terça-feira, 14 de maio de 2013

MGTV Perfil: serviço X autopromoção #2

por Adélia Oliveira, Cristiane Duarte, Marlon Henrique Souza, Melissa Neves e Victor Lambertucci


    O MGTV promove a marca de um jornal próximo da comunidade. Dois quadros do telejornal foram criados justamente com esse propósito. O “Você no MGTV”, no ar desde 2009, abre espaço para que os próprios cidadãos se tornem repórteres e mostrem os problemas de sua região, enviando vídeos gravados por eles mesmos ao programa, fazendo alguma reclamação, reivindicação ou sugestão. Depois de selecionados, os vídeos são exibidos na televisão e a produção do programa cuida de entrar em contato com os responsáveis pelo serviço ou problema noticiado pelos cidadãos e dar um feedback aos telespectadores. No mesmo caminho, o projeto “Parceiro do MGTV”, apresentado ao público em dezembro de 2012, tem como objetivo fomentar a maior participação de telespectadores provenientes da regiõe metropolitana de Belo Horizonte, como Betim e Contagem, além de três aglomerados da capital: Santa Lúcia, Serra e Pedreira Padre Lopes. A diferença é que os interessados participaram de uma seleção e terão a assistência do canal para produzir conteúdo. Este último ainda não está no ar.

    A ideia segundo os idealizadores do  “Parceiro do MGTV”, que já está em prática em outros estados como Rio de Janeiro (RJTV) e São Paulo (SPTV), é que os novos colaboradores sejam responsáveis por trazer à tona não só problemas, mas histórias dessas regiões de BH e região que geralmente têm pouca voz dentro dos jornais locais. Ao mesmo tempo em que se percebe a prestação de serviço e a responsabilidade social cultivados pela empresa, é possível constatar a autopromoção do jornal, uma vez que existe uma grande exaltação em torno do fato de que o programa mineiro é pioneiro nesse tipo de quadro, no qual as matérias são elaboradas por pessoas que vivem nos locais que representam e conhecem as questões que precisam ser abordadas. Além de se destinar muito espaço durante as edições para a divulgação do quadro, feita em peso antes mesmo dele ser colocado em prática.


   O texto do jornalista Maílson Ramos (disponível em http://migre.me/eycqr), intitulado “Jornalismo ou publicidade” fomenta essa discussão, na medida em que a análise de Maílson trata da autopromoção na TV Globo de forma bastante incisiva. A reportagem postada no Observatório da Imprensa (UNICAMP) não mede as palavras e afirma que já não é possível distinguir jornalismo e publicidade nos telejornais da emissora, exemplificando sua afirmação com o episódio da mudança de apresentadora no Jornal Nacional, assunto que ganhou um bloco inteiro da edição do dia. A crítica incide no fato, ressaltado pelo autor, de que o principal canal aberto do país estaria pecando ao privilegiar a autopromoção em vez de abrir espaço para a prestação de serviço e para notícias que realmente importam. Outro exemplo pontuado por Maílson Ramos é o tempo destinado à divulgação dos prêmios conquistados pela Rede Globo, que têm lugar garantido no espelho dos telejornais da emissora.
    No produto jornalístico em questão (MGTV), a situação não é diferente. A autopromoção também aparece frequentemente nas edições do programa, utilizado para divulgar projetos - como os citados anteriormente -, realizações e parcerias da TV Globo Minas. Quem assiste ou já acompanhou o jornal vai se lembrar facilmente da frase “Esse projeto é uma parceria da Rede Globo com...” ou “Essa é uma realização da TV Globo Minas!”. Dizer que a fronteira entre o discurso jornalístico e o publicitário se confundem a ponto de comprometer a credibilidade e coesão do jornalismo na Globo pode ser um pouco exagerado, mas que a autopromoção é frequente e por vezes se sobrepõe à veiculação de fatos mais relevantes é irrefutável.

(Clique para ampliar)

    É clara a busca pela fidelização de novos telespectadores num jornal diário, uma vez que existe a demonstração de uma preocupação com o tratamento do maior número de regiões possível. Muitas, que até então não tinham nenhum tipo de destaque, a partir de agora passam não só a ter foco em discussões, mas ganham também o poder de manifestação de seus interesses, que serão tratados a partir de pontos de vista internos. Esse novo aspecto que quadros como o “Parceiros do MGTV” é sim uma forma de estreitar o contato com o telespectador, mas também uma maneira de aumentar a abrangência do programa na capital mineira. E, indo um pouco mais além, se pensarmos na estrutura e nos recursos necessários para isso, colocar uma câmera e um microfone na mão dos cidadãos é mais fácil que dispor de novas equipes de reportagem e enviá-las periodicamente para as comunidades, o que aliás correria o risco de produzir uma visão afastada do cotidiano daquela região.
    É válido afirmar novamente que a aproximação com a comunidade por parte do telejornal local analisado é uma intenção explícita. E dar a voz aos cidadãos é claramente uma forma de fazê-la. Os projetos são interessantes e vem tendo a adesão da população, mas, por trás do discurso, percebem-se duas estratégias tangentes: a de literalmente tapar alguns buracos na área de abrangência do MGTV, que não consegue cobrir toda a extensão cidade diariamente; e, obviamente, a de conquistar o público que participa, ou seja, uma estratégia de publicidade. É preciso salientar aqui que não há nada de errado em uma empresa que se aproveita dos seus feitos para ganhar a “clientela”, aliás, o slogan da padaria do bairro é afirmar que o melhor pão da região é vendido ali, e claro que, para o pipoqueiro da esquina, a melhor pipoca é a vendida por ele. A intenção aqui é ampliar o olhar para projetos que além de estarem vinculados à responsabilidade social e prestação de serviço, são produtos de uma empresa que precisa vender seu peixe, e o  faz.


