por Eduarda Rodrigues
José Henrique Pires
Leonardo Vieira
e Lucas Afonso Sepulveda
Dia 2 de maio, às 20h
Jogo de Altético Mineiro x São Paulo [L]
no Orizontino, Rua Antônio de Albuquerque [SAVASSI]
Lucas Afonso Sepulveda estava presente.
Tem uma bandeira do Galo estendida debaixo da televisão, do lado de fora do Orizontino. Estou na mesa bem em frente ao monitor, na companhia de Bárbara e Rafael, um casal atleticano e Ildson, um cruzeirense infiltrado em território inimigo. Em menos de meia hora, começa a transmissão do jogo pelo canal Premiere FC. O bar já está lotado. Os garçons não param de trazer mais cerveja para as vinte mesas cheias de torcedores sedentos.
Pergunto para os três na minha mesa sobre o que os faz sentar numa mesa de bar, pedir uma cerveja e assistir ao jogo do time. Rafael me explica que, como alguns jogos são só transmitidos em canal a cabo, às vezes é mais fácil assistir o time na TV de um bar. Bárbara gosta de ir assistir futebol em um buteco perto de casa e vai mesmo quando está sozinha. Ildson prefere assistir em casa e só vai em bar quando é jogo decisivo do Cruzeiro ou quando tem um dinheiro sobrando para gastar com cerveja (como hoje). Todos os três concordam que se sentem bem numa mesa de bar, com um copo de cerveja na mão, assistindo ao time que torcem (seja pela vitória ou pela derrota) na tevê, na companhia de conhecidos e estranhos com gostos semelhantes ou divergentes.
As conversa fica inacabada quando a contagem regressiva começa e o Atlético entra em campo.
Se lá fora, tem até gente sentando em cadeira sem mesa para assistir ao jogo, na parte interior do Orizontino não tem nenhum freguês. A caixa do bar está assistindo a partida pelo computador, enquanto atende um ou outro indivíduo que aparece por lá de hora em hora. Os garçons que não param andar para dentro e para fora, estão quase que desorientados, tentando servir tanta gente ao mesmo tempo. A ideologia atleticana do bar não impediu um dos garçons em serviço de se assumir para mim como são paulino. Talvez ele seja o único do time adversário dividindo espaço ali. Ele mal tem tempo para assistir o jogo, mas me disse que aposta que “no couro que o Atlético vai levar” e que, no fim da noite, é ele quem vai ficar com os 10% das contas de todos aqueles atleticanos.
Falta poucos minutos para o fim do primeiro tempo e escutamos um grito de gol vindo das mesas lá atrás. A parte da frente demora alguns segundos para reagir, levantando das cadeiras e gritando pelo time. Só, então, que o gol do galo é anunciado na televisão. Pelo o que Rafael me explica, alguns torcedores sempre levam um rádio para o bar e escutam o jogo com menor tempo de atraso em relação à transmissão da tevê. Essa duplicidade do rádio e televisão em bar parece um hábito historicamente consolidado entre os amantes de futebol com cerveja.
O frenesi do primeiro gol foi quase tão grande quanto no final do jogo: 2 a 1 para o Atlético.
Dia 05 de maio , às 16h
Jogo de Altético Mineiro x Tombense [M]
no Assacabrasa [LOURDES] e
no 80 Bar, Rua Paraíba, [SAVASSI]
Eduarda Rodrigues, José Henrique Pires e Leonardo Vieira estavam presentes
Nos reunimos na porta do bar e restaurante Assacabrasa minutos antes do jogo e pedimos uma cerveja para entrar no clima. A disputa entre Atlético e Tombense parecia ser uma tarefa simples para o alvinegro mineiro, dono da segunda melhor campanha do campeonato. No site do estabelecimento estava escrito o slogan: “Futebol é no Assa”, indicando que ali seria um bom lugar para darmos continuidade ao nosso trabalho de observação. Mas quando chegamos havia no máximo dez pessoas almoçando, que logo iam deixando suas mesas. Não parecia que ninguém ali estava interessado em assistir ao confronto.
Decidimos que era melhor não perder tempo ali e procurar um outro lugar que nos desse condições de analisar o que nos propomos para este relatório: as motivações por trás do jogo, como as pessoas se comportam e porque vão a bares que passam futebol. Haveria algum motivo por trás disso?
