terça-feira, 14 de maio de 2013

Produção Cultural #2 - Rafael França

Depois de compreender os meandros de uma produção colaborativa e de baixo orçamento, continuamos nossa empreitada para entender como funcionam as empresas de produção cultural no mercado mineiro. Nessa quinzena contamos com a ajuda preciosa do produtor Rafael França, que já atua no cenário há mais de oito anos, trabalhando em conjunto com as maiores empresas da capital.

Marcamos uma reunião com Rafael, que desde o começo foi extremamente solícito, sem criar problemas ou empecilhos. Nos encontramos com ele em um shopping da cidade e conversamos por cerca de uma hora. Ele nos explicou em linhas gerais o que envolve uma produção de grandes eventos e o serviço que sua empresa, a W3 Entretenimento (Twitter), presta nesse mercado.


Começo

Para Rafael, o início foi há mais de oito anos. Fez contatos com produtoras que atuavam na época e começou a ser contratado por evento, adquirindo uma grande experiência. Foi funcionário fixo por um tempo (em grandes produtoras, como a Malab e a Nó de Rosa) até conseguir fundar sua própria produtora, a W3 Entretenimento. Nesse meio tempo, também fez contatos importantíssimos em São Paulo e hoje é o representante da gigante Casa da Música, em BH.


Parceiros 

Segundo Rafael, hoje em dia nenhuma produtora possui equipe suficientemente grande para suprir as necessidades de uma mega produção. Por isso, existe a demanda de firmar parcerias com empresas menores, como a W3, que de certa forma prestam um serviço às maiores, como a Nó de Rosa ou a Malab. Esses grandes produtores repassam setores inteiros do evento para cada parceiro, deixando aquela parte sob total responsabilidade do outro. São repassados, por exemplo, a portaria, a segurança, a montagem estrutural, dentre outros.

Diversos eventos de grande porte, principalmente aqueles de artistas internacionais e que fazem parte de uma turnê brasileira, são feitos em parceria com produtoras gigantes, de São Paulo ou do Rio. Foi o caso, por exemplo, do show do Paul McCartney (parceria da Nó de Rosa com a PlanMusic) ou do Robert Plant (Malab com XYZ Live).

Deu para ver como a palavra “parceria” é importante nesse ramo, não é?


Sobre o mercado 
Ao questionarmos Rafael sobre a situação do mercado de produção cultural em Minas Gerais, ele foi direito: já esteve melhor. Segundo ele, no ano passado poderia ser considerado perfeito. Nos últimos tempos, porém, a explosão de produtoras na cidade tem gerado conflitos na agenda de eventos, o que esvazia a plateia. 

Um outro percalço, já conhecido por todos, é a falta de locais ideais para a realização de shows em Belo Horizonte. O problema foi potencializado nos últimos meses pelo arrendamento do Chevrolet Hall para a produtora Time 4Fun, que cobra valores altíssimos pelo aluguel da casa para eventos que não sejam de produção própria. Dessa forma, as opções ficaram ainda mais escassas. Rafael mencionou que o governo possui verbas e projetos para a construção de locais de entretenimento em geral, porém não parece que isso acontecerá tão cedo. 

Chevrolet Hall, uma das poucas opções de casas para realização de shows em BH
Por outro lado, ele apontou que, em um panorama geral, o Brasil se encontra em uma situação favorável no que diz respeito às rotas de shows internacionais. Segundo Rafael, a crise econômica de 2009 fez com que muitos artistas europeus e americanos passassem a olhar para a América do Sul como uma válvula de escape, incluindo esses países em suas turnês.


Nossas impressões

Ainda que em apenas uma hora de conversa, Rafael nos passou um conhecimento enorme acerca do campo da produção em geral. Ele nos deu uma noção do que é o trabalho de um produtor e nos mostrou que dentro do contexto de produção cultural há uma gama de áreas em que podemos atuar.

Esse primeiro contato com o Rafael nos deixou, pessoalmente, encantadas. Custamos a sequer conseguir esconder o sorriso e as expressões de felicidade. O modo como ele contou suas experiências – acerca de diversos shows, com detalhes minuciosos – e a forma como ele nos tratou fez com que passássemos a acreditar, ainda mais, que trabalhar com produção cultural não só é o que queremos, mas, também, é algo possível de ser alcançado.

Por fim, Rafael nos convidou a acompanhar uma produção cultural, bem de perto, na próxima semana. Esperamos que isso seja concretizado para abordarmos essa temática no próximo relatório.

9 comentários:

  1. Meninas, muito legal o contato que vocês estão tendo com as produtoras e é bom ver que eles estão sendo bem receptivos com vocês. É realmente uma pena a falta de lugares físicos que recebem shows relativamente grandes em BH. Além do Chevrolet Hall, tem também o Expominas, que no ano passado recebeu o show do Robert Plant e este ano já possui outros eventos marcados, mas acredito que o espaço não é o mais adequado pela acústica do som e pelas dificuldades de acesso, já que possui poucas entradas, causando tumulto nas entradas e saídas. Ainda assim, considero que este ano tem funcionado como uma "porta de entrada"de BH no itinerário de shows grandes, eventos que há tempos não tinham essa dimensão aqui, como o show do Elton John e do Paul McCartney.

