domingo, 23 de junho de 2013

Relatório #4 – Considerações finais sobre o Ah!Cidade

O projeto de pesquisa tinha como objetivo a análise do veículo Ah! Cidade (http://ahcidade.com/), confrontando-se as impressões dos alunos sobre o veículo e os reais objetivos dos criadores do portal. O desenvolvimento desse projeto não aconteceu exatamente da forma que se era esperada, tampouco apresentou-se interessante como pareceu ser nos primeiros momentos. Entretanto, pode-se dizer que o resultado final superou as expectativas e ampliaram a visão dos alunos envolvidos quanto as dificuldades do jornalismo independente em Belo Horizonte.

Um dos fatores que mais influenciou negativamente a pesquisa foi a falta de funcionamento do site, que parou de ser atualizado desde julho de 2012. Isso ajudou a desmotivar os alunos envolvidos, pois não se experienciou a rotina do portal: a relação transformou-se numa questão de historicidade, ou seja, tinha-se o passado em mãos e não o presente.
Existiu, também, uma grande dificuldade de contato com os criadores do site, que prejudicou o andamento da pesquisa. A demora em realizar as entrevistas não proporcionou o nível de aprofundamento desejado para a elaboração do Segundo Relatório Parcial.

Em contrapartida, as entrevistas, mesmo atrasadas, foram o melhor conteúdo que tivemos acesso para construir o trabalho. Entre as várias coisas positivamente absorvíveis das conversas, as mais interessantes e pertinentes foram as que se relacionam intimamente com o declínio do porta. Ouviu-se informações importantes sobre a operacionalização de um portal de notícias virtual, sobre como que o seu caráter independente pode se tornar uma dificuldade e sobre o grande problema que é lidar com o voluntarismo das pessoas, que produzem conteúdos sem receber nada por isso.

Em geral, a análise do Ah! Cidade mostrou-se muito positiva, pois o portal tem grande similaridade, em proposta e em funcionamento, com o projeto pessoal da dupla. Ainda, talvez, em status de concepção, idealiza-se uma revista virtual que tenha como tema central a ativa e rica agenda cultural de Belo Horizonte. O contato com os idealizadores do Ah! Cidade e o conhecimento da sua história foi uma experiência riquíssima, por mostrarem uma visão real de como é trabalhar com jornalismo independente na capital mineira. As informações apreendidas beneficiarão a equipe profissionalmente, acadêmica e pessoalmente.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Relatório #3 – Visão geral sobre o Ah!Cidade

A partir das conversas de dois dos editores do site Ah!Cidade, Daniel Florêncio e Henrique Milen, descobrimos o que aconteceu desde a construção até a decadência do portal. Apesar das diferentes visões dos dois entrevistados, tendo em mente que Daniel é um dos idealizadores do projeto e Henrique foi convidado após o desenvolvimento do mesmo, os discursos são inicialmente bastante coerentes.

Criação
Segundo Daniel, um dos motivos para a criação do site foi a falta de conteúdo inteligente gerado na cidade. “Falta de conteúdo que pensa a cidade, que dialoga com a população, que enxerga as nuances da cidade, dos bairros, das aspirações”, segundo ele. O entrevistado é bastante enfático no conceito de honestidade intelectual, deixando claro que este é o conteúdo almejado pelos criadores e colaboradores do Ah!Cidade.
Daniel Florêncio é autor do documentário “Gagged in Brazil”, produzido em 2008, que conta as ações de censura de Aécio Neves e sua equipe na imprensa mineira. O filme teve muita repercussão principalmente na internet. As informações passadas pelo documentário, como depoimentos de diferentes jornalistas e evidências em situações que poderiam passar em branco, são justamente o foco do Ah!Cidade. Daniel explica: “Por exemplo, um texto que eu escrevi que chama ‘O Prefeito em um ônibus’. O que está ali é nada mais que a constatação do óbvio. Eu simplesmente peguei declarações da BH Trans e contrapus ela com fatos e indícios que estão aí na frente de todo mundo”.
Ao falarmos do caráter político do site, Henrique conta sua visão. “As pautas no Ah!Cidade eram politizadas, porque os temas ligados à cidade têm que ser politizados. É daí que vem o debate, mas a gente é meio adestrado para ter hojeriza ao debate, ao confronto de argumentos. O que se vê em programas de ‘debate’ na TV e no rádio local é a cultura do consenso, sempre despolitizado, desmobilizante, sempre tendendo ao lado moral, ignorando os interesses políticos e econômicos que envolvem cada tema. E ainda por cima com viés conservador, o que definitivamente não era o nosso caso. Bom, esse era o lado bom de ser nanico: a gente não sofria pressão de anunciante, nem era amigo de político, nem tinha medo de perder leitor conservador. Isso dava liberdade de pauta, sem dúvida. O jornalista dos Associados não tem essa liberdade, o produtor da Globo não tem essa liberdade. E muita gente dentro desses veículos lia o Ah!Cidade. No fundo era um veículo para jornalistas, gente de comunicação, não era um produto de massa”.
Portanto, o Ah!Cidade procurava expor a verdade sobre o que as pessoas percebiam da cidade, fugindo dos cuidados tomados pela maioria dos veículos e dos formatos que adestram e direcionam a profundidade e o olhar sobre os fatos, mas que não era destinado à massa.

Produção
Em seu auge, o site chegou a ter 30 colaboradores. Todos produziam, discutiam e enviavam suas ideias pela internet, uma vez que estavam em diferentes locais. Os colaboradores eram, em geral, pessoas conhecidas, ou como Daniel contou, “conhecidos, conhecidos de conhecidos ou indicações de conhecidos”.
O site, por ter sido financiado pelos criadores, não gerava nenhum tipo de renda, mas as publicações continuavam, como Daniel explica: “Apesar de o site, naquele momento, ser algo que fazíamos em meio período, por assim dizer, e ninguém largou emprego para trabalhar no site, tínhamos uma certa noção de urgência com ele. Não deixávamos textos esperando muito pra serem publicados, ou ideias para serem produzidas”.
Ainda assim, como Florêncio explica, o objetivo era gerar algum lucro com o site, para que todos pudessem se dedicar totalmente a ele. “Desde o primeiro dia esse era nosso objetivo. Remunerar os editores. Remunerar os colaboradores. Contratar alguém para cuidar do site em tempo integral”, conta. Porém, esta perspectiva não é compartilhada por Henrique, que acredita que o jornalismo produzido pelo site perderia o valor ao se envolver com lucros. “Eu acho que jornalismo não devia ter foco em lucro. Ah!Cidade era experimental, free-style. Não podemos condicionar a existência de um projeto desse a retorno financeiro. É até meio bobo, é jogar o jogo dos grandes, e até eles estão levando surra da internet. Nós furamos a mídia local várias vezes, colocamos vários temas na praça com nova perspectiva, mas também publicamos bobagem. É bom se permitir isso”, explica.