    Ficam alguns de nossos questionamentos em aberto: Como é feita a seleção do que vai ao ar, há realmente um equilíbrio na contemplação de regiões? Há áreas que são deixadas de lado? Os problemas abordados nos quadros são solucionados, ou melhor, a utilidade pública desses quadros é efetiva?

   Como parâmetro para elaboração de interpretações sobre o tema tratado nesse post, um mapeamento feito pelo grupo dos locais de MG contemplados no quadro Você no MGTV no ano de 2013. Navegando pelos mapas, é possível perceber as regiões que estiveram na tela do quadro “Você no MGTV” de Janeiro a Março de 2013. 


Clique no link e veja os mapas referentes a cada mês:





9 comentários:

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  2. Pessoal, lendo o post de vocês pensei na possível construção de um diálogo com o post postado por mim e pela Amanda nesta semana. Por se endereçar às diversas comunidades visando o estabelecimento de um contato mais próximo às necessidades do leitor, percebemos, realmente, que há uma mudança na dinâmica tradicional do jornalismo em veículos como o MGTV. Em nosso relatório, utilizamos como base a tese "Violência e imprensa em Minas Gerais: uma reprodução da sociedade dominante", de Géllison Ferreira da Silva. Esse autor não aborda diretamente o conceito de publicidade, mas faz distinções interessantes entre jornalismo popular e sensacionalismo.Assim, depois de ler o post de vocês, fiquei pensando como a guinada do jornalismo em direção à publicidade poderia se relacionar com os conceitos de sensacionalismo e jornalismo popular....

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  3. É bem bacana ver a criação desse espaço de inserção dos cidadãos "comuns" no jornal, pois além de ser uma ferramenta de utilidade pública, é possível perceber como cresce o interesse que as pessoas tem em assistir o programa,e consequentemente, o aumento da audiência: as pessoas se sentem mais representadas e sentem que o jornal pode ser uma meio de resolução de seus problemas. O MGtv passa a ter muito mais apelo diante do público.

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  4. Meninos, gostei da análise de vocês. Os aspectos da autopromoção que vocês levantaram é importante para não ser ingênuo e pensar que a presença dos telespectadores na TV não é apenas para "dar espaço" pra quem está em casa. Essa estratégia serve muito para os telespectadores de certa forma se reconheceram na tela, e acontece um estreitamente entre o mundo da televisão e o mundo de quem assiste. É importante também ressaltar que esse espaço que as pessoas ganharam na televisão, mesmo que ainda tenha algumas restrições, acontece na TV como um todo e vai além dos programas jornalísticos.

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  5. Gostei bastante da análise e o mapa sintetiza bastante a análise da pesquisa. Em cada mês, o jornal se desloca de Belo Horizonte e região metropolitana duas vezes. Isso em um estado com mais de 800 municípios. Sem dúvida é preciso fazer muito mais para se afirmar como um jornal que respeita as diversidades regionais e cumpre uma função de dar voz a comunidade.

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  6. Achei o mapa um ótimo recurso para ilustrar os lugares contemplados pelo Você no MGTV! Foi muito mais eficiente do que se vocês tivessem apenas listado os lugares. Concordo com a Natália quando ela diz que esse deslocamento de 2 vezes por mês em uma estado com mais de 800 cidades é muito pouco! No entanto, temos que levar em conta que várias cidades de Minas têm os jornais das filiais regionais da globo, o que talvez justifique um pouco esses números. Mas na minha cidade (Nova Era), por exemplo, assistimos ao MGTV de BH e muito raramente vemos notícias sobre as cidades das redondezas (notícias da minha cidade eu nunca verei mesmo, já que lá tem 18 mil habitantes). "Não há nada de errado em uma empresa que se aproveita dos seus feitos para ganhar a 'clientela'", mas será que os feitos são tão admiráveis assim?

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  7. Eu vejo com bom olhos essa inserção de materiais produzidos pelos telespectadores nos telejornais ocais. Só que sinceramente eu não vejo tanta diferença do "VC no MGTV" para o "Parceiro do MGTV". Claro que no "Parceiro" teve um concurso para escolher um só representante e tal mas será que o produto final dele seria algo tão diferente do "VC"? Talvez no próximo post poderia caber uma comparação desses 2 formatos colaborativos.

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  8. Acho muito interessante estes quadros colaborativos em telejornais. Essa coisa de dar voz as pessoas nas comunidades me lembra muito o "proteste já" do CQC, da Band, que por mais que tenha um viés humorístico sempre abora temas relevantes.
    Em relação a essa questão de publicidade e jornalismo é realmente algo complicado, mas que por ser tão comum hoje em dia acaba passando despercebido. O prêmio "bom exemplo", que conta com o apoio da Tv Globo Minas é um ótimo exemplo disso. Era citado constantemente nos jornais da emissora e nos comerciais. As iniciativas são interessantes, porém tem muito este aspecto publicitário que vocês citaram no texto.

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  9. Bom, acredito que isso vem muito da ideia da inserção das novas classes sociais na esfera da mídia. Por mais que já exista esta ideia, ela é um pouco recente se comparada à outras interações na TV e acho que este é um recente desafio da Rede Globo na relação com seu novo público.

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