    ResponderExcluir
  2. Dá quase pra imaginar a reação de vocês depois dessa conversa! Assim como Nina, acredito que esse ano, ainda que não seja considerado perfeito pelo Rafael, marque a entrada de Bh no circuito dos grandes shows. É claro que a estrutura precisa melhorar e os problemas devam ser minimizados, mas é um avanço tão grande já não precisar ir ao rio ou à São Paulo para ver um show internacional!
    Só não concordo muito com o que ele disse sobre "o Brasil se encontrar em uma situação favorável no que diz respeito às rotas de shows internacionais". Festivais como o SWU foram cancelados e shows da Madonna e da Lady Gaga, por exemplo, tiveram um pouco de dificuldade na venda dos ingressos. Esta questão é maior do que ele pareceu expor.

    ResponderExcluir
  3. Nossa, muito legal o fato de voces estarem sempre conseguindo um contato legal pra produzir os relatórios! Fica muito difícil em um projeto de prática profissional não conseguir essas visitas né! Acho que seria legal para os curiosos (como eu) se ele falasse um pouco dos bastidores e das relações entre as produtoras: se tem fofocas, se alguma produtora já roubou o show/local da outra, as produtoras que mandam mais no pedaço...

    ResponderExcluir
  4. Muita sorte encontrar alguém tão receptivo e disposto a ajudar, isso é mesmo fundamental para um trabalho bom.
    Belo Horizonte tem muitos problemas a serem resolvidos para estar mais receptível a shows grandes, mas acho que é justamente recebendo grandes nomes, apesar dos percalços, é que a coisa vai funcionando, vai exigindo melhoras, até mesmo das produtoras que passam a ter mais concorrentes e passam a oferecer um serviço melhor á todos.
    Só de ler deu vontade de participar da conversa e saber mais como funciona estas produções e, por isso, concordo com a Nathália sobre a vontade de saciar estas curiosidades, afinal, quem pretende trabalhar no ramo tem que aprender a lhe dar com isso.

    ResponderExcluir
  5. Em comparação com Rio ou São Paulo, sempre temos a impressão que a produção cultural de BH é um pouco atrasada, mas acredito que, aos poucos, estamos melhorando.
    Empresas com grande conhecimento e bons contatos, como a W3, que vocês conseguiram conversar, ajudam muito nessa evolução.
    É muito bom conhecer o lado das produtoras (e não só das demandas) a partir do trabalho de vocês. Gostei muito.

    ResponderExcluir
  6. Excelente post! Além de tudo informativo.
    Sugiro que no próximo relatório/visita vocês entrem um pouco no funcionamento das leis de incentivo à cultura.

    ResponderExcluir
  7. Muito legal os contatos que vocês estão conseguindo! Fiquei com vontade de ter escolhido o tema de vocês! haha Deve ser mesmo inspirador ver que pessoas bem sucedidadas no ramo que vocês querem seguir profissionalmente são acessíveis e prestativas.
    A falta de locais é realmente um problema em BH, já que assim fica complicado produzir determinados shows...
    Fiquei pensando sobre o que ele disse sobre a explosão de produtoras na cidade ser prejudicial. Será que para nós, o público, isso não é bom? Assim podemos ter acesso a um maior número de eventos. Mas a questão das platéias ficarem vazias é complexa, já que se todos eventos ficarem vazios, todos vão parar de acontecer... Enfim, é uma questão que pode render uma discussão bacana!

    ResponderExcluir
  8. Muito legal a experiência de vocês, gente. É uma área sobre a qual eu nunca tinha refletido muito, mas está bem interessante acompanhar como vocês estão se "infiltrando" no mercado. O contato com esses profissionais realmente é muito importante por demonstrar uma visão prática de um trabalho cujas funções não temos bem definidas, pelo menos, eu não tenho. Por isso tem sido muito informativo perceber que há toda uma parcela do mercado de comunicação que eu não conhecia. Espero que vocês consigam ter essa experiência de acompanhar um evento de perto, ou então conseguir sentar com o pessoal de uma dessas grandes produtoras mencionadas. O percurso de vocês transparece bem no texto.

    ResponderExcluir
  9. Adoro o tema de vocês! Acredito que é muito gratificante ver pessoas da área conseguindo realizar bons trabalhos. Além disso, apesar dessa explosão de produtores na cidade, penso que a cidade ainda sente falta de grandes eventos e shows, como o do Paul McCartney. Gente, já estou curiosa pelo último post de vocês :)

    ResponderExcluir