes desimportantes, e aí adeus promoção." E isso não é ruim. Talvez seja um exemplo que os homens devam seguir. O modelo de trabalho masculino ainda é assustador e repressivo, não só para as mulheres. Ainda é preciso lutar para mudá-lo e para que as condições de trabalho para homens e mulheres sejam igualadas.

Um dos pontos mais fortes do editorial da revista Tpm é que ele foi escrito por um homem: Fernando Luna, diretor editorial da publicação. Com isso, ele oferece às leitoras uma leitura diferente daquela que se espera quando a questão de gêneros envolvendo o trabalho vem à tona. Ele não defende as práticas machistas que dominam o mercado, ao contrário. Luna é sarcástico e questiona vários padrões que ele afirma existir na sociedade. Logo depois da constatação da divisão desigual das tarefas domésticas, ele abre um parênteses que se fosse dito por uma mulher poderia soar preconceituoso. “Dez horas e meia?! Três para lavar o carro, cinco para preparar o churrasco, duas arrumando os CDs e meia hora para enxaguar a própria escova de dentes após o devido uso. Bom, é só um parêntesis sem base estatística nem valor científico”. Como ele assume esta postura, o comentário é leve, ainda que carregado de conceitos que fazem referência à luta pela igualdade dos gêneros. Igualdade, neste caso, defendida “de cima pra baixo”

Pelo texto é possível inferir que normalmente essa luta é feminina. Elas querem se igualar aos homens, como sustenta o comentário da diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg: ”ao contrário dos homens , [as mulheres] não colocam suas carreiras como prioridade absoluta de vida” Talvez o problema resida aí. “Justamente por se importarem com o que acontece além do expediente, as mulheres podem não apenas ocupar seu espaço nos negócios, mas transformar nossa relação com o trabalho. Transformar o trabalho”. E a verdade é que isto traz benefícios para ambos os lados. “Faça amor, não faça hora extra”.

O editorial marca bem o que a edição de abril traz para as leitoras da revista. A Tpm oferece à elas o acesso aos dois lados da questão, ainda que seja possível observar com clareza o posicionamento editorial da publicação.
Em contrapartida, a Nova chega com um discurso de que agora há um movimento de calmaria e que a causa do momento é não abraçar uma causa. No editorial, a diretora de redação da revista afirma que hoje as mulheres dispensam o título de wonder woman, que está "totalmente fora de moda, após provarmos que damos conta de tudo e mais um pouco".  Podemos até dar conta de tudo, mas como vimos no editorial da TPM, a desigualdade entre os gêneros ainda impera. Enquanto a TPM incita a luta pela igualdade, a Nova reforça a ideia de que está tudo como deveria ser. E isto inclui todo um sistema machista que rege as relações de trabalho.  Basta ser natural, espontânea e tentar ser a melhor versão de si mesma. Agir sem se preocupar com os julgamentos é importante, mas não significa que não devamos abraçar uma causa.


A revista da Editora abril também defende que devemos ser autênticas: "Responda rápido, com o máximo de sinceridade: você é um retrato fiel da imagem que passa para os outros? Se considera uma pessoa autêntica, que age e fala de acordo com o que pensa? Ou às vezes se sente uma ‘farsa’ ou que está representando um personagem? Esse é o maior desafio da mulher moderna." Mesmo defendendo os defeitos e excentricidades de suas leitoras, a revista confere uma classificação que não oferece à elas  uma outra possibilidade àquela ditada em seu editorial.
Logo acima do editorial está a foto da diretora de redação que escreveu o texto: Monica Gailewitch. Loira, cabelos ao vento, blusa de paêtes. A imagem do sucesso. Com a receita do sucesso: você em seu melhor papel.
Sermos nós mesmas e abandonar as máscaras é o nosso maior desafio. Ao mesmo tempo, ao lado do texto, a revista traz um quadro chamando a leitora para acessar o site e copiar o cabelo da atriz Giovanna Antonelli. No decorrer de toda a publicação vemos como um padrão de beleza é reforçado mais e mais. Devemos ser autênticas ou devemos seguir o padrão de beleza representado ali? No fim das contas, faltou um pouco de coerência.