Decadência
Diante das pesquisas feitas e da conversa tida com Fabrício Santos (vide 2ª postagem), percebeu-se que a decadência do portal Ah! Cidade deu-se pela distância dos criadores do projeto (Daniel já estava em Londres e Henrique havia se mudado para Paraty) – afinal, manter vivo um site de notícias que fala intimamente da vida de uma cidade estando a quilômetros de distância não é tarefa tão fácil, tampouco prática. Milen diz, inclusive, que um veículo como esse necessita do calor das ruas, da vida das pessoas que fazem o movimentar da cidade – sem contar que nem todas as pessoas estão acostumados com o uso da internet.
Entretanto, a partir das entrevistas feitas posteriormente, foram identificados outros aspectos que resultaram na decadência do postal. Primeiramente, é citado com certa frequência a complexidade da questão financeira envolvida. Desde o início, a ideia era a de que ele atraísse os olhos dos cidadãos e do comércio e conseguisse algum apoio financeiro para sobreviver. "Não há como manter a publicação de textos diários de qualidade, onde se há pesquisa, desenvolvimento, apuração, e, em alguns casos, investigação, sem remuneração", comenta Daniel. Exigir dedicação quando não há vínculo empregatício foi motivo para o início da grande desmotivação dos colaboradores. "Faltou gás também. Não era nada fácil discutir pautas, desenvolver bons artigos, diariamente, com todo mundo dividido entre outros compromissos", fala Henrique.
Com o crescimento do portal, tanto em número de colaboradores, quanto em número de visualizações, apareceram interessados em apoiar financeiramente o Ah! Cidade. De acordo com Florêncio, uma empresa de mídia se candidatou a sindicar o portal. "Mas o fantasma do 'Gagged in Brazil' apareceu", comenta. "Quando o dono da empresa de mídia soube que 'um dos editores do Ah!Cidade era o 'menino' do Gagged in Brazil', a coisa desandou".

A desmotivação dos colaboradores, a falta de recursos financeiros e a produção do polêmico documentário de Daniel abalaram definitivamente as estruturas do portal.


terça-feira, 11 de junho de 2013

Relatório final - Empresas de produção cultural

Chegamos ao fim do projeto com algumas frustrações, muitas esperanças e tendo aprendido e compreendido muito mais sobre o mercado de produção cultural de Minas Gerais do que imaginávamos. Para melhor compreensão, e partindo do pressuposto de que tivemos experiências e impressões diferentes, cada uma de nós desenvolveu sua própria conclusão final para o trabalho. Finalizamos nosso projeto assim:

Conclusão da Marina
Após quase quatro meses pesquisando, vivendo (e sonhando a cada vez mais em trabalhar com produção), foi possível ter uma noção maior desse campo que, até então, apesar de bastante almejado, ainda era quase desconhecido. Inicialmente, o projeto só me mostrou sua face positiva. Os profissionais que conhecemos, seus relatos e experiências e as oportunidades que nos foram dadas serviram para fazer com que o ramo de Produção Cultural brilhasse, ainda mais meus olhos. 

No entanto, com o decorrer do projeto as faces negativas começaram a aparecer. Há duas semanas eu consegui uma oportunidade de estagiar na produção de um festival de música, através da Produtora Cultural Cria Cultura!. Foram seis dias de trabalho, sendo cinco deles na execução do evento e o outro na produtora fazendo a pré-produção. O Festival foi o Conexão BH, que aconteceu no Parque Municipal da cidade e, ao todo, foram mais de 60 atrações, divididas entre shows, discotecagens e intervenções urbanas. 

Otto assistindo a passagem de som da Julieta Venegas (Ah, estagiário de produção não pode tietar!)
Aprendizado 1: É muito trabalho pesado! Inicialmente, eu me candidatei para uma vaga na qual eu trabalharia seis horas por dia, durante cinco dias. Entretanto, as seis horas viraram doze e os cinco dias viraram seis. Essas horas a mais foram essenciais para poder participar da maior parte possível do festival. E foram elas que me ensinaram que não existe isso de estar cansado, de estar com fome, de estar desanimado: a demanda está ali, o serviço precisa ser feito, o artista X precisa estar no palco às 14h para passar o som. Mas, peraí, o artista X ainda está no hotel? Por quê? Precisa mandar busca-lo ur-gen-te! Liga pro produtor, negocia a van, avisa para o responsável pelo palco que o cantor não vai subir enquanto os instrumentos não tiverem sido testados. Leva ele para o camarim A porque no B já tem gente. E, ah, não esquece de pedir a comida para o pessoal da técnica. Você pode estar com fome, mas eles, definitivamente, não trabalham de estômago vazio. 

Julieta Venegas na passagem de som.
Aprendizado 2: Nem todo mundo ama o que está fazendo! Obviamente, em toda a profissão há quem não seja completamente apaixonado pelo que faz. Porém, fica mais difícil de acreditar nesse fator quando tanto trabalho pesado e contínuo está envolvido. A rotina de uma produtora é completamente variável, alterando entre períodos de muito trabalho (geralmente quando um evento se aproxima) e outros de ócio. No entanto, na minha cabeça de quem deseja tanto trabalhar com produção, os eventos seriam o ápice da profissão. É na época deles que mais se trabalha e que mais pessoas ficam estressadas. E também é verdade que, ao final de um evento de sucesso, todos os envolvidos comemoram, agradecem e parabenizam uns aos outros pelo trabalho e fazem uma festa para comemorar. Contudo, ainda que o resultado final tenha sido positivo, alguns pontos no caminho me deixaram um pouco incomodada. Talvez eu tivesse (e acredito que ainda tenha) uma visão ingênua acerca do assunto, mas eu esperava um maior envolvimento dos produtores com o festival. É claro que tiveram muitos completamente envolvidos e que aproveitaram os shows, dançaram e cantaram juntos, conversaram com os artistas mas, claro, sem se eximir de qualquer trabalho. Mas alguns profissionais me deixaram um pouco desanimada. Um promotor X, responsável pelo palco principal do evento, me pareceu muito pouco empolgado em relação às atrações que ele mesmo estava organizando. No terceiro dia de evento, tivemos uma conversa durante uma passagem de som. Estávamos em cima do palco e eu comentei que, na minha visão, o setor que ele produzia deveria ser o mais excitante (além de, claro, trabalhoso). Ele, que até então estava bastante participativo na conversa, me respondeu que isso era bem relativo e que "para o músico que vai tocar deve ser ótimo". Aliado à essa decepção momentânea, minutos depois subiram dois cantores ao palco (os principais, daquela noite e de todo o evento) e quando eu disse ao produtor os seus nomes, ele me disse "Ah, são eles? Não sabia nem a cara deles".

