Luísa Teixeira de Paula, Nina Rocha e Thaiane Bueno
Você lê revistas femininas? Quais? E por quê? Partindo destas três perguntas básicas e universais, entrevistamos 34 mulheres para entender um pouco mais sobre a participação da Tpm e da Nova no mercado editorial, além de saber o que faz com que suas leitoras de fato se tornem fiéis à essas publicações.
A partir do contexto sociocultural em que vivem as jovens mulheres - a grande maioria das entrevistadas é universitária, vive em Belo Horizonte e tem entre 18 e 25 anos -, algumas respostas já eram esperadas, como o fato de muitas meninas preferirem acompanhar sites e blogs ao invés de publicações impressas. Mas ainda assim o resultado conseguiu surpreender: 29,41% do total de participantes não lê revistas femininas. A principal justificativa: as publicações são ultrapassadas.
“Revistas são tendenciosas demais, machistas demais, burras demais e atrasadas demais”, diz Alice Rangel. Dan Costa, estudante de Teatro, completa: “as revistas femininas tentam vender um estereótipo de mulher que não existe ou que não concordo: tem que ser bem sucedida, feliz, boa de cama, agradar seu homem, segurar seu homem, estar em forma, ter dinheiro e sucesso, manter seu homem, viajar com seu homem, estar na moda, antenada, saber fazer seu homem ir ao delírio. Viu quanta chatice?”. A questão sobre o machismo que está presente em diferentes aspectos nas publicações do gênero não foi abandonada. “Todas possuem, em maior ou menor grau, um conteúdo bem machista, que vive dizendo como nós deveríamos nos comportar para agradar mais o homem”. Ainda assim, todas elas - sem qualquer exceção - disseram acompanhar sites e blogs que abordam os mesmos conteúdos das publicações.
No entanto, a grande maioria das entrevistadas disse ler alguma revista feminina frequentemente: 70,59% delas. Para o dono da Banca de Revistas Carandaí, localizada no número 1709 da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, a justificativa não é mirabolante: é mesmo o hábito de leitura. Roberta Riquette é um exemplo. Leitora da revista Nova, ela afirma não ter tempo para ler coisas que fogem do seu projeto de mestrado. “Mas gosto de lê-la esporadicamente quando vou ao clube, por exemplo! Gosto de sempre ter uma pra tomar um solzinho!” afirma.
Ainda que João Paulo, da banca, tenha afirmado que a Nova é uma das três publicações do gênero mais vendidas em sua banca, no grupo de entrevistadas a tendência é outra: 14,705% das meninas leem Tpm, enquanto apenas 11,76% lê Nova. Nenhuma das jovens mulheres afirmou ler as duas.
As moças Tpm afirmam serem fiéis à publicação pelos temas pouco comuns que fazem parte de seu projeto editorial. “Gosto dela por ter algumas matérias informativas, com novidades culturais ou só divertidas mesmo que não tentam me vender um produto. Ela tenta não agregar os conceitos de padrão, apesar de por muito só ficar na tentativa mesmo”, diz Raquel Brilhante. Para Luíza Glória, jornalista, a revista tem textos longos e “uma narrativa bacanérrima”. Além do ensaio masculino. “Não pornô, sensual, de homens aleátorios. Acho isso mara” completa ela.
O sexo é um dos aspectos mais importantes destacados pelas leitoras, especialmente para o percentual de mulheres leitoras de Nova. De acordo com Roberta Riquette, este é o ponto alto da revista: “acho ela mais picante! Fala a verdade sobre nosso universo com relação a esse tema! As outras são meio fraquinhas”. A estudante universitária Camila Lima concorda, ainda que com vergonha: “coisas de cabelo também eu gosto, mas acho que o diferencial da nova é mesmo essa parte de sexo!”.
Apesar de todas as diferenças apontadas pelo público consumidor, de acordo com o especialista em vendas da Banca Carandaí, João Paulo, o mercado das duas publicações não é tão diferente assim: “Eu vendo mais Nova do que Tpm, mas não vejo muita diferença entre as mulheres que compram”.
Ainda que bastante diferentes, as revistas Nova e Tpm têm muito em comum. Não apenas pelo mercado consumidor, pelas seções ou pelo preço. Elas apresentam uma maneira de ver o mundo que, apesar de estarem separadas em maior ou menor grau por diferentes aspectos, é compartilhada pelas mulheres que se inserem naquele contexto em que as publicações são veiculadas. Na verdade, as diferenças entre elas são apenas um lembrete de que opiniões diversas sobre o mesmo assunto são sempre bem-vindas e que juntas, elas podem sim, abranger um número cada vez maior de mulheres que escolheram continuar com o hábito de ler revistas femininas. E nisso, o percentual de 44,13% de outras mulheres que leem Gloss, Marie Claire, Women’s Health, Ana Maria, Lola, Vogue, Elle, Casa Claudia, Vice, Caras, Runners e Boa Forma também é beneficiado.
Mais uma vez, as diferenças entre a linha editorial da revista já fica bem definida só por essas capas. Para começar, dessa vez a TPM optou por lançar três opções diferentes: a revista pode ser estampada por Alinne Moraes, Ana Paula Padrão ou Milhem Cortaz. Através dessa escolha temos uma mostra da dinamicidade que faz parte da revista, além da tentativa de agradar a diferentes gostos. Já quem estampa a Nova é a apresentadora Ana Hickmann. Novamente, as cores fortes se destacam, sendo que a escolha da vez foi o roxo. Tanto o fundo quanto a roupa da apresentadora são dessa cor. A cor da Nova de maio pode parecer neutra quando comparamos ao vermelho do mês anterior, mas se colocada ao lado da TPM, que tem um fundo branco, a coloração se destaca.