A publicação defende, em seu editorial, que “poder viver intensamente sem culpa as 79 personalidades, muitas vezes contraditórias, que habitam em cada uma de nós” é, talvez, o sonho de qualquer mulher. Ao dizer isso, ela se opõe drasticamente às reportagens “Você Posta Sempre Aqui” e “Contrato sem Risco”. Se as mulheres estão vivendo um momento histórico que preza a autenticidade e a naturalidade de suas ações, por que manuais de conduta ainda são publicados no decorrer da revista? Reportagens que pregam “Nunca mande o primeiro SMS” e “ não divulguem a vida de vocês no Facebook”, por exemplo, vão totalmente contra o que prega, em uma das sessões mais importantes de um veículo impresso: seu editorial. É ali que todos os princípios defendidos pela publicação são validados, na palavra de uma das figuras mais importantes da redação: o diretor editorial ou de redação.
Nova se contradiz ao ser analisada em uma única edição. Talvez isso tenha a ver com o que prega: seja autêntica, assuma seus defeitos. Defeito neste caso que ameaça a própria credibilidade da revista.


Análise do Jornal Super Notícia e Aqui



O grupo passou por algumas dificuldades de planejamento e não conseguiu publicar a postagem passada a tempo, por isso, postaremos as duas publicações de uma vez.


Primeira Postagem: 

Desde que escolhemos como tema do projeto a análise e comparação dos Jornais Super Notícia e Aqui, começamos as pesquisas via internet para captar as informações que nos conduziria ao trabalho.

O grupo foi surpreendido com a dificuldade de encontrar dados sobre o Aqui que, se quer, está presente nas redes sociais. Ele possui apenas uma página dentro do site do Diários Associados, disponibilizando as principais manchetes e capa do dia, mas requerendo um cadastro de assinante dos serviços da empresa para ter acesso a mais informações.

Então, recorremos ao contato via telefone que posteriormente nos indicou o contato via email. Não obtivemos sucesso na marcação de visita por a agenda estar lotada até Julho e a dificuldade continuou com a falta de retorno.

Estes fatos fizeram com que tivéssemos de mudar o cronograma novamente e exibir nesta postagem a análise apenas do Super que nos possibilitou ter acesso às primeiras capas do jornal, sua história e a retirar dúvidas.

Uma breve história do sucesso do Super


O jornal Super Notícia começou a circular no dia 1º de maio de 2002. O idealizador da publicação foi o empresário Vittorio Medioli, proprietário da Sempre Editora, que edita também o jornal O Tempo e os semanários Pampulha, O Tempo Betim, O Tempo Contagem e a Revista SuperTV. O Tempo foi lançado em 21 de novembro de 1996, direcionado para o público A e B. O Super foi criado para atingir o público C/D/E já que em Minas não havia publicações direcionadas para este segmento. Para atender a esse público, o Super apostou na forma tabloide e no conteúdo popular com textos mais curtos.

O jornal foi lançado sem campanha de marketing. A tiragem e a distribuição eram modestas. Em novembro de 2004, o Super se filiou ao Instituto Verificador de Circulação (IVC). Naquele mês, a média diária de venda do jornal chegou a 6.759 exemplares/dia (que colocou o jornal na posição 54ª entre os 57 jornais auditados nacionalmente pelo IVC). A Folha de SP era líder do ranking do IVC, com média de 304.389 exemplares/dia.

Em meados de 2005, o Super chegou a uma venda média diária de 9 mil exemplares. Em outubro, do mesmo ano, com a chegada ao mercado do jornal Aqui, concorrente direto do Super, o tabloide da Sempre Editora foi reformulado. O resultado foram recordes de venda a cada mês. Em janeiro de 2006, ao superar a média diária de 75 mil exemplares vendidos, o Super bateu o Estado de Minas - que durante décadas era o jornal de maior venda no Estado. Chegou o ano com média de 135.217 exemplares vendidos diariamente (em 8º lugar no ranking do IVC),

Em 2007, o Super continuou crescendo e bateu a Folha em alguns meses, fechando o ano em 5º no ranking – com 238.611 exemplares/dia. Em abril de 2008, bateu o recorde de 317.599 exemplares vendidos por dia, e fechou o ano em 2º no ranking (com média de 303.087). Em 2009, o Super também foi o 2º no ranking nacional do IVC: 284.436 exemplares.

Em 2010, o Super se tornou o jornal mais vendido do Brasil. Fechou o ano em 1º lugar no ranking do IVC, com 295.701 exemplares/dia. O êxito se repetiu em 2011, e o Super fechou o ano em 1º no ranking com média de 300.237 exemplares. O mesmo aconteceu em 2012. O Super fechou o ano na liderança com média de 306.365 exemplares/diários. No mês de julho o jornal bateu novo recorde, com média de 330.898 exemplares. Apenas no dia 2 de julho, o Super vendeu 354.814 jornais.