Aprendizado 3: Uma produção, geralmente, é dividida em núcleos e eles são: Produção (por sua vez, dividida em Logística, Portaria, Palcos, Artistas, Bilheteria e Montagem) Comunicação, Técnica, Segurança, Bares, Limpeza e Coleta. Todos esses estão englobados e devem ser geridos pela Produtora Cultural. Cada um, normalmente, tem o seu coordenador, que é a pessoa responsável por resolver qualquer problema relativo à área. 

Aprendizado 4: Por uma questão de fluxo de eventos em Belo Horizonte, as produtoras, muitas vezes, lançam mão de freelancers para compor o seu evento. No Conexão BH isso foi bastante comum e grande parte dos coordenadores não eram funcionários regulares da empresa.

Ao final dos quatro meses de projeto, considero que todas as experiências foram bastante válidas, desde ao show que, ainda que minimamente, pudemos acompanhar com a W3 Entretenimento, até a experiência de viver e trabalhar com uma produção durante todo um evento. Acredito que por essas experiências foi possível enxergar bastante o modo como as Produtoras mineiras trabalham. Obviamente, não foi possível sanar todas os questionamentos acerca da profissão, mas, após o convívio com diferentes tipos de produtores no Conexão BH, pude perceber que ainda somos muito amadores quando se trata de Produção. As produções de outros estados e, claro, as internacionais, dão um show em estrutura e organização. Pelo menos, foi o que me afirmaram diversas produtores que, apesar de estarem trabalhando no Conexão BH, já atuaram em eventos maiores, como o show do Paul McCartney no Mineirão. Resta agora sonhar mais alto, traçar mais metas e estar disposta a levar muito artista pra passagem de som para conseguir se aproximar de outras produtoras (e, ah, claro, não esquecer do lanche do pessoal da técnica!).
___

Conclusão da Luiza
Ao longo dos últimos meses, pudemos nos dedicar a entender um setor da comunicação que sempre me atraiu. E dessa forma, percebi o quão pouco eu realmente conhecia sobre produção cultural. Cria-se uma espécie de glamour envolvendo as profissões que circundam o ambiente do show business e acabamos ignorando o fato de que, se realmente há esse glamour, passa longe do trabalho pesado intelectual e, por que não dizer, físico concernente à produção de um evento. 

Via ali, aquele núcleo de empresas de produção mineiras como as salvadoras, aquelas que traziam a cultura para dentro de Minas Gerais, um mercado que para mim era fechado e com poucas oportunidades. Tal fato alimentava em mim um certo medo quando pensava em me aventurar por essa área profissional. Só provei minha inocência e ignorância. 

Para mim, o primeiro mito que caiu foi o endeusamento das duas grandes produtoras mineiras, a Nó de Rosa e a Malab Produções.Um dos motivos foi a dor de cotovelo de passarmos quase três meses em contato com ambas e sermos enroladas até o fim do trabalho, não tendo conseguido acompanhar nada, de nenhuma delas. O segundo e derradeiro motivo foi a descoberta do modelo colaborativo de produção, que me encantou e conquistou. 

Belo Horizonte tem um mercado legal sim, e muitos eventos culturais acontecem aqui muitas vezes sem nenhum apoio ou respaldo das nossas “gigantes” produtoras. Organizados em Coletivos, a força motriz que quer agitar a cultura da cidade pincela aqui e ali Duelos de MC’s, pequenos festivais de música independente, shows com bandas do cenário underground da capital. 

Me descobri parte dessa parcela da juventude mineira ao ser convidada à integrar o Coletivo Calcariu, logo depois que participei do evento Lagoa Interativa (já narrado por nós, na primeira postagem). Já pedindo desculpas pelo clichê, mas foi como um mundo novo se abrindo ali, na minha frente. E me chamando para entrar. 


De lá pra cá, desde a primeira postagem, aprendi e entendi como se dá uma produção assim, com um orçamento apertado, muitos colaboradores e muita disposição para fazer o esquema tomar forma e virar realidade. Entrei de cabeça nessa experiência, tendo auxiliado e também aproveitado tudo de bom que ela pode me trazer. Me encanta a horizontalidade da organização do Coletivo, onde eu, que entrei para o grupo em abril, tenho o mesmo poder de voto e a mesma força de trabalho do que os meninos que fundaram o Calcariu, há três anos atrás. 

Desde então, já participamos de duas importantes reuniões na prefeitura de Lagoa Santa, firmamos parcerias muito bacanas e estamos em fase de organização de um festival itinerante que irá movimentar a cidade nos próximos seis meses. 

Coletivo Calcariu (e eu!) em reunião com representantes da Prefeitura de Lagoa Santa
Também me conquista o fato de que todos aqueles envolvidos ali (pelo menos no Coletivo Calcariu) estão por vontade, porque querem ver a cultura acontecer e, porque não dizer, pelo amor genuíno à arte. À música. À cultura. Não gira dinheiro na mão de nenhum integrante. Tudo o que entra é investido em eventos e realizações do coletivo. Sendo possível a criação de um ciclo vicioso salutar, se posso dizer isso, onde cultura vira dinheiro, que vira cultura novamente. E assim sucessivamente. 

E, apesar de ser uma produção suada, é de extrema importância primar pela a qualidade impecável de tudo: estrutura, som, luzes, bandas, segurança, etc. E no final, é muito legal ver que tudo isso dar certo. 

Outro aspecto que achei muito interessante é a relação de amizade entre os coletivos da região metropolitana. Existe, não sei se é de conhecimento de todos, o CMC – Circuito Metropolitano de Cultura, que integra todos os artistas da região metropolitana de BH em ações culturais diversas. 

Pude entender um pouco melhor também a relação, muitas vezes conflituosa, entre os coletivos e a Casa Fora do Eixo, um grande conjunto de coletivos de produção artística e cultural. Ficou a imagem de que a estrutura Fora do Eixo está fadada ao desgaste e deterioração. 

Ainda busco compreender, e acredito que será possível, a lógica das leis de incentivo na realização de grandes eventos, prática recorrente na produção colaborativa. Usaremos esse recurso na realização do Festival Mamute, em outubro. 

Por fim, acredito que um dos maiores aprendizados nesses poucos meses de Coletivo e de desenvolvimento desse trabalho foi de que a cultura em BH está em pleno vapor. Temos bandas incríveis surgindo em todos os bairros, em todas as cidades da RM. E ficou aquela pulga atrás de orelha: porque damos mais valor à quem traz atrações de fora, do que aqueles que suam para construir uma plataforma para os próprios artistas mineiros se consolidarem no mercado do estado?
___

Acho que uma conclusão geral que fica é a de que, acima de tudo, nos envolvemos muito e nos divertimos durante o desenvolvimento do trabalho. E que ficamos, as duas, cheias de esperanças e com uma vontade grande de perseguir uma carreira na área de produção cultural. 

