terça-feira, 14 de maio de 2013


História do movimento, mobilização e internet - O movimento na rua (e a importância das redes sociais). 
“Somos muitos, estamos juntos e queremos uma BH mais humana e integrada”. Com esse enunciado surge o Movimento Fora Lacerda (MLF) com o intuito de organizar pessoas, partidos políticos e outros movimentos sociais contra o prefeito Márcio Lacerda (PSB) eleito em Belo Horizonte no ano de 2008.
O movimento comporta diversos partidos político, mas assume um caráter suprapartidário – acima de partidos ou mesmo independente dos partidos que o compõe. Segundo o manifesto de origem do MFL, a independência do grupo “é uma forma de demonstrar como a sociedade civil organizada pode influenciar e alterar os cursos políticos de uma cidade marcada por uma administração elitista, excludente e aversa à participação popular”. Ainda em seu manifesto, o movimento é definido como antineoliberal por defender uma administração “humanista, inclusiva e com a participação popular”. 
Desde sua criação até os dias atuais, o MLF aposta na internet e nas redes sociais como forma de mobilização da população belorizontina. Assim, o movimento se vale desses meios para divulgar outros movimentos sociais organizados na cidade e incentiva que os cidadãos ocupem os espaços públicos da cidade. Para entender melhor a apropriação da internet e das redes sociais por parte do movimento, serão analisados as duas principais ferramentas utilizadas por eles: o Blog do MLF (WWW.foralacerda.com) e sua página no facebook (http://www.facebook.com/#!/Mov.ForaLacerda).  Abaixo estam explicitadas nossas descobertas durante a análise dos materiais recolhidos.
O Blog
As postagens no blog tem datas e formatos irregulares que muitas vezes não deixam claro o posicionamento de quem posta, mas com conhecimento prévio do movimento não há problemas em identificar qual a mensagem passada.
  Para melhor entender como o movimento utiliza de seu blog como uma ferramenta de mobilização social, recortamos as três últimas postagens no blog. As postagens estão enumeradas da seguinte maneira: a última postagem é a número 1, a penúltima é a número 2 e a antepenúltima número 3.
1)      Com o enunciado “As férias acabaram”, o movimento postou uma arte em forma de cartaz para dizer à população que o grupo estava desarticulado no período das férias até o início do ano, mas que voltará a movimentar a cidade.
2)      Uma página do jornal Estado de Minas escaneada tráz uma notícia para os belorizontinos: o prefeito anuncia que as obras do BRT muito anunciadas pela prefeitura, não serão entregues no fim de 2013 como estava previsto. Além disso, a postagem divulga também a segunda parte da notícia, que mostra como o atraso nas obras também pode ser uma preocupação da BHTrans – empresa que gerencia o transporte em BH.
3)      De forma exaltativa, há uma divulgação de um grande ato realizado na cidade no dia 8 de março – dia internacional de luta das mulheres.
As três últimas postagem ilustram o objetivo do grupo ao postar no blog. Através dessa ferramenta, o movimento leva sua política para as pessoas, incentivando a ocupação dos espaços públicos, com a divulgação do ato no dia 8, por exemplo, mostrando a população como o prefeito engana e não está comprometido com os interesses públicos, como ilustra a notícia sobre o atraso nas obras do BRT. É possível perceber também na postagem 2, a expressão da concepção antineoliberal quando é divulgada a preocupação da BHTrans sobre as obras, na medida que essa empresa monopoliza o transporte que deveria ser público em Belo Hozitonte. Essa é uma das postagens no blog que não deixa o posicionamento político do grupo de maneira explicita, uma vez que não há texto, apenas a notícia do Estado de Minas. 
Além de informar e transmitir sua política, o movimento também divulga suas atividades no intuito de mobilizar a população, como pode ser percebido na postagem do “fim das férias” que indica a rearticulação do MLF.
Analisando essas três postagens e outras, surge a maior descoberta dessa análise. É possível perceber que as postagens no blog são basicamente por via de notas que tem um caráter de divulgação. Em relação ao facebook (como veremos adiante), essa ferramenta é mais informativa e explicativa, mas as postagens no blog não são aprofundadas, o que indica que o blog tem a função de divulgar informações e atividades apenas.