A tendência continua em 2013. O Super continua liderando com mais de 300 mil exemplares vendidos em média a cada dia.


Rogerio Mauricio trabalha na redação do Super há 8 anos e foi quem respondeu nossas perguntas:

1. A que se deve tamanho sucesso do Super?

Não temos uma resposta simples. O sucesso do Super se deve a uma série de fatores: conjuntura econômica; grande massa de pessoas que não tinham hábito de leitor nem acesso a uma publicação diferenciada; projeto gráfico, formato e conteúdo atraentes; preço baixo; boa distribuição; promoções; prestação de serviço, etc.

2. Como foi a criação e o lançamento do jornal?

O Super foi criado pelo empresário Vittorio Medioli. Ele pensou no formato, no nome do jornal e fez o lançamento do Super no dia 1º de maio de 2002 sem qualquer campanha publicitária e sem estardalhaço. Só a partir de 2004, o jornal começou a crescer, ainda que timidamente. Com a concorrência do Aqui, no final de 2005, o Super decolou.

3. De quem foi a ideia de se criar um jornal em formato tabloide e direcionado às classes C e D?

A ideia foi do dono da Sempre Editora, que já tinha outros três jornais: O Tempo Betim e o Pampulha - semanários gratuitos - e O Tempo - jornal diário segmentado para o público A/B. A ideia era alcançar a grande massa de leitores que não liam nenhum jornal.

4. Mudanças editoriais e estratégias para fidelizar os leitores.

Desde que foi criado, o Super passou por algumas reformulações. A primeira, em 2004, teve ênfase no visual; foi quando mudou o projeto gráfico e incluiu a foto de uma mulher na capa. Em outubro de 2005, houve nova reformulação, mas, principalmente, na parte editorial. A partir daí, o Super promoveu várias promoções que ajudaram a fidelizar os leitores. Em julho de 2009, houve a último reformulação gráfica do Super, que passou a ter o visual atual. Desde então, sempre estamos agregando novos conteúdos para melhor atender ao leitor.

5. Qual critério para a seleção de notícias? O Super é um jornal sensacionalista?

O critério é jornalístico. Entra no jornal o que é relevante, o que é notícia. Claro que o Super não é sensacionalista. Não inventamos notícia, não expomos entrevistados, não divulgamos imagens constrangedoras e que chocam. O que as pessoas pensam ser sensacionalista, muitas vezes, são as matérias sobre violência, que são muito fortes. Mas é o nosso cotidiano e as pessoas querem saber do que está acontecendo em seu redor. Além das notícias de Minas, Brasil e do mundo, incluindo esporte, o jornal tem muita prestação de serviço, entretenimento, humor.


Segunda Postagem:




Análise da capa

Analisamos exemplares de outubro de 2008, antes da reformulação e de outubro de 2012 para evidenciar o que mudou na última reformulação, apontada pelo veículo.
Nos exemplares de outubro de 2008, metade da capa eram ocupadas pela manchete, que junto com o subtítulo, sempre acima da manchete, se localizava dentro de um imenso retângulo. A manchete era sempre sublinhada. O jornal apresentava várias chamadas, que ficavam dispersas, indistintas e sem destaque na capa. A indicação da pagina das matérias aparece dentro de uma forma elíptica colorida. Esta forma também era usada para a legenda das fotos. Além da manchete o único assunto que tinha destaque era o relativo à foto de uma imagem feminina, presente em todas as capas e comumente com pouca roupa. A cabeça do jornal é composta apenas pelo nome do jornal, local e data. A cobertura de futebol poderia aparecer em duas ou mais chamadas diferentes na capa.
As capas de outubro de 2012 trazem menos assuntos. Além disso, os assuntos estão mais bem organizados e separados por box, dando um aspecto mais moderno. As paginas aparecem em fonte colorida em continuidade com o texto do subtítulo.  A manchete ocupa menos espaço, cerca de um quarto ou um quinto da página, e não é mais sublinhada. Subtítulo aparece sempre abaixo da manchete.  A legenda das fotos aparece de forma mais discreta com uma frase abaixo da imagem. O retângulo vermelho da cabeça do jornal é mais vivo e inclui o preço e o código de barra.  A cobertura do futebol está unida e organizada na capa em um mesmo box.
As diferenças se limitam a forma, pois as prioridades do jornal se mantem. As promoções do jornal ocupam toda a parte inferior do jornal e o canto esquerdo, ao lado da cabeça do jornal. Os assuntos da capa são comuns aos dois períodos: futebol, crimes bárbaros ou inusitados e mulheres (de projeção nacional, internacional ou local). 