O principal título da Nova é "Guia de sexo", mantendo a tradição da revista de dar dicas relacionadas à essa temática. Abaixo ainda temos a frase "Ideias, posições e acessórios para estar seeempre a fim", além de outras chamadas relacionadas a relacionamentos espalhadas pela capa, como "Quando o ciúme pode salvar seu relacionamento" e "Chega de perder tempo. Como encontrar o homem que VOCÊ merece". Enquanto isso, o título da TPM que mais se aproxima da temática sexual é o que diz "ENSAIO: Rodrigo Oliveira, chef do restaurante Mocotó, mostra seus dotes". Na Nova, além dos títulos já apresentados, que remetem à obrigatoriedade que a mulher deveria ter em agradar ao homem e à necessidade de encontrar a pessoa certa para casar, ainda temos um lembrete do papel reprodutor da mulher dentro de uma sociedade patriarcal através do título "congelamento de óvulos: vale a pena?".
Em contraste à Nova, que traz várias chamadas que remetem à ideia de como ser uma mulher ideal, a TPM tem como o tema de maio "A nova mulher prendada - É possível ser dona de casa e independente?". A partir disso, a revista apresenta matérias que discutem a questão da possibilidade de escolha da mulher, que é exatamente o que a diferencia da "Amélia" do passado. As chamadas da capa também rementem à questão da divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres, o que se relaciona com a versão da revista que é estampada por Milhem Cortaz. Na foto ele aparece usando um roupão feminino, brincos, luvas de latex e segura um espanador. Quem também aparece usando luvas de latex e segurando um espanador é Alinne Moraes. Apesar dos adereços de dona de casa, essa é a capa que nós julgamos mais sensual das três. No caso, a sensualidade se dá principalmente pela calça vermelha justa e pelo olhar da atriz. Essa é uma sensualidade muito mais sutil do que a da capa da Nova, onde Ana Hickmann está usando uma blusa justa que deixa a barriga a mostra, além da saia curta e também justa. Por fim, há também a capa figurada por Ana Paula Padrão. A hipótese que levantamos sobre essa versão é que nela a jornalista é apresentada vestindo roupas bem simples: jeans, camiseta cinza e um suéter de lã. Isso se contrapõe à visão glamourosa muitas vezes atribuída à posição que ela ocupava na bancada de um telejornal. Além disso, se relaciona à discussão feita na revista sobre a possibilidade que a mulher tem de escolher não priorizar a carreira profissional, mas sim a vida pessoal e seus objetivos e metas próprios.
Nina,Luísa e Thaiane, gostaria de, primeiramente, parabenizá-las pela organização do post e da pesquisa de vocês. Muito interessante a preocupação de se entrevistar grupos distintos, como os donos das bancas de revistas e as leitoras. Também achei surpreendente a percentagem dos leitores que se enquadram no grupo de aversos às publicações das mulheres. Particularmente, sou adepta desse grupo e por argumentos semelhantes, mas não esperava um número tão expressivo. Finalmente, é pertinente a avaliação de vocês acerca da semelhança entre a Nova e a TPM, na medida em que ambas as revistas, apesar de linhas editorais distintas, permanecem sendo dedicadas à complexa tarefa de se definir o que, de fato, corresponde à identidade e aos gostos feminina. Pelo trabalho de vocês, percebe-se que essa não é uma tarefa fácil e que se torna necessária, ao jornalista, uma grande sensibilidade e o desejo de se ultrapassar os esteriótipos a fim de representá-la de forma múltipla e mais próxima à realidade.
ResponderExcluirVocês estão de parabéns mesmo. Acompanhei os outros posts e todos foram muito bons, mas esse... Esse está fantástico. Um texto bem escrito,entrevista, imagens, análises e informações completas, principalmente esta pesquisa com todos esses dados. Muito bom meninas.
ResponderExcluirMeninas, comentei em todos os posts de vocês e não poderia deixar de comentar no último. Parabéns pela ideia massa e pela execução, ficou tudo muito legal! A ideia de contrapor revistas com uma orientação em comum, o público feminino, mas com uma linha editorial tão diferente é muito bacana, e acredito que ainda pode ser muito explorado.
ResponderExcluirPs: TPM saiu ganhando em todas, né? hahah
Ei meninas! achei bem legal a postagem de vocês! Como conversamos em aula, a Nova não tem muita "moral" com esse publico jovem/universitário que vocês analisaram justamente por mostrar o mundo feminino de um jeito meio machista. Mas também fiquei pensando que faz muito sentido a Nova ser uma das revistas mais vendidas na banca que vocês visitaram, porque salões de beleza e consultórios voltados para o público feminino sempre tem uma revista Nova (pela minha experiência), mas nunca vi nenhum desses lugares que frequento com revistas TPM para as clientes.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho e adorei o comentário da Luísa na sala: "é, as vezes as pessoas pensam que as mulheres não querem saber sobre sexo, mas pelo que vimos querem sim!!!"; e esse ponto foi o , pelo que entendi, fundamental para a diferença de vendas entre as revistas!
ResponderExcluirÉ isso aí, parabéns pelo trabalho e abordagem! Tudo ficou bem bom!
Meninas, parabéns pelo projeto! Acredito que ele tenha cumprido seu objetivo com êxito! Gostei muito da conclusão e dessa iniciativa de fazer uma pesquisa com as leitoras. Porém o que mais me surpreendeu não foi a porcentagem de cada revista, mas sim a parcela bem grandinha de quem não lê revistas femininas.
ResponderExcluirMeninas, o trabalho de vocês foi, sem dúvida, o que eu mais acompanhei. A pesquisa toda de vocês foi muito interessante. As questões que vocês apresentaram tanto na aula final quanto neste post sobre o público feminino que lê revistas completou muito bem o projeto. Parabéns!
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