Dia 22 de maio, às 22h
Jogo de Cruzeiro x Resende [CB]
Churrascaria e Pizzaria da Praça, na Praça Raul Soares [CENTRO]
A noite de quarta-feira, dia 22 de maio, era muito esperada pela torcida cruzeirense. O reforço do time, Dedé, jogaria pela primeira vez com a camisa celeste. O movimento nos bares do centro era intenso, mesmo com o jogo acontecendo em Belo Horizonte. Talvez por causa do horário muita gente preferiu não se deslocar até o Mineirão, na Região da Pampulha, e ficar na área central. Esse é caso dos estudantes da UFMG que acompanhei dessa vez: todos homens, heterossexuais, um público bem comum de jogos de futebol.
Entre eles estava meu namorado, minha companhia constante nesse tipo de evento. A chegada ao bar foi tranquila, estávamos todos cansados e esperando tomar uma cerveja para animar a noite. Foi a segunda vez que assisti a um jogo neste bar para nosso estudo, mas talvez a vigésima que venho aqui desde que me mudei para BH, buscando quase sempre partidas que não são televisionadas na TV aberta. Posso dizer que tenho costume e um grande gosto pelo esporte e principalmente pelo Cruzeiro.
O jogo em si foi tranquilo, Cruzeiro passou sem dificuldade pelo rival Resende com um placar de 4x0. Só notei torcedores cruzeirenses e esses estavam tentando esquecer a derrota do Campeonato no fim de semana. Na verdade, a final era o principal assunto em todas as mesas. Até os garçons paravam para conversar comigo e com meus acompanhantes sempre que havia um tempinho no atendimento, todos queriam relembrar os lances do domingo e às vezes nem davam muita atenção à tela.
O comportamento das pessoas na minha mesa foi aquele que eu bem conhecia. Reclamações, bebidas e mais reclamações dirigidas para a TV. De modo geral, todos os que demonstravam atenção para a TV pareciam ter que reclamar em alto e bom som sobre algum lance do jogo para destacar que estavam dentro daquele grupo: público de futebol em bares.
Em um bar com um público homossexual mais acentuado, as maneiras de se portar não parecem mudar muito dos outros bares. Existem os mesmo grupos, a galera do radinho (que quer saber dos lances antes e escutar a narração), as namoradas acompanhantes (eu me encaixo um pouco aí), os fanáticos que se sentam sozinhos em uma mesa, os que olham pelo canto do olho e os amigos reunidos. Sem dúvida nenhuma, a última é uma das melhores maneiras de se aproveitar bem um jogo em um bar, pelo menos em minha opinião. E uma das razões pela qual muitas pessoas escolhem ir até um, justamente porque o bar proporciona uma interação social num dos assuntos preferidos dos brasileiros: o futebol. E todos os rapazes que estavam comigo concordam com isso.
*os moços não quiseram ser identificados
Dia 26 de maio, às 18h30
Jogo de Cruzeiro x Goiás [CB]
Praça Coração Eucarístico [C.E.]
Leonardo Ribeiro, Lucas Afonso Sepulveda e José Henrique Pires estavam presentes.
Nunca tínhamos assistido a uma partida de futebol na pracinha da PUC e é impressionante como a dinâmica do local se altera em dia de jogo. Acostumados a ver todos os bares lotados, nesta tarde de jogo o público se concentrou em três: o Tacos, Meu Favorito e o Bar do Lombinho. O A Granel, famoso na região, sempre com música ao vivo, era uma opção para aqueles que não queriam assistir ao jogo – mas o bar que estava às moscas. Podíamos contar nos dedos da mão o número de pessoas ali.
No mesmo horário de Cruzeiro e Goiás acontecia uma partida entre Atlético Mineiro e Coritiba, mas nenhum dos bares transmitia o jogo do Galo. Era a mesma partida nos televisores, mas cada bar tinha um público diferente. O Bar do Lombinho contava com mais famílias, pessoas mais velhas; no Meu Favorito, eram mais casais e alguns jovens, que se misturavam com o público do bar anterior (estes são muito próximos); no Tacos, se via turmas de amigos, jovens, reunidos, a maioria uniformizada.
O comportamento nesses três butecos era bem semelhante ao que tinha sido observado nos outros bares que fomos. Pessoas mais velhas ficavam com o radinho próximo ao ouvido e o ligavam nos lances perigosos para adiantar o resultado. Já as crianças, que acompanhavam os pais, pareciam mais interessadas nos espetos de queijo do que em qualquer outra coisa. Algumas garotas que pareciam estar apenas acompanhando seus supostos namorados, não tiravam os olhos do celular. Os garços, no entanto, não assistiam tanto ao jogo. Era pouco o número de funcionários para atender as mesas e eles só conseguiam espiar o televisor.
Notamos uma garota sozinha, que parecia a espera de alguém, próxima ao Bar do Lombinho, por bons minutos. Assim que suas amigas chegaram, elas atravessaram a rua e foram para o Tacos. Por ter um público jovem mais concentrado, sentimos que no nesse segundo bar, existia um clima maior de paquera. Provavelmente, parte das pessoas ali não vieram para ver o Atlético jogar.