O futebol nos bares #2

por Eduarda Rodrigues
José Henrique Pires
Leonardo Vieira
e Lucas Afonso Sepulveda


Dia 2 de maio, às 20h
Jogo de Altético Mineiro x São Paulo [L]
no Orizontino, Rua Antônio de Albuquerque [SAVASSI]

Lucas Afonso Sepulveda estava presente.

Tem uma bandeira do Galo estendida debaixo da televisão, do lado de fora do Orizontino. Estou na mesa bem em frente ao monitor, na companhia de Bárbara e Rafael, um casal atleticano e Ildson, um cruzeirense infiltrado em território inimigo. Em menos de meia hora, começa a transmissão do jogo pelo canal Premiere FC. O bar já está lotado. Os garçons não param de trazer mais cerveja para as vinte mesas cheias de torcedores sedentos.

Pergunto para os três na minha mesa sobre o que os faz sentar numa mesa de bar, pedir uma cerveja e assistir ao jogo do time. Rafael me explica que, como alguns jogos são só transmitidos em canal a cabo, às vezes é mais fácil assistir o time na TV de um bar. Bárbara gosta de ir assistir futebol em um buteco perto de casa e vai mesmo quando está sozinha. Ildson prefere assistir em casa e só vai em bar quando é jogo decisivo do Cruzeiro ou quando tem um dinheiro sobrando para gastar com cerveja (como hoje). Todos os três concordam que se sentem bem numa mesa de bar, com um copo de cerveja na mão, assistindo ao time que torcem (seja pela vitória ou pela derrota) na tevê, na companhia de conhecidos e estranhos com gostos semelhantes ou divergentes.

As conversa fica inacabada quando a contagem regressiva começa e o Atlético entra em campo.

Se lá fora, tem até gente sentando em cadeira sem mesa para assistir ao jogo, na parte interior do Orizontino não tem nenhum freguês. A caixa do bar está assistindo a partida pelo computador, enquanto atende um ou outro indivíduo que aparece por lá de hora em hora. Os garçons que não param andar para dentro e para fora, estão quase que desorientados, tentando servir tanta gente ao mesmo tempo. A ideologia atleticana do bar não impediu um dos garçons em serviço de se assumir para mim como são paulino. Talvez ele seja o único do time adversário dividindo espaço ali. Ele mal tem tempo para assistir o jogo, mas me disse que aposta que “no couro que o Atlético vai levar” e que, no fim da noite, é ele quem vai ficar com os 10% das contas de todos aqueles atleticanos.

Falta poucos minutos para o fim do primeiro tempo e escutamos um grito de gol vindo das mesas lá atrás. A parte da frente demora alguns segundos para reagir, levantando das cadeiras e gritando pelo time. Só, então, que o gol do galo é anunciado na televisão. Pelo o que Rafael me explica, alguns torcedores sempre levam um rádio para o bar e escutam o jogo com menor tempo de atraso em relação à transmissão da tevê. Essa duplicidade do rádio e televisão em bar parece um hábito historicamente consolidado entre os amantes de futebol com cerveja.

O frenesi do primeiro gol foi quase tão grande quanto no final do jogo: 2 a 1 para o Atlético.


Dia 05 de maio , às 16h
Jogo de Altético Mineiro x Tombense  [M]
no Assacabrasa [LOURDES] e
no 80 Bar, Rua Paraíba, [SAVASSI]

Eduarda Rodrigues, José Henrique Pires e Leonardo Vieira estavam presentes

Nos reunimos na porta do bar e restaurante Assacabrasa minutos antes do jogo e pedimos uma cerveja para entrar no clima. A disputa entre Atlético e Tombense parecia ser uma tarefa simples para o alvinegro mineiro, dono da segunda melhor campanha do campeonato. No site do estabelecimento estava escrito o slogan: “Futebol é no Assa”, indicando que ali seria um bom lugar para darmos continuidade ao nosso trabalho de observação. Mas quando chegamos havia no máximo dez pessoas almoçando, que logo iam deixando suas mesas. Não parecia que ninguém ali estava interessado em assistir ao confronto.

