quinta-feira, 25 de abril de 2013

Fora Lacerda - O movimento na rua e a importância das redes sociais



Em janeiro de 2010, contra o decreto da prefeitura (18.623) que suspendeu a autorização para a realização de eventos na Praça da Estação, surgia a Praia da Estação.

No blog do movimento encontra-se a seguinte descrição: 'A Praia é um movimento horizontal, sem lideranças, auto-organizado e sem porta-voz. É constituída por cada um dos banhistas que se junta a ela e por isso pode ser constituída um dia por 20 pessoas, e em outro, por 500. Nela cabem de movimentos políticos a blocos de carnaval. Lá encontram-se cadeiras de praia, guarda-sol, caixas de isopor e até farofa. O banho é garantido pelas fontes da praça e por um caminhão pipa contratado com a grana de uma vaquinha que rola na hora, entre os próprios banhistas.'

Pois foi na Praia da Estação que o Movimento Lacerda (MFL) começou a tomar forma. Em meados de 2011, o prefeito Márcio Lacerda, eleito em 2008, havia nomeado seu filho Thiago Lacerda para gestor do Comitê da Copa. O ato deu origem a um evento fictício no Facebook, 'o Impeachment do Márcio Lacerda', evento que contava com um número expressivo de confirmações. Victor Guimarães, Cris Lima e Carol Wojtyla resolveram convocar uma edição da Praia cujo tema seria a 'Prévia do Impeachment'.



O evento aconteceu em 2 de julho de 2011 e reuniu cerca de 40 pessoas, entre nomes envolvidos com a política e produção cultural da capital mineira, pessoas ligadas ao Comitê dos Atingidos Pela Copa e o pessoal das Brigadas Populares e da ocupação urbana Dandara.

O intuito inicial era discutir a nomeação do Thiago Lacerda, mas o debate entre os presentes trouxe novas informações sobre a administração da Prefeitura. O grupo ali reunido deu origem ao movimento Fora Lacerda. A partir de então foi criado um grupo de e-mails e a partir deste foram convocadas novas reuniões, tanto na Praia, quanto no Parque Municipal, Viaduto Santa Tereza, etc.

'A gente já nasceu dentro do Facebook. Como não temos espaço na mídia tradicional, nenhum jornalista quer publicar sobre o Fora Lacerda, nascemos num ambiente que ir pras mídias sociais era óbvio. Mas o principal ponto a se ressaltar é que não foi só uma brincadeira de Facebook, um ativismo de sofá. As insatisfações com a administração vêm desde que o prefeito assumiu. O movimento agrega os diversos pólos de insatisfações, de lutas que já existiam na cidade contra a prefeitura', explica Victor Guimarães.

Victor considera os eventos de rua fundamentais. Ele cita a Marcha Fora Lacerda, que ocorreu em 24 de setembro de 2011, como o grande marco do movimento. Na marcha reuniram-se mais de 2 mil pessoas, oriundas de vários lugares, classes, sindicatos, movimentos sociais, moradores de rua, etc. 'Foi a confirmação de que se tratava realmente de um desejo da cidade. O movimento acontece nas redes sociais, no e-mail, nas reuniões, na rua. Mas a rua é onde a gente tem energia pra continuar', conta.

O MFL conta com site, blog, Twitter e três páginas no Facebook: um perfil, uma comunidade e um grupo fechado. Neste trabalho, nos ateremos à análise da utilização do Facebook como ferramenta de mobilização social pelo movimento, iniciando a análise das estratégias utilizadas a partir do próximo relatório.

9 comentários:

  1. Muito bom o tema, pessoal! Sempre vejo postagens sobre o Fora Lacerda no Facebook, mas nunca soube ao certo qual era a origem do movimento. (e descobri até que a minha chefe fez parte dessa criação!) Dá pra vocês explorarem várias abordagens diferentes do assunto, mas acredito que uma boa saída seria comparar se a internet ajuda mesmo a fortalecer os movimentos sociais, ou se é apenas uma falsa impressão de que mais pessoas estão aderindo. Espero por outras postagens legais nas próximas semanas!