Os cruzeirenses comemoraram. O futebol nos bares pode ser menos sobre o futebol em si e mais sobre a comemoração. Ou até, a derrota. Os clientes estão ali, bebendo nos seus uniformes, ou carregando suas bandeiras, xingando o juiz, gritando para os jogadores na TV. Eles cultivam algo em comum e nós, apenas por permanecermos ali por poucas horas, também sentimos compartilhar dessa mesma comoção.
Mesmo que fosse por só essas poucas horas.
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A SAIDEIRA
Em dias de jogo, os principais bares de Belo Horizonte vão estar cheios, principalmente quando se trata de um clássico ou final de campeonato. Quem quer se refugiar das mesas atleticanas e cruzeirenses consegue, no máximo, um buteco de bairro ou um copo-sujo sem televisão.
Ainda continuo sem entender muito do fanatismo dos torcedores. É como se as agregações, os símbolos e a competição fossem parte de uma disputa quase religiosa, entre partidos nos quais eu não consigo tomar parte. No entanto, sentei com esses torcedores nos bares, bebi com eles e assisti aos jogos de seus times.
Ainda assim, consegui perceber que o sentimento de comunidade vai muito além do esporte, do monitor na tela e as camisas e bandeiras. É sobre procurar semelhantes, sentir parte de um grupo e compartilhar os mesmos entendimentos.
Isso, é claro, não seria diferente nas mesas de bar.
Lucas Afonso
Durante três meses acompanhei cerca de dez partidas de futebol nos mais variados bares de Belo Horizonte com meus colegas de Projetos B1. Como sou a única mulher do grupo, poderia ser a menos habituada aos espaços, mas não. Sempre tive o costume de assistir jogos do meu time nos bares da minha cidade, seja com meus pais, minha família, meu namorado ou amigos. O hábito se manteve quando me mudei para Belo Horizonte.Eduarda Rodrigues
Reconheço que há muitas diferenças entre os ambientes no interior de Minas Gerais e os daqui da capital. Talvez a mais importante seja o fato de meu pai nunca me deixou assistir a nenhum jogo sozinha lá em Paineiras, mas aqui em Belo Horizonte isso se mostra possível. Sinto-me mais segura do machismo que muitas vezes domina os bares durante os jogos e me atrevo beber uma cerveja tranquilamente no centro de BH. Claro que a graça toda de uma partida, pelo menos pra mim, está nas pessoas que me acompanham para torcer junto.
Quando nos propomos a analisar a recepção de jogos em Belo Horizonte, eu não sabia muito bem o que esperar. Afinal, nunca tinha olhado muito para outra coisa que não para a TV, para os petiscos e para as pessoas da minha mesa. Acabei observando algumas coisas bem interessantes.
Em primeiro lugar, achava que as pessoas que se deslocam de sua casa para ir a um ambiente barulhento e cheio nos horários das partidas, deveriam necessariamente gostar de futebol. Mas existem outros motivos que podem levar alguém até um bar. Muitas mulheres que acompanham maridos e namorados chegam a se sentar de costas para a TV. Mas não notei nenhum rapaz que não goste do esporte acompanhe uma mulher fanática. Alguns homens, por sua vez, não se importam nada o jogo, conversam, comem e ficam no celular, um pouco alheios ao que acontece.
Claro que os casos acima são extremos, existe torcedores de todos os tipos. Desde os que acompanham pelo rádio enquanto assistem à televisão até os que dão umas olhadelas quando dá, comemoram quando fazem um gol, mas encaram o momento quase que como uma balada, uma saída.
Outra coisa importante que percebo dos bares que acompanhamos é que a relação entre torcedores está menos hostil. Talvez porque não fomos tanto a clássicos e também porque os bares não costumam incentivar a reunião de torcidas rivais. É uma postura saudável e que torna os estabelecimentos lugares agradáveis.
O futebol é uma das maiores paixões brasileiras, e quando os jogos são transmitidos em bares, estes se tornam verdadeiras arenas dessa paixão. Pelo menos foi esse pensamento que tinha quando comecei a desenvolver a pesquisa de recepção de jogos de futebol em bares de Belo Horizonte.
Porém, nas várias vezes que fui aos bares, lotados ou não, pude perceber que o futebol não era a única atração dos locais. A maioria estava ali pela diversão que estes momentos ofereciam: cervejas, petiscos, amigos, conversa fiada e namoro. De todos os bares que fui, não consigo me lembrar de pessoas que estavam atentas somente ao jogo. A atenção é difusa, e por isso talvez o narrador tenha que gritar tanto, para sempre chamar o publico de volta para a partida.
Nesse sentido, é interessante observar que os bares são mais que simples locais para assistir partidas. Estas partidas criam ambientes de sociabilidade e momentos de interação lúdica. Se antes pensamos em observar a interação entre o telespectador e a televisão, pudemos perceber que esta interação passa também pelo garçom, pelas ruas, pela mesa do lado, etc.