TPM e Nova: As diferentes abordagens das revistas femininas

Luísa Teixeira de Paula, Nina Rocha e Thaiane Bueno

Você lê revistas femininas? Quais? E por quê? Partindo destas três perguntas básicas e universais, entrevistamos 34 mulheres para entender um pouco mais sobre a participação da Tpm e da Nova no mercado editorial, além de saber o que faz com que suas leitoras de fato se tornem fiéis à essas publicações.
A partir do contexto sociocultural em que vivem as jovens mulheres - a grande maioria das entrevistadas é universitária, vive em Belo Horizonte e tem entre 18 e 25 anos -, algumas respostas já eram esperadas, como o fato de muitas meninas preferirem acompanhar sites e blogs ao invés de publicações impressas. Mas ainda assim o resultado conseguiu surpreender: 29,41% do total de participantes não lê revistas femininas. A principal justificativa: as publicações são ultrapassadas.
“Revistas são tendenciosas demais, machistas demais, burras demais e atrasadas demais”, diz Alice Rangel. Dan Costa, estudante de Teatro, completa: “as revistas femininas tentam vender um estereótipo de mulher que não existe ou que não concordo: tem que ser bem sucedida, feliz, boa de cama, agradar seu homem, segurar seu homem, estar em forma, ter dinheiro e sucesso, manter seu homem, viajar com seu homem, estar na moda, antenada, saber fazer seu homem ir ao delírio. Viu quanta chatice?”. A questão sobre o machismo que está presente em  diferentes aspectos nas publicações do gênero não foi abandonada.  “Todas possuem,  em maior ou menor grau, um conteúdo bem machista, que vive dizendo como nós deveríamos nos comportar para agradar mais o homem”. Ainda assim, todas elas - sem qualquer exceção - disseram acompanhar sites e blogs que abordam os mesmos conteúdos das publicações.
No entanto, a grande maioria das entrevistadas disse ler alguma revista feminina frequentemente: 70,59% delas. Para o dono da Banca de Revistas Carandaí, localizada no número 1709 da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, a justificativa não é mirabolante: é mesmo o hábito de leitura. Roberta Riquette é um exemplo. Leitora da revista Nova, ela afirma não ter tempo para ler coisas que fogem do seu projeto de mestrado. “Mas gosto de lê-la esporadicamente quando vou ao clube, por exemplo! Gosto de sempre ter uma pra tomar um solzinho!” afirma.
Ainda que João Paulo, da banca, tenha afirmado que a Nova é uma das três publicações do gênero mais vendidas em sua banca, no grupo de entrevistadas a tendência é outra: 14,705% das meninas leem Tpm, enquanto apenas 11,76% lê Nova. Nenhuma das jovens mulheres afirmou ler as duas.
As moças Tpm afirmam serem fiéis à publicação pelos temas pouco comuns que fazem parte de seu projeto editorial. “Gosto dela por ter algumas matérias informativas, com novidades culturais ou só divertidas mesmo que não tentam me vender um produto. Ela tenta não agregar os conceitos de padrão, apesar de por muito só ficar na tentativa mesmo”, diz Raquel Brilhante. Para Luíza Glória, jornalista, a revista tem textos longos e “uma narrativa bacanérrima”. Além do ensaio masculino. “Não pornô, sensual, de homens aleátorios. Acho isso mara” completa ela.
O sexo é um dos aspectos mais importantes destacados pelas leitoras, especialmente para o percentual de mulheres leitoras de Nova. De acordo com Roberta Riquette, este é o ponto alto da revista: “acho ela mais picante! Fala a verdade sobre nosso universo com relação a esse tema! As outras são meio fraquinhas”. A estudante universitária Camila Lima concorda, ainda que com vergonha: “coisas de cabelo também eu gosto, mas acho que o diferencial da nova é mesmo essa parte de sexo!”.
Apesar de todas as diferenças apontadas pelo público consumidor, de acordo com o especialista em vendas da Banca Carandaí, João Paulo, o mercado das duas publicações não é tão diferente assim: “Eu vendo mais Nova do que Tpm, mas não vejo muita diferença entre as mulheres que compram”.

Ainda que bastante diferentes, as revistas Nova e Tpm têm muito em comum. Não apenas pelo mercado consumidor, pelas seções ou pelo preço. Elas apresentam uma maneira de ver o mundo que, apesar de estarem separadas em maior ou menor grau por diferentes aspectos, é compartilhada pelas mulheres que se inserem naquele contexto em que as publicações são veiculadas. Na verdade, as diferenças entre elas são apenas um lembrete de que opiniões diversas sobre o mesmo assunto são sempre bem-vindas e que juntas, elas podem sim, abranger um número cada vez maior de mulheres que escolheram continuar com o hábito de ler revistas femininas. E nisso, o percentual de 44,13% de outras mulheres que leem Gloss, Marie Claire, Women’s Health, Ana Maria, Lola, Vogue, Elle, Casa Claudia, Vice, Caras, Runners e Boa Forma também é beneficiado.

Mais uma vez, as diferenças entre a linha editorial da revista já fica bem definida só por essas capas. Para começar, dessa vez a TPM optou por lançar três opções diferentes: a revista pode ser estampada por Alinne Moraes, Ana Paula Padrão ou Milhem Cortaz. Através dessa escolha temos uma mostra da dinamicidade que faz parte da revista, além da tentativa de agradar a diferentes gostos. Já quem estampa a Nova é a apresentadora Ana Hickmann. Novamente, as cores fortes se destacam, sendo que a escolha da vez foi o roxo. Tanto o fundo quanto a roupa da apresentadora são dessa cor. A cor da Nova de maio pode parecer neutra quando comparamos ao vermelho do mês anterior, mas se colocada ao lado da TPM, que tem um fundo branco, a coloração se destaca.

O principal título da Nova é "Guia de sexo", mantendo a tradição da revista de dar dicas relacionadas à essa temática. Abaixo ainda temos a frase "Ideias, posições e acessórios para estar seeempre a fim", além de outras chamadas relacionadas a relacionamentos espalhadas pela capa, como "Quando o ciúme pode salvar seu relacionamento" e "Chega de perder tempo. Como encontrar o homem que VOCÊ merece". Enquanto isso, o título da TPM que mais se aproxima da temática sexual é o que diz "ENSAIO: Rodrigo Oliveira, chef do restaurante Mocotó, mostra seus dotes". Na Nova, além dos títulos já apresentados, que remetem à obrigatoriedade que a mulher deveria ter em agradar ao homem e à necessidade de encontrar a pessoa certa para casar, ainda temos um lembrete do papel reprodutor da mulher dentro de uma sociedade patriarcal através do título "congelamento de óvulos: vale a pena?".


