Histórico
A primeira publicação periódica voltada para o público feminino adulto datada em 1827 foi a revista Espelho Diamantino, editada no Rio de Janeiro. Em seu conteúdo, a revista abordava temas variados como literatura, política, arte e moda. Apesar do público-alvo feminino, a revista era escrita e editada por homens e circulou por apenas um ano. A próxima revista a surgir foi Espelho das Brasileiras (1831), e apresentava a mesma abordagem voltada para donas de casa. O Jornal das Senhoras (1852), que contava com mulheres na redação e foi a primeira publicação a exibir artigos de cunho feminista, o que veio a incomodar e causar indignação em muitos homens, considerando o papel submisso da mulher na época. Seguindo a linha de publicações feministas, a revista O Sexo Feminino foi a primeira a atingir um público mais amplo, chegando à marca de 800 assinaturas, em um período em que menos de 14% da população feminina era alfabetizada. As publicações passaram a apresentar uma visão crítica sobre o ócio feminino e a dominação masculina através do casamento. Através de artigos em revistas, muitas mulheres se manifestavam a favor do divórcio e protestavam por um maior espaço feminino no mercado de trabalho.
Dadas as mudanças sociais e econômicas enfrentadas pelo Brasil, incluindo a urbanização do país após a década de 50, a alfabetização da população e o crescimento da classe média, a modernização ocorreu também na imprensa, que passou a contar com tiragens maiores e maior variedade de temas e abordagens, saindo do eixo "mulher-esposa-mãe". Foi nesta época que surgiram na Editora Abril revistas como a Capricho e Manequim, que estão em circulação até os dias de hoje. Atualmente, existem mais de trinta diferentes publicações voltadas ao público feminino com as mais diversas abordagens: algumas se restringem a temas como moda e culinária e outras são ainda mais segmentadas, voltando o seu público a noivas ou a mulheres que exercem a costura como hobby ou profissão. Dentre as várias revistas voltadas ao público feminino disponíveis no mercado brasileiro, o estudo se limita a duas destas publicações com o intuito de traçar paralelos entre as semelhanças e diferenças nas abordagens das revistas NOVA e TPM.
Suprindo uma demanda do mercado, a editora Abril lançou em 1973 a revista NOVA. A publicação faz parte da rede Cosmopolitan, que tem quarenta e sete edições ao redor do mundo, em vinte e três idiomas. A Cosmopolitan foi inventada em 1962, quando Helen Gurley Brown, que tinha escrito um livro chamado “Sex and the Single Girl” - o sexo e a solteira -, propôs o modelo de revista para um editor. Foi a primeira revista a tratar a mulher como indivíduo, abordando suas preocupações e interesses. Na época do lançamento da Nova, a editora fez uma pesquisa que identificou uma maior aceitação de nomes em português, o que levou à escolha do “NOVA”. A revista também foi pioneira por aqui, e foi a primeira no Brasil a abordar temas polêmicos como sexo, relacionamentos e vida profissional.
De acordo com o site da editora Abril, atualmente a proposta da revista gira em torno da ideia de incentivar e orientar a mulher na busca pela independência profissional e pessoal. As publicações são mensais, e a tiragem é de 228.430 exemplares. Metade das leitoras estão entre os 25 e 44 anos, e 49% estão na classe B. Além disso, 67% dos leitores se concentram na região sudeste do Brasil. O sexo continua sendo um assunto recorrente na revista. Em 2012, todas as capas trouxeram a temática sexual em destaque, com chamadas como "feliz sexo novo", "sexo lacrado" e "o sexo vai ser bom?".
Alguns dos temas abordados pela revista são: Amor e sexo; beleza e saúde; moda e estilo; vida e trabalho. Uma das colunas é chamada "Como lidar, Felipe?" na qual o repórter Felipe van Deursen dá a opinião masculina sobre questões femininas. Na sessão "Consulta Íntima", uma ginecologista tira dúvidas das leitoras. Outras sessões dão dicas de moda, como a "Peça-Chave". Quando comparamos a estrutura e os assuntos da Nova/Cosmopolitan entre a década de 1970 e a atual, pouco mudou, mas certamente, o contexto social não é o mesmo. Portanto, atualmente Nova não tem mais o caráter libertário que tinha no passado e chega a reproduzir padrões de submissão ao homem.
Em 1986 a Revista Trip fazia sua estreia no mercado editorial brasileiro, e apesar do conteúdo da revista ser essencialmente masculino, muitas mulheres se interessavam pelas matérias veiculadas pela publicação. Em maio de 2000 foi publicada a primeira edição da Trip para Mulheres, que surgia como uma "proposta inovadora" frente as demais revistas voltadas ao público feminino. Esta proposta diferenciada não constitui em abandonar assuntos abordados em tantas outras revistas femininas, como moda e sexo, mas de tentar construir matérias livres de tabus sem grandes receios de adentrar em polêmicas como o aborto, legalização de drogas e relacionamentos abertos.
"[…] enquanto as outras revistas propõem um modelo padrão, o qual pode ser seguido por um número ilmitado de mulheres que desejam obter algum tipo de sucesso, a TPM estimula as leitoras a terem valores bem parecidos com os encorajados pelas outras revistas, mas sugere que elas ajam à sua maneira, ressaltando o seu estilo, a sua personalidade." (HOLLEMBACH, 2003)
A ruputura com o formato tradicional - tanto jornalístico tanto da imprensa feminina - acontece na TPM a partir de textos pessoais, diferentes da objetividade narrativa tão almejada pelo jornalismo tradicional, e que em vários momentos, não buscam a parcialidade. Em diversos artigos da TPM - destacando aqui a matéria Descrimine Já, que defende a legalização do aborto no Brasil e foi vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo em 2005 -, as repórteres expõem seus posicionamentos a respeito de diversos assuntos.