Decidimos que era melhor não perder tempo ali e procurar um outro lugar que nos desse condições de analisar o que nos propomos para este relatório: as motivações por trás do jogo, como as pessoas se comportam e porque vão a bares que passam futebol. Haveria algum motivo por trás disso?

Levantamos, pagamos a conta e fomos caminhando para a Savassi porque chegaríamos antes do fim do primeiro tempo. O bar mais cheio que encontramos foi o 80 bar, que estava com cerca de 100 pessoas na calçada, a maioria uniformizada com a camisa do Galo. O clima estava muito animado, uma vez que, durante nossa caminhada, o Atlético marcou três gols.

Paramos para observar os grupos que nos cercavam: de um lado, um grupo de amigos assistia a alguns lances do jogo e esboçavam comentários, porém o foco deles era mesmo colocar a “conversa em dia”; já do outro lado, um casal assistia ao jogo. A namorada estava ali aparentemente para satisfazer o namorado que comentava com ela lances do jogo em que ela mal prestava atenção; mais a frente, outro grupo de amigos também conversavam e algumas pessoas do grupo estavam de costas para a televisão. Apenas uma mulher e outros dois rapazes da mesa pareciam realmente atentos; um trio de homens mais próximos a televisão é que estavam mais atentos. Um deles era sempre o primeiro a dar o grito de gol e soltar expressões típicas relacionadas ao Atlético (“Galão da massa”, “Galo doido”, entre outros). No geral, a distração era tanta por parte do público do bar que ao Atlético fazer o 3º gol, no final do primeiro tempo, apenas algumas pessoas em cada mesa comemoraram. Alguns segundos depois é que os outros que conversavam pararam para observar a televisão (inclusive os que estavam de costas, viraram as cadeiras).

No início do segundo tempo, os grupos focaram mais a sua atenção para a TV. Pouquíssimas pessoas ainda davam as costas para o jogo. O 4º gol do Atlético foi mais comemorado e os gritos de alegria se uniram com os gritos de uma outra unidade do bar Assacabrasa, que fica ao lado também exibindo jogos de futebol. Com o decorrer da partida, o nível de atenção de algumas pessoas voltava a cair. O 1º gol do Tombense no jogo não alterou em nada a reação dos presentes. Todos já consideravam o jogo como vencido, pois o Atlético tinha uma grande vantagem sobre o time da cidade de Tombos (tanto de gols, quanto de qualidade técnica, entre outros fatores). O 5º gol do Atlético, e último da partida, veio de pênalty. Ao saber que Guilherme seria o cobrador, pessoas da mesa em frente fizeram algumas críticas em relação ao desempenho do atleta nos últimos jogos, porém não deixaram de acreditar que ele faria o gol.
Com o árbitro apitando pela última vez, indicando o fim do jogo, um dos integrantes do “trio da frente”, tornou a gritar “galo doido”, comemorando que o time garantiu uma vaga na final do Campeonato Mineiro 2013. A comemoração logo se espalhou pelo bar. Entre abraços, alguns se despediam do grupo e os que ficavam pediam mais uma rodada de cerveja.


Dia 12 de maio, às 16h
Jogo de Altético Mineiro x Cruzeiro [M]
nas ruas da cidade

Final de campeonato. A capital mineira, que abriga as grandes torcidas do Cruzeiro e Atlético transformou-se em uma grande extensão do estádio. O jogo foi acompanhado de diversas formas pelos torcedores (e até mesmo não torcedores). Infelizmente, o grupo não conseguiu acompanhar o jogo todo em nenhum bar, mas a emoção ocupou toda a cidade.

Quem passou perto dos bares percebeu as pessoas vidradas nas telas das televisões. Os petiscos esfriavam e a cerveja esquentava. Ansiosos, grande parte dos clientes dos bares que ficam na Avenida Fleming, bairro Ouro Preto, se preocupavam com a partida: xingavam os juízes, trocavam farpas, torciam.

Nas ruas, camisas pretas ou azuis eram frequentes. Dentro do ônibus suplementar S53, de mais ou menos 16 passageiros, 4 estavam com rádios sintonizados nos jogos, e mais 4 amigos discutiam as possibilidades do Galo ganhar o jogo e já faziam profecias do próximo embate no Mineirão.

O clássico que terminou em 3 x 0 para o Atlético, foi “recebido” por grande parte das pessoas que estavam em Belo Horizonte, seja no estádio, em casa, nos bares, por rádios, gritos e fogos de artifício.