Em contraste à Nova, que traz várias chamadas que remetem à ideia de como ser uma mulher ideal, a TPM tem como o tema de maio "A nova mulher prendada - É possível ser dona de casa e independente?". A partir disso, a revista apresenta matérias que discutem a questão da possibilidade de escolha da mulher, que é exatamente o que a diferencia da "Amélia" do passado. As chamadas da capa também rementem à questão da divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres, o que se relaciona com a versão da revista que é estampada  por Milhem Cortaz. Na foto ele aparece usando um roupão feminino, brincos, luvas de latex e segura um espanador. Quem também aparece usando luvas de latex e segurando um espanador é Alinne Moraes. Apesar dos adereços de dona de casa, essa é a capa que nós julgamos mais sensual das três. No caso, a sensualidade se dá principalmente pela calça vermelha justa e pelo olhar da atriz. Essa é uma sensualidade muito mais sutil do que a da capa da Nova, onde Ana Hickmann está usando uma blusa justa que deixa a barriga a mostra, além da saia curta e também justa. Por fim, há também a capa figurada por Ana Paula Padrão. A hipótese que levantamos sobre essa versão é que nela a jornalista é apresentada vestindo roupas bem simples: jeans, camiseta cinza e um suéter de lã. Isso se contrapõe à visão glamourosa muitas vezes atribuída à posição que ela ocupava na bancada de um telejornal. Além disso, se relaciona à discussão feita na revista sobre a possibilidade que a mulher tem de escolher não priorizar a carreira profissional, mas sim a vida pessoal e seus objetivos e metas próprios.






Sucesso de vendas? Jornal Super ou Aqui?







Nossa proposta inicial era analisar as capas dos Jornais Super Notícia e o Aqui, baseando em  suas histórias e o sucesso. Mas, como não obtivemos muito êxito nos contatos feitos com este segundo, ficamos restritos de informações para tal comparação e decidimos expandir os pontos do estudo. Por isso, o post de hoje é focado nas formas de venda, números e justificativas da preferência.

Circulei pelo centro da cidade a procura de leitores destes jornais e dos pontos de venda. Nestes pontos eu perguntei qual era o mais vendido, se imaginavam o porquê deste resultado e se achavam que os vendedores avulsos eram, de alguma forma, uma concorrência.

obs: Tentei descrever as respostas de forma mais fiel possível, porque acho importante para enfatizar principalmente a questão da diferença das vendas. Eu, particularmente, fiquei surpresa com este ponto e quis tentar repassar o quão óbvio é para quem vende.
Outra questão é que como as respostas dos vendedores geralmente se semelhavam, resolvi escolher apenas 4 contendo um ponto com diferença, e uma vendedora avulsa do Aqui (não encontrei com os do Super).

Wanir Moreira, 46 anos (Banca de Jornal na Rua Augusto de Lima)
(risos) O Super vende muito, muito mais. Eu pego 300 exemplares do Super e 50 do Aqui e muitas vezes o Super acaba mais rápido. Trabalho com esses jornais desde que começaram, acho que ele vende mais porque é mais completo, é mais antigo também né, o Aqui é uma cópia ruim. Não vejo os vendedores avulsos por aqui.

Orlando Pereira, 49 anos (Banca de Jornal na Rua Espirito Santo)
O Super ganha de 10 a 0. Eu pego 90 dele e 9 Aqui e o Super acaba mais rápido. Eles mandam de acordo com as vendas né. Não sei porque vende mais, pra mim todos os dois são ruins, custam o mesmo preço, só tem tragédia... As pessoas nem devem ler, compram até sem querer, esse jornal (Super) já virou mito.

Ernane Teixeira, 50 anos (Banca de Jornal na Avenida Afonso Pena)
O Super vende muito mais, eu pego 80 e 10 Aqui e todo dia o Super acaba. Não sei porque compram mais ele porque as matérias são as mesmas. Deve ser pela capa que tem mais destaque. Não acho que os ambulantes são concorrência porque eles tem outro público né. O meu público é mais fiel, geralmente é quem sempre passa aqui para trabalha e aproveita para comprar o jornal.

Wellerson Tiago, 32 anos (Banca de Jornal no Bairro Concórdia)
Hoje, por exemplo, recebi 55 Super e 10 Aqui. Super sai muito mais, ele acaba e o Aqui sobra. Acho que a leitura do Super é melhor, é mais atrativa. O Aqui tem muitos erros de gramática -  não que o Super não tenha, mas o Aqui tem mais – e a leitura é mais chata também.

Tania Marcia, 39 anos (vendedora avulsa do Aqui na Rua Rio de Janeiro com Tupinambás)
Para vender tem que fazer uma inscrição. Eu não tive treinamento porque já vendia o jornal no sinal e isso me ajudou porque ganhei pratica e clientes que continuam até hoje. Eu trabalho das 5h ás 10:30h, não acho cansativo vender, só acho cansativo acordar cedo. O Aqui tem pouca saída, pego 80 e vendo 60 mais ou menos (segunda é o dia que mais vende), o Estado de Minas sai mais. Eu recebo 520 reais e não ganho comissão porque não consigo bater a meta de vender mais de 80 Aqui e 1 Estado.

Aos leitores:

Foto: Euler Júnior
Foto: Euler Júnior

Aiton Lemos, 42 anos, porteiro
Eu leio diversos jornais e acho que esses fazem sucesso porque tem o que está no dia a dia das pessoas: noticias, futebol, novela, trabalho. Eu, particularmente, leio mais pelo futebol. Prefiro o Super ao Aqui porque ele tem mais conteúdo.

Isabel Regina, 40 anos, trocadora de ônibus
(com o Jornal Super em mãos) Não gosto do Aqui, nunca compraria ele. Ele não tem nada que presta.

Mateus Maciel, 19 anos, estudante de publicidade
Prefiro jornais menos populares, mas temos que ler de tudo e todos né. Comparando os dois, eu prefiro o Super porque ele é muito melhor visivelmente, a capa é mais bonita e a estética é a primeira coisa que atrai.

A Natália também fez uma pesquisa  e relatou: Dos 23 leitores do Super (10 na banca da Praça 7 e 13 na banca do bairro Ouro Preto, perto da Av Fleming) 17 responderam que compravam pelo preço (todas as do bairro Ouro Preto responderam assim), 4 responderam que era para saber do que está acontecendo, sem saber diferenciar entre os jornais e os 2 restantes não souberam responder.

O futebol nos bares #3

Dia 22 de maio, às 22h
Jogo de Cruzeiro x Resende [CB]
Churrascaria e Pizzaria da Praça, na Praça Raul Soares [CENTRO]

Eduarda Rodrigues estava presente.