O facebook
O facebook tem uma vida mais ativa em relação ao blog, com mais postagens em menos tempo, além de propiciar maior interação do e com o público, através dos comentários, compartilhamentos etc. A partir dessa perspectiva, é possível perceber que existe mais interação do publico entre si, ou seja, pessoas que curtem a página entre elas mesmas, do que uma interação com a página, já que há poucas respostas a comentários por parte da própria página do facebook.
 Também para facilitar a análise dessa ferramenta, o facebook foi analisado a partir de suas três últimas postagens, que estão enumeradas da mesma maneira.
1) Compartilhamento de uma matéria do Estado de Minas sobre a dengue, onde esclarece que a prefeitura pouco está fazendo para combater o surto dessa doença nos últimos meses. Ao compartilhar a matéria o movimento faz um comentário: “A PBH colaborando com o mosquito, mas o cidadão...”
2) Compartilhamento da divulgação da comemoração do aniversário de 4 anos da ocupação Dandara organizada pelas Brigadas Populares em Belo Horizonte.
3) Compartilhamento da divulgação de uma audiência pública a ser realizada na Câmara Municipal de BH para discutir a situação da arborização da avenida Bernardo Monteiro.
Primeiramente, é relevante comentar que todas as postagens no facebook estão datadas de 10 de Abril, isso evidência como a dinâmica da página no facebook é rápida, justamente porque é uma ferramenta que possibilita muitos compartilhamentos, comentários etc. Além disso, todas as postagens foram compartilhadas de alguma página ou um link, o que indica que a pessoa que posta não precisa ter o trabalho de escrever sobre, ou mesmo que o texto seja aprovado em reunião ou listas de e-mail, como geralmente acontece nos movimentos sociais.
Para além de analisar as postagens como mais dinâmicas e livres, é possível compreender a política do movimento expressa nas mesmas, quando critica a prefeitura na postagem 1, por exemplo, e faz um comentário que ironiza o fato da prefeitura ser negligente com o problema da Dengue e o cidadão que está sendo afetado por esse problema é culpabilizado (vale lembrar que muitas vezes o movimento utiliza da ironia e do humor para criticar o prefeito). Já as postagens 2 e 3 fazem parte da política consciente do MLF de divulgar outros movimentos, as situações das ocupações urbanas das cidades e a participação política do cidadão através das vias institucionais também.
O facebook é utilizado pelo grupo como uma ferramenta de divulgação dos eventos e informações políticas que interessam a cidade. O movimento aposta que essa divulgação é fundamental para incentivar a participação política da população e a ocupação dos espaços públicos de BH. Mas, pelo fato do facebook ser uma ferramenta geralmente usada para esse fim e pelo contato que já tínhamos com a página do MFL, a análise foi uma experiência importante, mas a conclusão não foi uma descoberta como o blog. 

3 comentários:

  1. Isabella e Luísa, achei muito pertinente a subdivisão da análise de vocês em campos específicos para cada rede social. Nos estudos contemporâneos sobre as interfaces entre comunicação e política, há uma preocupação de se compreender as singularidades e efeitos particulares das redes sociais no sistema político, o que é trabalhado por vocês. Pessoalmente, penso que vocês poderiam continuar estudando o facebook, que é uma rede de visibilidade e preocupação acadêmica crescentes.

    ResponderExcluir
  2. Achei muito pertinente a comparação entre a dinâmica do Facebook e do blog, realmente os dois meios têm dinâmicas e objetivos distintos, e no caso do Fora Lacerda, ambos são de extrema importância. Apesar da análise ter sido bastante completa, acho que vocês poderiam ter focado um pouco mais em discutir como essas diferenças entre o blog e o facebook afetam o contato com o leitor e a interpretação. Além disso, fiquei um pouco confusa com as datas dos textos analisados, já que tanto o blog quanto a página do facebook apresentam outras publicações mais recentes.

    ResponderExcluir
  3. (ah, só mais um detalhezinho: em alguns lugares vocês escreveram MLF no lugar de MFL)

    ResponderExcluir