Projeto Editorial das revistas Encontro e Viver Brasil


Nesse relatório iremos analisar os Projetos Editoriais das revistas Viver Brasil e Encontro. Projetos editoriais estruturam: o nome da publicação, o objetivo, o público-alvo, a política editorial, a linguagem, as seções e a distribuição. Para isso analisaremos as informações coletadas em entrevista comparando-as com os dados encontrados nas edições nº 143 da revista Encontro e nº 102 da revista Viver Brasil.  



ENCONTRO


* Matéria : O professor Pardal de BH (pg 56). Essa matéria em questão foi classificada na revista como referente à negócios, mas logo a primeira frase que aparece é: “Que Patópolis, que nada! Belo Horizonte tem seu próprio professor pardal, o inventor mais famoso do Walt Disney”. A linguagem utilizada tanto nesse trecho, como em toda a matéria, é muito mais descontraída e informal do que o que se esperaria em uma matéria de negócios, causando certo estranhamento por parte do leitor, principalmente porque a revista tem como alvo os públicos A e B.

** Para uma revista que se orgulha de ter um projeto editorial bem definido, podemos diagnosticar algumas contradições. A revista é extensa, com grande quantidade de seções que despejam conteúdo ao leitor sem necessariamente categorizá-lo apropriadamente. A leitura é desgastante e desorientada, uma vez que parece faltar um fio condutor que organize o fluxo de ideias na publicação.
As edições especiais se mostram mais coesas, mas sua grande quantidade nos leva a questionar o julgamento do veículo chefe, que não só carrega suas próprias páginas de conteúdo, como ainda transborda em mais assuntos nas outras revistas.
Algumas seções possuem conteúdos que se misturam, como a de negócios e de economia. Embora sejam seções diferentes, o conteúdo costuma ser muito próximo. A própria editora-chefe, Neide Magalhães, relatou que geralmente quando a revista tem uma matéria de negócios ela não tem de economia. O grupo entende que esse exemplo pode ser aplicado para outras editorias, a exemplo das de lazer e diversão, o que corrobora em uma revista desorganizada, com temas dispersos pelas páginas sem orientação que dê clareza e consistência.

*** É de certa maneira estranho o fato de a revista ser distribuída gratuitamente para assinantes e ao mesmo tempo ser vendida. Se a relação de assinatura é apenas passar seus dados para receber a revista em casa e de graça, é de certo modo incoerente que ela tenha venda nas bancas.


VIVER BRASIL

**** Com a proposta de ser uma revista factual, a Viver Brasil parece atender bem à sua definição, a princípio. Ao se dedicar à leitura, porém, é fácil perceber que há matérias e abordagens destoantes.
Numa matéria de estética, por exemplo, é abordada a depilação artística de virilha. A matéria detalha o procedimento da depilação que se dedica a enfeitar a região pubiana com desenhos, iniciais e até mesmo pedras de strass. O texto não busca explorar o lado factual desse tipo de depilação, mas se dedica a relatar mesmo a experiência das depiladas, colhendo depoimentos e até mesmo oferecendo ilustrações dos diferentes tipos de desenho. A matéria também explora outras opções, como o adesivo e as pedras de strass.
“Embora (...) seja mais caro, o retorno é muito positivo. Vale a pena porque muda a rotina.”
F., 32 anos


A matéria de capa também demonstra falta de objetividade ao lidar com o tema, que era racismo na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A matéria, que contou com depoimento de dois alunos negros, aproveita a repercussão midiática gerada pelo trote racista da turma de Direito e se lança na discussão acerca da abertura do espaço da universidade, que deveria ser lugar de inclusão e questionamento acerca dos paradigmas sociais. Não questionamos os relatos dos estudantes, nem a presença do racismo na UFMG, mas a abordagem da matéria. Ao invés de mostrar a universidade como um espaço em que o preconceito também está presente, a matéria se valeu das experiências dos estudantes para pintar a universidade como um cenário de propagação da opressão social, sem defensores do fim dos preconceitos.

Com os exemplos acima, fazemos uma crítica a alguns pontos do projeto editorial da revista. Ela parece ter a pretensão de se mostrar como uma publicação séria e comprometida com o jornalismo credível e respeitável, ao que a linguagem apresentada corrobora. Mas ao passar os olhos pela Viver, constatamos matérias com assuntos destoantes e outras que dão margem a apenas um lado da notícia. O que afeta o entendimento da política editorial e o objetivo da revista.