A noite de quarta-feira, dia 22 de maio, era muito esperada pela torcida cruzeirense. O reforço do time, Dedé, jogaria pela primeira vez com a camisa celeste. O movimento nos bares do centro era intenso, mesmo com o jogo acontecendo em Belo Horizonte. Talvez por causa do horário muita gente preferiu não se deslocar até o Mineirão, na Região da Pampulha, e ficar na área central. Esse é caso dos estudantes da UFMG que acompanhei dessa vez: todos homens, heterossexuais, um público bem comum de jogos de futebol.

Entre eles estava meu namorado, minha companhia constante nesse tipo de evento. A chegada ao bar foi tranquila, estávamos todos cansados e esperando tomar uma cerveja para animar a noite. Foi a segunda vez que assisti a um jogo neste bar para nosso estudo, mas talvez a vigésima que venho aqui desde que me mudei para BH, buscando quase sempre partidas que não são televisionadas na TV aberta. Posso dizer que tenho costume e um grande gosto pelo esporte e principalmente pelo Cruzeiro.

O jogo em si foi tranquilo, Cruzeiro passou sem dificuldade pelo rival Resende com um placar de 4x0. Só notei torcedores cruzeirenses e esses estavam tentando esquecer a derrota do Campeonato no fim de semana. Na verdade, a final era o principal assunto em todas as mesas. Até os garçons paravam para conversar comigo e com meus acompanhantes sempre que havia um tempinho no atendimento, todos queriam relembrar os lances do domingo e às vezes nem davam muita atenção à tela.

O comportamento das pessoas na minha mesa foi aquele que eu bem conhecia. Reclamações, bebidas e mais reclamações dirigidas para a TV. De modo geral, todos os que demonstravam atenção para a TV pareciam ter que reclamar em alto e bom som sobre algum lance do jogo para destacar que estavam dentro daquele grupo: público de futebol em bares.

Em um bar com um público homossexual mais acentuado, as maneiras de se portar não parecem mudar muito dos outros bares. Existem os mesmo grupos, a galera do radinho (que quer saber dos lances antes e escutar a narração), as namoradas acompanhantes (eu me encaixo um pouco aí), os fanáticos que se sentam sozinhos em uma mesa, os que olham pelo canto do olho e os amigos reunidos. Sem dúvida nenhuma, a última é uma das melhores maneiras de se aproveitar bem um jogo em um bar, pelo menos em minha opinião. E uma das razões pela qual muitas pessoas escolhem ir até um, justamente porque o bar proporciona uma interação social num dos assuntos preferidos dos brasileiros: o futebol. E todos os rapazes que estavam comigo concordam com isso.

*os moços não quiseram ser identificados

Dia 26 de maio, às 18h30
Jogo de Cruzeiro x Goiás [CB]
Praça Coração Eucarístico [C.E.]

Leonardo Ribeiro, Lucas Afonso Sepulveda e José Henrique Pires estavam presentes.

Nunca tínhamos assistido a uma partida de futebol na pracinha da PUC e é impressionante como a dinâmica do local se altera em dia de jogo. Acostumados a ver todos os bares lotados, nesta tarde de jogo o público se concentrou em três: o Tacos, Meu Favorito e o Bar do Lombinho. O A Granel, famoso na região, sempre com música ao vivo, era uma opção para aqueles que não queriam assistir ao jogo – mas o bar que estava às moscas. Podíamos contar nos dedos da mão o número de pessoas ali.

No mesmo horário de Cruzeiro e Goiás acontecia uma partida entre Atlético Mineiro e Coritiba, mas nenhum dos bares transmitia o jogo do Galo. Era a mesma partida nos televisores, mas cada bar tinha um público diferente. O Bar do Lombinho contava com mais famílias, pessoas mais velhas; no Meu Favorito, eram mais casais e alguns jovens, que se misturavam com o público do bar anterior (estes são muito próximos); no Tacos, se via turmas de amigos, jovens, reunidos, a maioria uniformizada.

O comportamento nesses três butecos era bem semelhante ao que tinha sido observado nos outros bares que fomos. Pessoas mais velhas ficavam com o radinho próximo ao ouvido e o ligavam nos lances perigosos para adiantar o resultado. Já as crianças, que acompanhavam os pais, pareciam mais interessadas nos espetos de queijo do que em qualquer outra coisa. Algumas garotas que pareciam estar apenas acompanhando seus supostos namorados, não tiravam os olhos do celular. Os garços, no entanto, não assistiam tanto ao jogo. Era pouco o número de funcionários para atender as mesas e eles só conseguiam espiar o televisor.

Notamos uma garota sozinha, que parecia a espera de alguém, próxima ao Bar do Lombinho, por bons minutos. Assim que suas amigas chegaram, elas atravessaram a rua e foram para o Tacos. Por ter um público jovem mais concentrado, sentimos que no nesse segundo bar, existia um clima maior de paquera. Provavelmente, parte das pessoas ali não vieram para ver o Atlético jogar.

Os cruzeirenses comemoraram. O futebol nos bares pode ser menos sobre o futebol em si e mais sobre a comemoração. Ou até, a derrota. Os clientes estão ali, bebendo nos seus uniformes, ou carregando suas bandeiras, xingando o juiz, gritando para os jogadores na TV. Eles cultivam algo em comum e nós, apenas por permanecermos ali por poucas horas, também sentimos compartilhar dessa mesma comoção.

Mesmo que fosse por só essas poucas horas.

***

A SAIDEIRA


Em dias de jogo, os principais bares de Belo Horizonte vão estar cheios, principalmente quando se trata de um clássico ou final de campeonato. Quem quer se refugiar das mesas atleticanas e cruzeirenses consegue, no máximo, um buteco de bairro ou um copo-sujo sem televisão.
Ainda continuo sem entender muito do fanatismo dos torcedores. É como se as agregações, os símbolos e a competição fossem parte de uma disputa quase religiosa, entre partidos nos quais eu não consigo tomar parte. No entanto, sentei com esses torcedores nos bares, bebi com eles e assisti aos jogos de seus times.
Ainda assim, consegui perceber que o sentimento de comunidade vai muito além do esporte, do monitor na tela e as camisas e bandeiras. É sobre procurar semelhantes, sentir parte de um grupo e compartilhar os mesmos entendimentos. 
Isso, é claro, não seria diferente nas mesas de bar.
Lucas Afonso

Durante três meses acompanhei cerca de dez partidas de futebol nos mais variados bares de Belo Horizonte com meus colegas de Projetos B1. Como sou a única mulher do grupo, poderia ser a menos habituada aos espaços, mas não. Sempre tive o costume de assistir jogos do meu time nos bares da minha cidade, seja com meus pais, minha família, meu namorado ou amigos. O hábito se manteve quando me mudei para Belo Horizonte. 
Reconheço que há muitas diferenças entre os ambientes no interior de Minas Gerais e os daqui da capital. Talvez a mais importante seja o fato de meu pai nunca me deixou assistir a nenhum jogo sozinha lá em Paineiras, mas aqui em Belo Horizonte isso se mostra possível. Sinto-me mais segura do machismo que muitas vezes domina os bares durante os jogos e me atrevo beber uma cerveja tranquilamente no centro de BH. Claro que a graça toda de uma partida, pelo menos pra mim, está nas pessoas que me acompanham para torcer junto.