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  3. Eu vejo esses movimentos de "resistência" popular como iniciativas muito bacanas. O que estamos vivendo nos últimos anos em Belo Horizonte é algo absurdo. O Márcio Lacerda e seus aliados parecem ter uma espécie de aversão a qualquer manifestação popular. Querem 'enquadrar' e limitar todos esses fenômenos populares. Porém, como um dos organizadores afirma, vemos que essa resposta de quem está indignado com o prefeito e suas ações se dá na maioria das vezes por meio das redes sociais. Isso infelizmente limita e segmenta bastante o público que participa desses movimentos. Enfim, acho a proposta, tanto desse projeto, quanto de movimentos populares de resistência, muito bacanas e sugiro que vocês analisem nessa pesquisa os limites dessas mobilizações e porque elas ainda não conseguiram superar o obstáculo de transcenderem as redes sociais, já que presenciamos a reeleição de nosso prefeito no ano passado.

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  4. Gostei muito do tema de vocês e acho interessante que vocês explorem as estratégias que eles utilizaram e se elas mobilizaram as pessoas para as manifestações e o movimento como um todo.Esse movimento das redes sociais me lembrou muito os acontecimentos da Primavera Árabe em que muitas pessoas atribuíram um papel significativo da internet no contexto das revoluções. É interessante explorar até onde vai esse "poder das redes sociais" e um bom caminho pra isso é coletando possíveis dados como por exemplo - pessoas confirmadas no evento do facebook/ pessoas que estavam na manifestação de fato. Acho que tem muita coisa bacana que vão aparecer pra vocês ainda. Boa sorte!

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  6. Quando a Luísa disse no encontro presencial que ela e a Izabella iriam fazer o projeto sobre o MFL, fiquei com água na boca hehe, achei muito bom o tema. Mas queria saber como seria a abordagem de vocês.
    Foi muito legal essa contextualização feita, aprendi bastante. Da mesma forma que a Thaiane eu também não conhecia exatamente a origem desse movimento.
    Diferentemente do Amim, acho que o Fora Lacerda transcendeu as redes sociais, mas é fato que ele ainda não atingiu muitas parcelas da população belo-horizontina. Penso que muitos, mesmo com todo o sucesso do Fora Lacerda, não conhecem o movimento, e muitos que conhecem não devem entendê-lo.
    Achei interessante a fala de Victor Guimarães de que é na rua que o MFL tem a energia para continuar, mas queria entender melhor isso.
    Infelizmente o projeto é curto e vocês vão ter que se ater a determinado ponto do movimento, aguardo com ansiedade a próxima postagem.

    PS: fiquei curioso para saber com quem vocês conversaram.

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  7. Achei muito interessante a abordagem do tema, que dimensiona bem o objetivo do uso das redes sociais para mobilizar as atividades de rua, e não como uma “militância de sofá”. Uma coisa que chama atenção é o profissionalismo das iniciativas do movimento na internet. O site era atualizado diariamente com informações importantíssimas sobre a cidade (pelo menos no período da eleição para prefeito), e a atuação no facebook era muito criativa (avatar, filtro laranja entre outros) e a ligação com outros movimentos da cidade sempre trazia notícias em primeira mão. Acredito que há muito material para o debate.

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  8. Esse tema é realmente muito bom de ser debatido, pode ser exemplo para várias discussões, até já participei de algumas delas, seja em sala de aula ou entre amigos mesmo. Mas, em nenhuma destas discussões sabíamos como este movimento realmente surgiu e como ele funcionava, por isso gostei muito da contextualização que vocês fizeram.
    Muitas pessoas acham que as páginas do Fora Lacerda é como aquelas que surgem do nada no Facebook, um monte de gente adere como modinha, alguém sai publicando qualquer coisa e assim vai. Mas, este movimento, e também a administração desta página, é algo extremamente organizado e planejado como uma empresa mesmo e quando a gente fica sabendo disso, acho que aderimos á causa com mais segurança, o movimento começa a ganhar participantes que realmente pensam da mesma forma e diferente da "modinha", as páginas e o MFL persiste em durar muito mais tempo, o tempo que for necessário para atingir o objetivo de "curtidas" e "presenças" acontecerem também fora da internet, até que o reino do Lacerda desmorone.

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  9. Quando me mudei para Belo Horizonte, o MFL estava muito forte, lembro que eu fiquei impressionada com a dimensão que ele tomava através do facebook. Chegar em uma cidade nova é descobrir também seus problemas, sejam culpa da administração pública ou não. Acredito que o MFL seja sim de rua, mas mais ainda seja da universidade, foi nela que eu o conheci. Aqui dentro (UFMG) existem fontes ótimas para enriquecer o trabalho, professores, alunos e funcionários envolvidos no movimento.

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