Levantamos, pagamos a conta e fomos caminhando para a Savassi porque chegaríamos antes do fim do primeiro tempo. O bar mais cheio que encontramos foi o 80 bar, que estava com cerca de 100 pessoas na calçada, a maioria uniformizada com a camisa do Galo. O clima estava muito animado, uma vez que, durante nossa caminhada, o Atlético marcou três gols.
Paramos para observar os grupos que nos cercavam: de um lado, um grupo de amigos assistia a alguns lances do jogo e esboçavam comentários, porém o foco deles era mesmo colocar a “conversa em dia”; já do outro lado, um casal assistia ao jogo. A namorada estava ali aparentemente para satisfazer o namorado que comentava com ela lances do jogo em que ela mal prestava atenção; mais a frente, outro grupo de amigos também conversavam e algumas pessoas do grupo estavam de costas para a televisão. Apenas uma mulher e outros dois rapazes da mesa pareciam realmente atentos; um trio de homens mais próximos a televisão é que estavam mais atentos. Um deles era sempre o primeiro a dar o grito de gol e soltar expressões típicas relacionadas ao Atlético (“Galão da massa”, “Galo doido”, entre outros). No geral, a distração era tanta por parte do público do bar que ao Atlético fazer o 3º gol, no final do primeiro tempo, apenas algumas pessoas em cada mesa comemoraram. Alguns segundos depois é que os outros que conversavam pararam para observar a televisão (inclusive os que estavam de costas, viraram as cadeiras).
No início do segundo tempo, os grupos focaram mais a sua atenção para a TV. Pouquíssimas pessoas ainda davam as costas para o jogo. O 4º gol do Atlético foi mais comemorado e os gritos de alegria se uniram com os gritos de uma outra unidade do bar Assacabrasa, que fica ao lado também exibindo jogos de futebol. Com o decorrer da partida, o nível de atenção de algumas pessoas voltava a cair. O 1º gol do Tombense no jogo não alterou em nada a reação dos presentes. Todos já consideravam o jogo como vencido, pois o Atlético tinha uma grande vantagem sobre o time da cidade de Tombos (tanto de gols, quanto de qualidade técnica, entre outros fatores). O 5º gol do Atlético, e último da partida, veio de pênalty. Ao saber que Guilherme seria o cobrador, pessoas da mesa em frente fizeram algumas críticas em relação ao desempenho do atleta nos últimos jogos, porém não deixaram de acreditar que ele faria o gol.
Com o árbitro apitando pela última vez, indicando o fim do jogo, um dos integrantes do “trio da frente”, tornou a gritar “galo doido”, comemorando que o time garantiu uma vaga na final do Campeonato Mineiro 2013. A comemoração logo se espalhou pelo bar. Entre abraços, alguns se despediam do grupo e os que ficavam pediam mais uma rodada de cerveja.
Dia 12 de maio, às 16h
Jogo de Altético Mineiro x Cruzeiro [M]
nas ruas da cidade
Final de campeonato. A capital mineira, que abriga as grandes torcidas do Cruzeiro e Atlético transformou-se em uma grande extensão do estádio. O jogo foi acompanhado de diversas formas pelos torcedores (e até mesmo não torcedores). Infelizmente, o grupo não conseguiu acompanhar o jogo todo em nenhum bar, mas a emoção ocupou toda a cidade.
Quem passou perto dos bares percebeu as pessoas vidradas nas telas das televisões. Os petiscos esfriavam e a cerveja esquentava. Ansiosos, grande parte dos clientes dos bares que ficam na Avenida Fleming, bairro Ouro Preto, se preocupavam com a partida: xingavam os juízes, trocavam farpas, torciam.
Nas ruas, camisas pretas ou azuis eram frequentes. Dentro do ônibus suplementar S53, de mais ou menos 16 passageiros, 4 estavam com rádios sintonizados nos jogos, e mais 4 amigos discutiam as possibilidades do Galo ganhar o jogo e já faziam profecias do próximo embate no Mineirão.
O clássico que terminou em 3 x 0 para o Atlético, foi “recebido” por grande parte das pessoas que estavam em Belo Horizonte, seja no estádio, em casa, nos bares, por rádios, gritos e fogos de artifício.