Quando nos propomos a analisar a recepção de jogos em Belo Horizonte, eu não sabia muito bem o que esperar. Afinal, nunca tinha olhado muito para outra coisa que não para a TV, para os petiscos e para as pessoas da minha mesa. Acabei observando algumas coisas bem interessantes.

Em primeiro lugar, achava que as pessoas que se deslocam de sua casa para ir a um ambiente barulhento e cheio nos horários das partidas, deveriam necessariamente gostar de futebol. Mas existem outros motivos que podem levar alguém até um bar. Muitas mulheres que acompanham maridos e namorados chegam a se sentar de costas para a TV. Mas não notei nenhum rapaz que não goste do esporte acompanhe uma mulher fanática. Alguns homens, por sua vez, não se importam nada o jogo, conversam, comem e ficam no celular, um pouco alheios ao que acontece.

Claro que os casos acima são extremos, existe torcedores de todos os tipos. Desde os que acompanham pelo rádio enquanto assistem à televisão até os que dão umas olhadelas quando dá, comemoram quando fazem um gol, mas encaram o momento quase que como uma balada, uma saída.

Outra coisa importante que percebo dos bares que acompanhamos é que a relação entre torcedores está menos hostil. Talvez porque não fomos tanto a clássicos e também porque os bares não costumam incentivar a reunião de torcidas rivais. É uma postura saudável e que torna os estabelecimentos lugares agradáveis.
Eduarda Rodrigues



O futebol é uma das maiores paixões brasileiras, e quando os jogos são transmitidos em bares, estes se tornam verdadeiras arenas dessa paixão. Pelo menos foi esse pensamento que tinha quando comecei a desenvolver a pesquisa de recepção de jogos de futebol em bares de Belo Horizonte.
Porém, nas várias vezes que fui aos bares, lotados ou não, pude perceber que o futebol não era a única atração dos locais. A maioria estava ali pela diversão que estes momentos ofereciam: cervejas, petiscos, amigos, conversa fiada e namoro. De todos os bares que fui, não consigo me lembrar de pessoas que estavam atentas somente ao jogo. A atenção é difusa, e por isso talvez o narrador tenha que gritar tanto, para sempre chamar o publico de volta para a partida.
Nesse sentido, é interessante observar que os bares são mais que simples locais para assistir partidas. Estas partidas criam ambientes de sociabilidade e momentos de interação lúdica. Se antes pensamos em observar a interação entre o telespectador e a televisão, pudemos perceber que esta interação passa também pelo garçom, pelas ruas, pela mesa do lado, etc.
É importante lembrar que, mesmo que sejam espaços de sociabilidade, o futebol continua sendo a motivação das pessoas estarem ali. A paixão pelo futebol é significativa, o publico grita, se revolta, comemora e discute. E por meio de todo o processo e visitas a bares que fizemos, o que ficou claro é que os torcedores estão ali, torcendo e gritando pelos seus times, mas entre um gol e outro, sempre rola um gole na cerveja e um papo com os amigos.
José Henrique Pires

O curso de Comunicação da UFMG costuma oferecer muitas matérias voltadas para a área política, mas acaba não dando tanta importância para os "outros encartes" do jornal. Como jornalista em formação eu sempre me senti na obrigação de conhecer estas outras áreas e por isso logo aceitei o tema "futebol nos bares" no Projetos B1.
Sou cruzeirense não-fanático. Isso significa que nunca parei para realmente assistir e apreciar um jogo na TV (a menos que fosse do Sada Cruzeiro, mas já se trata de outro esporte que não foi abordado no trabalho) e principalmente sair de casa para ir a um bar. Confesso que ir para as ruas na data marcada dos jogos para observar toda aquela gente era um sacrifício. Porém, ao chegar, tudo era diferente. Encontrar com os amigos, tomar uma cerveja, comer petiscos, observar as pessoas e até assistir ao jogo era divertido. Vibrei, achei graça, torci contra o adversário e quando percebi, eu tinha me tornado parte da freguesia. Inicialmente, ao estruturar o trabalho, achei que ele tomaria rumos muito mais técnicos, mas a mudança metodológica foi válida (e bem mais prazerosa).
Hoje eu já posso dizer que eu conheço mais que Dagoberto, Leandro Guerreiro, Borges, Fábio, Diego Souza e mais meia dúzia de jogadores do Cruzeiro. Agora eu sei até a escalação do Atlético. Pelo visto não ficarei tão desesperado se um dia uma pauta dessas cair na minha mão.
Leonardo Vieira 

Perfil MGTV: análise, comentários e conclusão #3

por Adélia Oliveira, Cristiane Duarte, Marlon Henrique, Melissa Neves e Victor Lambertucci


    O propósito deste terceiro e último post é trazer uma análise dos mapas da abrangência do quadro “VC no MGTV”, disponibilizados no segundo post, e o comentário dos integrantes do grupo sobre este projeto que se propôs discutir um dos telejornais locais brasileiros mais tradicionais. Antes de prosseguirmos, faremos um breve parêntesis afim de complementar a discussão central do segundo post.


      No último post, apresentamos um contraponto entre a prestação de serviço e a autopromoção na Rede Globo e mais especificamente no objeto de estudo deste projeto, o MGTV. O telejornal abre espaço para quadros como o “VC no MGTV” e “Parceiro do MGTV”, o que representa o olhar para a comunidade, mas, ao mesmo tempo, não perde a oportunidade de divulgar a marca da emissora e frisar de que “esse é um projeto Rede Globo!”. Críticas cabíveis ao tempo destinado à autopromoção, ressaltamos a questão de que por trás da tela há uma empresa que, como todas as outras, precisa vender o produto – “seu peixe” – e divulgá-lo.  