É importante lembrar que, mesmo que sejam espaços de sociabilidade, o futebol continua sendo a motivação das pessoas estarem ali. A paixão pelo futebol é significativa, o publico grita, se revolta, comemora e discute. E por meio de todo o processo e visitas a bares que fizemos, o que ficou claro é que os torcedores estão ali, torcendo e gritando pelos seus times, mas entre um gol e outro, sempre rola um gole na cerveja e um papo com os amigos.José Henrique Pires
O curso de Comunicação da UFMG costuma oferecer muitas matérias voltadas para a área política, mas acaba não dando tanta importância para os "outros encartes" do jornal. Como jornalista em formação eu sempre me senti na obrigação de conhecer estas outras áreas e por isso logo aceitei o tema "futebol nos bares" no Projetos B1.
Sou cruzeirense não-fanático. Isso significa que nunca parei para realmente assistir e apreciar um jogo na TV (a menos que fosse do Sada Cruzeiro, mas já se trata de outro esporte que não foi abordado no trabalho) e principalmente sair de casa para ir a um bar. Confesso que ir para as ruas na data marcada dos jogos para observar toda aquela gente era um sacrifício. Porém, ao chegar, tudo era diferente. Encontrar com os amigos, tomar uma cerveja, comer petiscos, observar as pessoas e até assistir ao jogo era divertido. Vibrei, achei graça, torci contra o adversário e quando percebi, eu tinha me tornado parte da freguesia. Inicialmente, ao estruturar o trabalho, achei que ele tomaria rumos muito mais técnicos, mas a mudança metodológica foi válida (e bem mais prazerosa).
Hoje eu já posso dizer que eu conheço mais que Dagoberto, Leandro Guerreiro, Borges, Fábio, Diego Souza e mais meia dúzia de jogadores do Cruzeiro. Agora eu sei até a escalação do Atlético. Pelo visto não ficarei tão desesperado se um dia uma pauta dessas cair na minha mão.Leonardo Vieira
Gosto muito de futebol e gosto de ir em bares para assistir os jogos quando não dá para ir ao estádio. Como vocês disseram, há uma energia diferente quando estamos reunidos com outras pessoas para assistir as partidas. Acredito que os jogos se tornam mais interessantes quando estamos entre amigos e é legal partilhar com outros torcedores os momentos de felicidade ou de angústia quando o time está em campo. Gostei muito do tema de vocês, parabéns!
ResponderExcluirÉ importante notar essa semelhança do comportamento em vários bares, que revela um compartilhamento de códigos e uma relação do futebol com uma identidade nacional. Ao mesmo tempo há uma segmentação de públicos para cada bar. Mas entre esses grupos o comportamento é comum. Acho o post interessante por mostrar essa tensão entre segmentação e unidade.
ResponderExcluirMuito legal esse olhar antropológico sobre as pessoas assistindo jogos de futebol. Geralmente quando estamos no meio de um grupo, principalmente numa situação com os ânimos alterados como esse, não reparamos muito no comportamento das pessoas. Achei que vocês fizeram uma escolha muito boa do tema! Se for pra fazer alguma crítica, diria que talvez vocês pudessem ter atentado um pouco mais ao lado comunicacional propriamente dito, focando um pouco menos nos comportamentos.
ResponderExcluirAcredito que o Projeto mais divertido de ser feito foi o de vocês! Foi muito interessante e gostoso de acompanhar, porque como torcedora e espectadora, jamais tinha observado tão minusciosamente o comportamento das pessoas durante as transmissões. Geralmente, estamos lá e nos empolgamos com o clima. O futebol tem essa coisa interessante de criar um ponto em comum com pessoas diferentes, e vocês captaram bem isso! Só não gostei, nesta última postagem, da ausência do Atlético. Mas parabéns pelo trabalho!
ResponderExcluirLegal demais a ideia e a abordagem de vocês! Sobretudo é bom ver que um trabalho pôde ser feito em um ambiente tão descontraído e de maneira tão prazerosa! No meu caso, grado demais do meu GALO!!! =)!
ResponderExcluirSem dúvida eu iria mais que me envolver com o "trabalho", se tivesse feito parte do grupo! =)!
Parabéns a todos! E boas Férias!!!
Meninos, acompanhei o projeto inteiro de vocês e posso dizer que gostei bastante do resultado! Principalmente o fato de vocês terem examinado justamente o lado comportamental de se assistir futebol. Acredito que, mesmo que vocês, em geral, não tenham encontrado muitas pessoas que foram ao bar somente para assistir aos jogos, vocês conseguiram evidenciar de forma bastante clara essa variedade de comportamento e entretenimento que cada local propicia a quem, inicialmente, procura um lugar parar assistir às partidas.
ResponderExcluirPessoal, gostei bastante do trabalho de vocês porque conseguiram mostrar uma experiência diferente jornalisticamente falando. Normalmente damos voz a experiência de outras pessoas, e vocês além de fazer isso também experimentaram para compartilhar as impressões particulares de cada um. Foi uma sacada legal. Parabéns pelo projeto
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