Com a atual redação composta apenas por mulheres - exceto pelo editor Paulo Lima -, além de matérias de beleza e decoração, a revista sempre publica perfis e ensaios com personagens - encaixa-se aqui tanto anônimos quanto famosos - e se destaca por tratar o convidado como amigo, aproximando-o da repórter e também da leitora. Há um apelo grande de humanização dos convidados. As "páginas vermelhas", que remete às famosas "páginas amarelas" da Revista VEJA, são reservadas entrevistas com personalidades importantes e polêmicas que geralmente possuem relação com a reportagem de capa. Um aspecto interessante da TPM é a publicação online e na íntegra de todas as matérias veiculadas na edição física no mesmo dia em que a revista impressa chega às bancas.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei muito do tema de vocês, meninas. É bem marcante mesmo a noção de que a revista NOVA, quando surgiu, era muito inovadora, mas hoje em dia é super repetitiva e seu ponto forte são as matérias sobre sexo (que muitas vezes são mais engraçadas que qualquer outra coisa). Teve uma edição do ano de 2012 na qual uma leitora reclamou que as matérias e a revista como um todo eram feitas para o perfil de mulher classe A e que as roupas da seção de moda, por exemplo, nunca seriam adquiridas por mulheres comuns, e que isso afastava as leitoras de classes mais baixas. A revista respondeu que procuraria coisas mais acessíveis. Não sei se foi feito ou não, mas foi um acontecimento interessante!
ResponderExcluirTambém gostei muito do tema de vocês. Acho super importante essa contextualização histórica pra poder entender a proposta da revista e sua trajetória. A percepção de que a NOVA surgiu com caráter libertário e hoje é encarada como mesmice é muito válida. Seria interessante, caso caiba na proposta de vocês, propor esse questionamento acerca de como a revista se define e como ela é percebida pelas leitoras, mesmo que essa percepção de público se restrinja às opiniões de vocês mesmo. Creio que seja essencial para a análise de um veículo contrapor a definição deles com a nossa - muitas vezes isso pode gerar espanto e levar a novas reflexões. Achei a ideia da comparação muito legal e estou ansiosa pelas próximas descobertas!
ResponderExcluirMeninas, amei o projeto de vocês! É inegável o fato de que as revistas femininas fazem parte do universo das mulheres, seja a "VOGUE" mais cara ou a "SELEÇÃO" de um real. Vocês escolheram duas revistas que, apesar de serem para, em geral, o público feminino, possuem imensas particularidades entre as leitoras (Mesmo que isso não caiba no plano de vocês e talvez dê um pouco de trabalho, talvez fosse interessante vocês tentarem entender quem é essa mulher que lê NOVA e quem é a que lê TPM, achar pessoas que gostam das duas, alguma coisa assim, mas só como dica pessoal mesmo). Eu acredito que a NOVA atual seja bastante ambígua pois, ao mesmo tempo que veicula matérias de independência feminina, conta com colunas muito estruturadas de "o que os homens pensam de tal coisa". Já a TPM (e linhas editoriais a parte) é linda, né? Pelo menos, eu adoro esse projeto de fazer uma revista que apresenta pontos tão modernos e engajados acerca do mundo da mulher, sem deixar de representar os pontos de vista mais conservadores (uma ótima percepção disso é na revista de março/2013, na matéria principal sobre casamento). Mal posso esperar pelas próximas postagens!
ResponderExcluirMuito legal o tema, adorei! Um ponto que não ficou muito claro pra mim na apresentação do projeto, vocês esclareceram muito bem no texto, que é a diferença mais marcante entre as revistas. O projeto mostra a necessidade dos veículos de comunicação evoluírem junto com seu público - o que acredito que é muito bem trabalhado na Capricho e na TPM, e falta na NOVA.
ResponderExcluirAchei a sugestão da Ana muito interessante. Paralelamente, acredito que análise das percepções anteriores e posteriores ao projeto podem causar espanto e, provavelmente, um resultado útil para a conclusão do trabalho.
Aguardo ansiosamente pelos próximos textos.
Achei muito interessante o tema. Acho fundamental analisar como as revistas femininas contribuem para reforçar preconceitos contra as próprias mulheres. Entretanto esse movimento é complexo e pelas conquistas do movimento feminino, as revistas são obrigadas a incorporar novos temas e fugir dos debates sobre moda, celebridades, culinária entre outros. Acredito que essa tensão é complexa. Ao mesmo tempo por uma lógica comercial as revistas tentem atirar para vários públicos o que talvez dificulte a tarefa de traçar quem são essas mulheres que leem tal ou qual revista.
ResponderExcluirMeninas, que bacana! Acho muito interessante a ideia de contrapor duas publicações que, apesar de visarem um público em comum (mulheres), acabam dividindo-o em polos bem diferentes. Acredito que deva estar sendo bem legal o processo de comparação, não é? Uma curiosidade que ficou, imagino se já não foi pensado por vocês, é acerca dos anunciantes. Tanto em caso de publicidade, quando nos jabás que saem nas partes sobre moda: qual é a diferença entre as duas revistas? Acho legal também trabalhar esse ângulo!
ResponderExcluirCom certeza acompanharei o desenvolvimento do seu trabalho!
Oi, meninas! Acho que temas que tratam do feminino são sempre instigantes. As revistas voltadas para esse público parecem lidar com muitos dilemas. É sempre uma mulher que precisa desempenhar inúmeras funções sem abrir mão do prazer e da beleza. Nunca tinha lido muito sobre a evolução desse segmento de publicação e achei que o panorama histórico foi bem útil. Gostaria de ter visto um aprofundamento maior já nas diferenças, fiquei curiosa.
ResponderExcluir