      No artigo “Nos bastidores do entretenimento: a ação promocional” (disponível em: http://migre.me/eYBZD), a autora Marília Lília Dias fundamenta a discussão. De acordo com a pesquisadora, paralelamente às funções tradicionais da televisão, há uma que lhe é inerente e que se vincula às outras tantas: “a função promocional”. Ela explica que “dado caráter comercial das emissoras de televisão no Brasil, elas (as emissoras) precisam desdobrar-se entre o seu papel de veículo de comunicação – efeito comunicativo – e a sua condição de empresa de atuação no mercado (operação mercadológica)”. Essa personalidade dupla, por assim dizer, obriga que as TVs tenham a tarefa simultânea de qualificar sua produção e de buscar a maneira adequada de divulgá-la, ressalta Marília. A partir da fala da autora, é possível falar de uma diluição da “autopropaganda” não só nos intervalos comerciais, mas, de modo crescente, na fala dos apresentadores e no próprio conteúdo jornalístico. Marília Lília Dias afirma que há quem diga que “nunca se fala de alguma coisa antes de falar de si mesmo e essa tem sido a tônica das emissoras de televisão no país”.







    
    No decorrer do desenvolvimento do nosso projeto, pude perceber que o MGTV vem se adaptando no decorrer dos anos, com o objetivo não só de manter, mas também de aumentar seu público. É possível notar que o jornal apresenta um conteúdo variado, que vai de pautas sérias - como furos diários-, até matérias mais leves – como dicas de moda, que têm o papel de amenizar a “dureza” das outras notícias. Após analisar alguns quadros do telejornal, compreendi que a autopromoção não é um fator negativo do MGTV, uma vez que esta proporciona benefícios tanto para o público, quanto para o telejornal, como exemplo, o novo quadro “Parceiros MGTV”, que além de proporcionar a ampliação jornalística por parte do jornal, consegue retratar assuntos pontuais de certas regiões, que por sua vez favorecem o aumento da audiência do jornal.






    
    Realmente uma forma de conquistar novos públicos é indo a eles e, sobretudo, fomentando a participação direta desses com a programação das edições do programa MGTV. De fato, iniciativas participativas desse modelo possuem em si grande capacidade de sucesso, uma vez que , além de “alcançar” diferentes localidades e realidades, ainda, trás novos olhares a respeito de temas que , de certa forma, quem de fato vivencia pode dizer melhor: como em casos de lixões próximos às residências e a conseqüência negativa que estes trazem para os moradores das imediações: ratos, escorpiões, mal cheiro, etc. Também a questão dos custos para a execução de programas nos quais a própria população faz, deve sim ser mais barato. Haja vista que não há obrigação de ter profissionais acompanhando o tempo todo, como também, não há necessidade de deslocar uma equipe e sua logística completa para todas as localidades. É de fato um “dividir pra conquistar” de baixo custo , com chance de resultados satisfatórios e diversificados. Ainda a auto promoção a que o jornal se propõe e que não é resumida apenas nele mas em toda a emissora da Globo, é algo praticado e talvez até legitimado pelos telespectadores, afinal, há quem se orgulhe de assistir um telejornal ou emissora que está e/ou participa de iniciativas em seu bairro, em seu Estado e em seu país.







    Ao chegar à reta final do projeto pude perceber o quanto pode ser complexa a relação do MGTV com as localidades mostradas em seus quadros participativos como o “Você no MGTV”. A aparição de uma determinada localidade pode envolver diversos fatores como: público-alvo do telejornal, relevância do local em nível estadual e, os problemas abordados. Nesse sentido, é possível compreender algumas escolhas realizadas pela TV Globo, mediante ao perfil e objetivos do telejornal. Com isso, penso que o grupo conseguiu pontuar algumas questões que ainda devem ser aprofundadas, mas que abrem questionamentos pertinentes acerca do mundo possível de Minas Gerais retratado pelo MGTV. Por fim, gostaria de pontuar que, em minha opinião, o telejornal, embora com boas intenções, necessite de se aprofundar nas questões sociais e se distanciar da imagem de um simples mediador entre população e Estado.







    É certo que a prioridade conferida às noticias locais e ao jornalismo comunitário pelo MGTV ( primeira edição) contribui para sua aproximação do público. Isso porque, quanto mais relacionado à realidade do espectador, mais identificação com o conteúdo e com a forma do telejornal será provocada. Essa constatação foi reforçada ao longo da realização deste trabalho e trouxe à tona outro aspecto: a autopromoção. Por se tratar de um jornal transmitido no horário do almoço, o entretenimento é um traço presente e abre espaço para a promoção institucional, assim como o faz a aproximação do público. Há que se destacar ainda, que, independente de sua pertinência, a autopromoção é algo eficiente, no sentido mercadológico, para a sobrevivência de qualquer emissora e afiliada.


    Sou telespectador do MGTV há muito tempo e quando o coloco em comparação com o principal concorrente, Jornal da Alterosa, particularmente prefiro o primeiro, pela credibilidade e autoridade conquistados nos 40 anos de existência. A questão da autopromoção discutida neste trabalho é mesmo delicada quando paramos para pensar até que ponto é intrínseca à televisão e aos meios de comunicação e quando chega a um limite, no qual acaba se sobrepondo à informação e prestação de serviço ou se confunde com estes dois últimos. Fica muitas vezes a pergunta, não só no caso desse objeto, mas dos produtos midiáticos em geral: “fazem isso por audiência ou por responsabilidade social?”. Independente dessa motivação maior, quando projetos como o “Parceiros do MGTV” são colocados em prática é pelo menos razoável reconhecer sua relevância e valor, mesmo que críticas possam ser feitas.



   Após assistirmos ao quadro “Você no MGTV” e coletarmos informações sobre as localidades exibidas nos meses de janeiro, fevereiro e março do ano de 2013 foi possível a construção de mapas, que permitiram analisar de forma mais detalhada aspectos relacionados ao quadro do telejornal. Nele é possível observar que no período observado foram exibidos 30 locais da cidade de Belo Horizonte de um total de 52, representando cerca de 55 % do total, ou seja, pouco mais da metade. 

Tabela 1 - Cidades contempladas no "VC no MGTV"

   Com isso, os mapas demonstram que há sim cidades mais recorrentes no quadro do “Você no MGTV”, sendo a principal delas Belo Horizonte; o que sugere uma preferência de escolha da emissora em apresentar as questões problematizadas pelos telespectadores, de algumas cidades específicas. No caso como o jornal é ancorado de Belo Horizonte e essa cidade é a mais importante do estado, pelo fato de ser a capital, é compreensível que ela esteja mais na “tela” do que as demais. Também, não há como negar que por ser a principal cidade do estado ela é sim a mais desejada em termos de público, como também, por se tratar de uma cidade de porte considerável, é coerente que nela “exista mais assunto”, de toda em qualquer esfera: social, político, econômico e etc.

Tabela 2 - Bairros contemplados no "VC no MGTV"

   Outro aspecto importante, seria observar que dentro da própria cidade de Belo Horizonte há locais que apresentam maior visibilidade no quadro “Você no MGTV”. Nesse sentido, é possível notar que bairros, principalmente os mais tradicionais e os que apresentam maiores índices de desenvolvimento econômico, são mais vistos na “telinha”.